quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
Cuba: dia da paz na catedral de Havana
Como de costume em cada dia primeiro de janeiro, foi celebrada na catedral de Havana, em Cuba, uma missa para ressaltar o apelo de Bento XVI em prol da paz mundial.
Este acontecimento me motivou a escrever algumas considerações sobre a paz, os cristãos e os crentes em geral, que quero compartilhar com os meus leitores habituais. Cheguei cedo ao espaçoso e belo templo habanero para me sentar nos bancos, porque se chegasse tarde seria obrigado a ficar de pé nos corredores lotados de fiéis, que, em número crescente, acorrem aos extraordinários cultos celebrados ali.
Esta lotação se repete tanto na catedral de Havana quanto em muitos outros templos cristãos, das mais variadas manifestações religiosas assentadas na Cuba de hoje, apesar das opiniões que teimam em não reconhecer a explosão de religiosidade e de sentimentos espirituais dos cubanos durante o extenso processo que vem desde a derrubada do mundo socialista e o fim da União Soviética até os dias atuais.
Também considero que essas manifestações acontecem apesar das campanhas de desprestígio contra o cardeal arcebispo de Havana e contra a hierarquia eclesiástica católica, em consequência de certos conceitos políticos direcionados contra a Igreja católica cubana em seu conjunto, com especial sanha por parte de uns e outros, em razão das suas ideias ateístas, dos seus critérios pessoais e até dos seus rancores ocultos, sem levar em conta que, na realidade, a Igreja é constituída pelo povo de Deus que tem fé, que a compõe e que participa dos seus cultos e experiências espirituais.
Eles ainda estendem seu desdém contra aqueles que, modestamente, sem causar danos a ninguém, levam à prática as suas crenças e os seus cultos. Menosprezam, enfim, a religiosidade dos católicos cubanos em seu conjunto, que, como pessoas e cidadãos, têm todos os direitos humanos de manifestar a fé e agir como parte da Igreja. Já escrevi outras vezes e hoje reitero: a Igreja não pode ser confundida só com a hierarquia, porque a Igreja é a assembleia do povo crente, coisa que não consegue ser captada pelos que se esforçam para difundir confusões favorecedoras do mais sutil divisionismo no meio da população.
Por outro lado, acho que, já faz alguns anos, falar sobre a paz se tornou uma constante referência das personalidades políticas e intelectuais nos seus discursos e intervenções públicas, para enfrentar os muitos conceitos e acontecimentos que a contestam.
Desta perspectiva, quero repetir o que nós, pacifistas das mais diversificadas crenças, ideologias e tendências políticas, econômicas e sociais, temos reiterado: a paz não é só a ausência da guerra; a paz é, acima de tudo, justiça social, equidade, estabilidade da família e rechaço dos rancores e dos ódios que inflam os mais variados âmbitos do nosso planeta, incluindo o espaço sideral, no qual já existem armas, satélites e outras engenharias tecnológicas capazes de superar as expectativas bélicas que até alguns anos atrás faziam parte apenas da ficção científica.
Para os cristãos, apesar de contingências de violência e de guerras realizadas pelos poderosos da terra em seu nome, a paz é um propósito essencial que faz parte da doutrina do amor que Jesus veio proclamar na Terra. E o evangelho constitui uma proclamação de paz: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra…” (Lucas 2, 14); “Em cada casa em que entrardes, dizei primeiro: Paz a esta casa...” (Lucas 10,5); “Bem-aventurados os que trabalham pela paz, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5, 9); “Eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz; não como a dá o mundo… Eu vou, mas retornarei a vós…” (João 14, 27 e 28), só para expressar algumas das mais específicas afirmações evangélicas pacifistas.
A respeito do evangelho e da sua cultura de amor e de paz, cito o que a Igreja católica cubana levanta no “Documento Final do ENEC” (Encontro Nacional Eclesial cubano), de 29 de maio de 1989: a igreja trabalha em prol de uma civilização do amor e “não pretende apresentá-la como alternativa política, o que extrapolaria a missão que lhe é própria, mas como uma opção ética e espiritual, que entra, esta sim, no terreno da experiência humana, em que a Igreja tem o dever de estar presente com sua vida e sua palavra, evangélicas e evangelizadoras. Sem pretensões exclusivistas e muito menos monopolizadoras, propõe, em diálogo franco e respeitoso, a sua visão do mundo, do homem e da convivência humana, para, em colaboração com homens e mulheres de diversos credos e ideologias, trabalhar em conjunto pela construção de um mundo realmente solidário, no qual os homens possam crescer como homens e se reconhecerem como irmãos”.
A partir destes conceitos, entre outros muito importantes que seria extenso enumerar, a Igreja se manifesta em favor da paz. No primeiro dia do ano, o papa expressa urbi et orbi a sua mensagem pela paz mundial, que o cardeal Jaime Ortega nos apresentou. Em resumo, posso dizer que Bento XVI propõe para 2013: “… este nosso tempo, caracterizado pela globalização, com seus aspectos positivos e negativos, assim como por sangrentos conflitos ainda em curso, e por ameaças de guerra, reclama um compromisso renovado e conjunto na busca do bem comum, do desenvolvimento de todos os homens e de todo o homem”. Ele proclamou também, expressamente, que são “bem-aventurados os construtores da paz”.
Fonte: Zenit.
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