Reflexões de Paulo Jacobina, Procurador Regional da República e Mestre em Direito Econômico. Pleitear a devolução da Igreja para os católicos não significa, de jeito nenhum, descuidar do grande diálogo com o mundo e com a cultura contemporânea
Há um momento oportuno, com a renovação na direção da CNBB, para que finalmente soltemos um grito que está preso há muitos anos nas gargantas dos católicos do Brasil: precisamos da CNBB cada vez mais para os católicos. Precisamos acabar com este vago desconforto que os católicos mais simples, os que acreditam no Credo e tentam viver como manda a Igreja, sentem quando entram em muitas paróquias, sedes diocesanas e outros órgãos eclesiais católicos, de que estão entrando em centros de política partidária de esquerda, altamente laicizados.
Pode parecer pretensioso que um leigo se ponha a externar propostas de caminhos ou reformas na vida religiosa da Igreja; mas uma vez que nossos Bispos estão promovendo movimentos de rompimento constitucional na vida política, coletando assinaturas para reformas políticas visivelmente de esquerda e inclusive propondo a instalação de assembleia constituinte para modificar a Constituição Federal no meio da crise econômica e política mais séria que o Brasil já teve desde a redemocratização, e motivada pelas más opções ideológicas que estão presidindo a vida pública no Brasil - tomadas exatamente pelos grupos que serão beneficiados pela reforma política que a Igreja brasileira agora promove - essa fronteira fica, digamos, borrada: se os clérigos empenham seu precioso tempo em complicar os assuntos políticos, resta a nós, leigos, arcar com a situação um tanto desorganizada que se apresenta na nossa vida religiosa negligenciada. É preciso rezar. Alguém tem que fazê-lo.
Compreendemos que, no período da ditadura militar e da empolgação com uma leitura “descontinualista”, ou "de ruptura", do Vaticano II, e com a empolgação com uma “teologia da libertação” que nasceu na Alemanha e na URSS e foi trazida para a América Latina por alguns teólogos que estudaram ali no final da década de sessenta e na década de setenta, como se fosse uma “teologia latino-americana”, mas que na verdade é uma ideologia estrangeira que apenas tirou Jesus do centro da fé, retirando da Bíblia e da Tradição sua autoridade de Revelação, para substituí-los pelo socialismo, pelo “Pobre” e “Oprimido”, e por Marx e Gramsci, tenhamos perdido uma parte da Igreja brasileira para os esquerdistas, marxistas e socialistas. Isto decorreu, em grande parte, da circunstância política de então e, muitas vezes, da omissão dos bons católicos. Não se pode negar que alguma coisa boa ficou. Mas muita coisa péssima, também. Mas ainda há tempo de mudar.
É necessário iniciar uma grande corrente de oração, em frente às cúrias diocesanas, sedes de institutos religiosos e da CNBB ou mesmo paróquias pelo Brasil inteiro: a Igreja Católica de volta para os católicos! Seria talvez o caso de reunir semanalmente um grupo de leigos para rezar o terço nesta intenção, nas portas desses lugares, ou seja, cumprir o pedido do Papa Francisco de que todos rezemos pela fé dos nossos padres e bispos. É preciso que os bons padres e principalmente os bons bispos vejam que nós, povo católico, queremos que eles se posicionem mais corajosamente frente àqueles que já não têm fé, mas apenas querem usar a Igreja para fazer política ideológica. Eles podem parecer fortes, podem parecer maioria, mas não são. Estamos do lado de vocês: desafiem-nos com a verdade cristã! Deixemos de lado o engajamento político eclesial socialista, proponham-nos a verdadeira fé cristã, e sua verdadeira doutrina social. Quanto mais resgatarmos a verdadeira fé, mais gente haverá com vocês, do lado de Deus e da fé católica. E mais nossos pobres serão amados e nossos ricos, evangelizados. Ousemos retomar nossa identidade!
Pleitear a devolução da Igreja para os católicos não significa, de jeito nenhum, descuidar do grande diálogo com o mundo e com a cultura contemporânea, nem de abandonar o fervor missionário e evangelizador, nem de diminuir eventuais esforços de diálogo ecumênico e inter-religioso. o problema é que, muitas vezes a pretexto de diálogos assim, nós católicos perdemos a noção de quem somos. Vemos alguns de nossos pastores, ou seus delegados, a título de "diálogo com o mundo contemporâneo", tornarem-se algumas vezes tão mundanos quanto o mundo. A título de "diálogo com a cultura atual", renegarem o legado da Tradição católica. Ou a título de diálogo ecumênico, tornarem-se mais protestantes que os protestantes. para que o diálogo entre os católicos e estas realidades aconteça realmente, é preciso que do lado dos católicos haja verdadeiros católicos. Dialogar não significa renunciar nossa identidade, nem encher a Igreja de gente sem fé. Se não, não se trata de diálogo, mas de renúncia e destruição da própria Igreja.
Assim, como proposta de intenções a serem incorporadas nessa grande reza do terço em prol da fé católica em nosso país, sugerimos as seguintes:- Que os sacerdotes estejam disponíveis aos fiéis leigos para as celebrações sacramentais, e que aconselhem o povo de Deus a frequentar a missa e educar seus filhos na fé católica.
- Que os sacerdotes voltem a estar disponíveis para confessar o povo, e ensinem aos leigos que a confissão sacramental, aliás a participação efetiva na vida sacramental como um todo, nunca foi revogada pelo Concílio Vaticano II.
- Os sacerdotes voltem a usar trajes eclesiásticos, conforme o direito canônico.
- Os religiosos voltem a rezar, e a usar os hábitos estabelecidos pelas respectivas regras de vida. Em especial os de vida ativa.
- As escolas e universidades católicas voltem a ser confessionais, e não apenas vagamente “espiritualizadas”.
- Os professores e formadores de seminário ensinem aos seminaristas a reta fé cristã, exposta em documentos como a “Dominus Jesus” e a “Libertatis Nuntius”, e sejam, caridosamente, impedidos de usar autores que solapam e destroem a fé católica, já notificados ou não pela Congregação da Doutrina da Fé. Que todo marxismo, toda teologia liberal protestante e todo enfraquecimento das normas de castidade e de disciplina sacerdotal seja banido dos seminários.
- Que a liturgia da Igreja tenha sua referência no Missal romano atualmente em vigor no mundo inteiro, revisando-se as traduções aberrantes como por exemplo falar “Ele está no meio de nós” quando toda a Igreja do mundo inteiro, durante os últimos dois mil anos, falou “et cum spiritu tuum”.
- Que invencionices locais bizarras, como o uso de música popular, as “respostas às orações eucarísticas” e a substituição de textos canônicos por poemas e outros textos não-bíblicos sejam proibidos. Que se eliminem as “homilias” paralelas feitas por “apresentadores” e “comentaristas” da missa que mais parecem os verdadeiros presidentes das celebrações, e que introduzem ritos descabidos e invencionices que descaracterizam o verdadeiro rito litúrgico, a ponto de o fiel desavisado duvidar se está mesmo na missa.
- Que se esvaziem os presbitérios das multidões de leigos uniformizados, devolvendo o centro da vida litúrgica para os sacerdotes e o centro da vida social e política para os leigos. Pela reversão da tendência de "clericização dos leigos", juntamente com a tendência de "laicização do clero".
- Que os catequistas ensinem aos catequizandos a verdadeira doutrina católica, e não uma “sociologia das religiões” ou uma espiritualidade meio difusa estilo new age. Que os sacerdotes se comprometam com a catequese, e acompanhem efetivamente os catequistas leigos no seu dia-a-dia.
- Não se trata de fazer a missa voltar a ser celebrada em latim. Mas que a língua utilizada nas celebrações litúrgicas seja ao menos uma língua utilizada pelos seres humanos, deixando as línguas angélicas para as celebrações ocorridas nas esferas dos anjos.
- Que as homilias passem a ser de novo para a edificação das almas na fé e na moral, e não para a “luta social” ou para a promoção de um “ecumenismo” vago ou uma “religiosidade” abstrata.
- Que as editoras católicas publiquem a verdadeira doutrina católica, e sejam fortemente recomendadas a retirar de catálogo autores já notificados pela Congregação da Doutrina da Fé da Santa Sé ou das respectivas Conferências Episcopais dos países de origem.
- Que os Bispos voltem a ser nossos guias seguros de fé e moral em todas as dioceses.
- Que os marxistas, os ateus e os não-católicos em geral que atualmente compõem as “comissões de Justiça e Paz” no Brasil inteiro sejam convidados a se converter e sejam efetivamente evangelizados, inclusive encaminhados para viver efetivamente uma vida sacramental.
- Que as campanhas da fraternidade e as “vias-sacras”, bem como os documentos da CNBB, deixem de lado as categorias sociológicas da “opressão” e da “luta de classes”, e a ideia de que os “pobres”, e não Jesus Cristo, são o centro da fé, para refletir a verdadeira Doutrina Social da igreja existente no respectivo Compêndio.
- Que nossos bispos e padres deixem de ser “intelectuais orgânicos”, líderes políticos ou militantes sociais e voltem a ser bispos e padres católicos.
Esta relação é exemplificativa, mas mostra como poderíamos usar, construtivamente, a energia que hoje usamos para combater o projeto de reforma política desastrosa que está sendo gerada no seio da Igreja brasileira para fazer aquilo que, acredito, é o anseio de muitos: ter, no Brasil, uma Igreja Católica cada vez mais santa, para construir um povo brasileiro mais santo, mais feliz, mais livre e mais próspero de verdade. Sem Marx. Sem Gramsci. Com Jesus.
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