Quando conheceu Bergoglio?
Dom Villalba: Quando ele foi nomeado bispo em 1992, na paróquia de Flores, eu participei da sua ordenação. Ele assumiu o vicariato de Flores onde eu estava antes. Em 1999, eu fui para Tucumán. Naquele tempo os bispos me elegeram presidente da comissão que elaborou o documento 'Navegar Mar Adentro’, que convidava a assumir o apelo feito por João Paulo II. Este, foi aprofundado em Aparecida, e Bergoglio me apoiou muito.
O senhor trabalhou com o Papa?
Dom Villalba: Sim, porque Bergoglio foi presidente da Conferência Episcopal Argentina por dois mandatos e eu fui vice-presidente no primeiro. Foram seis anos nos encontrando mensalmente. Estávamos muito próximos, também viajamos juntos para Roma três vezes nesse período, visitando as Congregações, e fomos recebidos duas vezes por Bento XVI.
Nos entendemos muito. Ele é muito simples, sempre foi pastor, próximo das pessoas, isso não é novidade. Ele era assim, visitava as paróquias, os bairros, viajava de ônibus.
Quando ele fala dos problemas pastorais, muitas vezes, temos a impressão de que querem rotulá-lo ideologicamente. Certo?
Dom Villalba: Bergoglio nunca foi ideológico, devemos ter isso claro, ideológicos são os que o definem de direita, esquerda ou de centro. Ele sempre foi um homem da Igreja, com uma grande capacidade de discernimento, e, evidentemente, toda a espiritualidade inaciana o ajuda muito nisso. Um homem que consulta, pergunta, mas depois discerne e toma a decisão e quando decide é muito firme. Não é apressado, não resolver os problemas repentinamente, antes reza, medita, consulta, até que uma decisão, na certeza de que Deus está lhe pedindo aquilo.
O que mais impressiona no cotidiano de Bergoglio?
Dom Villalba: A simplicidade. É muito normal o que ele diz. E como Papa pede isso aos bispos e sacerdotes. Outra coisa, que é um dom, que marca, são aquelas frases como ‘o cheiro de ovelhas' que significa estar próximo e partilhar a vida com as pessoas.
E o Sínodo sobre a família?
Dom Villalba: O primeiro foi extraordinário, e em outubro haverá o segundo. Eu não participei, mas eu li tudo a respeito. Um marco do Papa foi que ele quis que os Padres sinodais falassem livremente, para expressar seus pensamentos, e isso é saudável. Eu acho que ele usou a expressão "dizer o que pensa" e claro, respeitar o pensamento de outro.
Em sua experiência pastoral, como Francisco está influenciando?
Dom Villalba: Na Argentina muito bem, não só no âmbito eclesiástico, mas todas as pessoas, muitos batizados e não praticantes de alguma forma estão voltando para a Igreja. Na Semana Santa Santa percebemos uma maior participação dos fiéis. Eles dizem 'Francisco fala claramente, nós o compreendemos, é um dos nossos’.
Este retorno é o início de uma conversão?
Dom Villalba: Muitos voltaram. No confessionário eu já vi. Era o que esperávamos, surpreendente, uma graça de Deus. Este domingo, em Roma, eu não consegui ver o Papa durante o Angelus, porque eu não consegui passar por tantas pessoas na Praça de São Pedro, eu fiquei do lado de fora, na Praça Pio XII.
Como o senhor recebeu a notícia do cardinalato?
Dom Villalba: Todos os domingos eu assisto pela televisão o Papa no Angelus. Devido à diferença de horário, na Argentina são 08:00 da manhã, eu assisto enquanto tomo o café da manhã. Eu sabia que haveria um consistório. Naquele domingo, o Papa primeiramente fez uma reflexão espiritual, em seguida, rezou o Angelus e, depois, leu a lista dos futuros cardeais. E eu ouvi o meu nome enquanto tomava mate. Eu não sabia de nada. E ele me telefonou às 6.
Francisco disse que em sua pessoa gostaria de reconhecer muitos pastores da Igreja...
Dom Villalba: Minha nomeação vai além de mim, é um reconhecimento também ao noroeste da Argentina e a Tucumán, por onde passa a corrente evangelizadora do norte, que veio de Lima. Uma das áreas mais pobres do país, duramente atingida pelo fechamento das usinas de açúcar na década de 60 e com isso todas as pessoas que lá trabalhavam. Ao mesmo tempo, uma área muito religiosa e que dá tantas vocações para a Igreja.
Fonte: Zenit.
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