As principais “maras”, como são chamadas as gangues em alguns países da América Central, ofereceram ao governo de El Salvador uma trégua por ocasião da beatificação do arcebispo dom Óscar Arnulfo Romero, que acontece no próximo dia 23 de maio. “Este é o presente que, na sua beatificação, queremos dar a dom Romero: o nosso arrependimento e pedido de perdão à sociedade por todo o dano já causado”, afirmaram os grupos na última quinta-feira à noite.
Os porta-vozes dos grupos criminosos pediram apoio a um plano de reabilitação e reinserção social dos seus membros: “Tomamos a decisão de responder afirmativamente ao chamamento público realizado por um dos lutadores mais incansáveis pela paz em El Salvador: o senhor Raúl Mijango, que apresentou ao país uma proposta de agenda para a paz com 26 pontos, 13 a ser abordados por nós e os outros 13 pelo Estado, governo e sociedade civil”.
As “maras” pedem que o executivo “não obstrua nem sabote este processo, mas facilite as condições que nos permitam avançar mais rápido no tempo e nos compromissos que devemos assumir perante a sociedade”.
Em comunicado, as gangues declaram que “o país atravessa uma situação difícil (...) Como de costume, é às ‘maras’ que se atribui a gravidade de toda a situação, com o perverso propósito de encobrir e proteger outras estruturas e pessoas que praticam atos delitivos e que, diante da sociedade, se apresentam como pessoas de bem”.
“As ‘maras’ tiveram de recorrer a formas ilícitas para ganhar a vida, porque nós e as nossas famílias somos os historicamente esquecidos e marginalizados pelas gestões governamentais (...) Nossa origem está nas comunidades mais empobrecidas, nos lares desarticulados pela emigração, pela violência e pela irresponsabilidade paterna ou materna; é a nós que são negadas oportunidades de educação, saúde, trabalho, lazer e a única coisa que nos é oferecida é a repressão, a cadeia e a morte”.
“Como mostra de compromisso e boa vontade, cessaremos desde já todo tipo de ataques. Mais ainda: não faremos uso nem do elementar direito à defesa. Só pedimos que parem os abusos de autoridade e as ações de extermínio que, em sua maior parte, estão sendo apresentadas como rixas entre gangues, quando, na realidade, o que acontece é que levam os nossos membros das suas casas e os assassinam, simulam enfrentamentos e colocam armas na mão dos mortos para justificar os massacres. Muitos lamentaram a morte de policiais, mas se calaram ou se alegraram com o extermínio de mais de cento e quarenta membros de ‘maras’ só no mês de março deste ano”.
Os grupos pedem a intervenção de novos agentes da sociedade civil: “Para dar confiança ao desenvolvimento do processo e evitar que desconfiem de segundas intenções de nossa parte, pedimos que o debate privado que realizaremos no interior dos centros penitenciários seja monitorado por uma entidade de grande prestígio e reconhecimento internacional e que já conta com uma missão em El Salvador: o Comitê Internacional da Cruz Vermelha e os bispos e pastores coordenados pela Iniciativa Pastoral pela Vida e pela Paz, IPAZ”.
As autoridades não se pronunciaram ainda, mas o governo tem mostrado uma posição firme no combate à delinquência, incluindo a criação de batalhões de resposta imediata. O presidente Salvador Sánchez Cerén e o ministro de Justiça e Segurança Pública, Benito Lara, afirmaram em diversas ocasiões que não voltarão a negociar sob nenhuma condição.
Da trégua entre gangues iniciada em 2012 com a aceitação tácita do governo e o apoio da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da Igreja, não resta mais nada atualmente. A trégua durou 15 meses, período em que a taxa de homicídios caiu de quinze para cinco assassinatos por dia, mas as extorsões e sequestros continuaram. O abandono do acordo em 2014 voltou a elevar as mortes violentas para 10 a 12 ao dia, com tendência de crescimento.
O país centro-americano de seis milhões de habitantes é um dos mais violentos do mundo, com mais de 60 homicídios por 100 mil habitantes segundo os dados das Nações Unidas.
Fonte: Zenit.
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