quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Bom dia, tristeza... O pecado do desespero

Dizem que o pecado "original" é o desejo do homem de ser como Deus. Esta é só uma face do pecado. Há outra face complementar: a do desejo de não ser original, de não querer a divinização, de não querer ser semelhante a Deus, de não querer chegar ao “Télos” (cf. Jo 13).
Nas palavras de Jürgen Moltmann, "o outro lado da postura da soberba consiste no desespero, na resignação, na indolência e na melancolia". E ele explica: "A tentação não consiste tanto na pretensão titânica de ser como Deus, mas na fraqueza, na pusilanimidade, no cansaço de quem não quer ser o que Deus espera dele".
“O que o acusa não é o mal que ele faz, mas o bem que negligencia”. Nas palavras de São João Crisóstomo: "O que nos leva à perdição não é tanto o pecado quanto a falta de esperança".
E por que a alma se refugia no desespero?
O desespero protegeria a alma das desilusões. “Quem muito espera, louco acaba”. Por isso, tenta-se permanecer no terreno da realidade e “pensar com clareza, sem esperar mais” (cf. Albert Camus).
Eis o rosto sutil, pacífico e aparentemente inócuo do desespero: ele não precisa mostrar expressões desesperadas; ele pode ser a simples e silenciosa falta de sentido, de perspectiva, de futuro e de propósito. Mais: o desespero pode ter o aspecto da sorridente resignação. “Bom dia, tristeza!”... Permanece aquele sorriso amargo de quem esgotou as suas possibilidades e não encontrou nada que lhe desse motivos de esperança.
O homem que se rebela contra Deus não assume necessariamente as formas de um Prometeu, mas sim as de um Sísifo, o honesto fracassado que se redobra sobre os próprios fracassos e abraça a incompletude, o limite, o absurdo, o nada...
A força que renova a vida, porém, não está nem na presunção, nem no desespero, mas somente na esperança durável e segura. Têm uma força misteriosa aquelas palavras de Heráclito: "Quem não espera o inesperado, não o terá".
Longe de ser uma ilusão, Moltmann nos lembra que só a esperança tem o direito de se considerar realista, porque só ela leva a sério as possibilidades que subjazem a toda a realidade... As esperanças e as expectativas de futuro não são, portanto, uma chama de transfiguração destinada a embelezar uma existência cinzenta, mas percepções realistas do vasto panorama de possibilidades reais.
Assim, a esperança é bem diferente da utopia. Ela não se projeta em direção à "ilha que não existe", e sim àquilo que "ainda não tem lugar, mas pode ter". Na verdade, é o desespero que merece a acusação de utópico, porque é ele que "se agarra à realidade existente duvidando das suas possibilidades", sem conceder "lugar nenhum" para o possível.
A conclusão de Moltmann é esta: as afirmações da esperança da escatologia cristã devem se impor também à rigidez utópica do realismo para manter viva a fé e guiar a obediência, que se explicam no amor, no caminho das realidades terrenas, físicas, sociais.

Fonte: Zenit.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Disse o Papa na Casa Santa Marta: Os cristãos sem fé são como os demônios

“Uma fé que não dá frutos por meio das obras não é fé", afirmou nesta manhã o Santo Padre durante a homilia na Casa Santa Marta. O papa ofereceu a missa pelos 90 anos de idade do cardeal Silvano Piovanelli, arcebispo emérito de Florença, agradecendo a ele "pelo trabalho, pelo testemunho e pela bondade".
O mundo está cheio de cristãos que recitam muito as palavras do credo, mas as põem muito pouco em prática. Ou de eruditos que compartimentam a teologia em uma série de possibilidades, sem que essa erudição, depois, se reflita concretamente na vida. É um risco que, há dois mil anos, São Tiago já temia. O papa o abordou hoje na homilia ao comentar o fragmento em que o apóstolo o menciona em sua carta.
Francisco observou que a afirmação do apóstolo é clara: "A fé sem fruto na vida, a fé que não dá fruto nas obras, não é fé". E continuou: "Também nós nos enganamos às vezes sobre isto: 'Mas eu tenho muita fé', ouvimos dizer. 'Eu acredito em tudo, tudo...'. Mas a pessoa que diz isso, talvez, leva uma vida morna. A sua fé é como uma teoria, mas não é viva na sua vida. O apóstolo Tiago, quando fala da fé, fala precisamente da doutrina, do conteúdo da fé. Podemos conhecer todos os mandamentos, todas as profecias, todas as verdades da fé, mas, sem a prática, de nada serve. Podemos recitar o credo teoricamente, também sem fé, e há muita gente que faz isso. Até os demônios! Os demônios conhecem muito bem o que se diz no credo e sabem que é verdade”.
As palavras do pontífice ecoam a afirmação de Tiago: "Crês que há somente um Deus? Fazes bem. Até os demônios o creem e tremem diante dele". A diferença, explicou o papa, é que os demônios "não têm fé", porque "ter fé não é ter um conhecimento", mas "acolher a mensagem de Deus" trazida por Cristo. O Santo Padre nos explica que, no Evangelho, encontramos dois sinais reveladores de quem "sabe o que se deve crer, mas não tem fé". O primeiro sinal é a "casuística", representada por aqueles que perguntavam a Jesus se era lícito pagar os impostos ou qual dos sete irmãos do marido devia se casar com a sua viúva. O segundo sinal é "a ideologia".
E detalhou: “Os cristãos que pensam a fé como um sistema de ideias, ideológico: também no tempo de Jesus havia gente assim”. O apóstolo João diz que eles são o anticristo, os ideólogos da fé, sejam do tipo que forem. “Naquele tempo havia gnósticos, mas havia muitos... E assim, quem cai na casuística ou na ideologia é um cristão que conhece a doutrina, mas não tem fé; como os demônios. Com a diferença de que os demônios tremem, mas estes não: estes vivem tranquilos".
Por outro lado, Francisco recordou que no Evangelho há também exemplos de pessoas que não conhecem a doutrina, mas têm muita fé. Ele citou a cananeia, que, com sua fé, chora pela cura da filha vítima de uma possessão, e a samaritana, que abre o seu coração porque "encontrou não verdades abstratas, mas o próprio Jesus Cristo". O papa também fala do cego curado por Jesus e interrogado pelos fariseus e doutores da lei até se ajoelhar com simplicidade e adorar quem o curou. Três pessoas que, diz Francisco, "demostram que a fé e o testemunho são indissociáveis".
Para terminar, o Santo Padre enfatizou que "a fé sempre leva ao testemunho. A fé é um encontro com Jesus Cristo, com Deus, e leva ao testemunho. É isto o que o apóstolo quer dizer: uma fé sem obras, uma fé que não nos compromete, que não nos leva ao testemunho, não é fé. São palavras e nada mais do que palavras".

Fonte: Zenit

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Disse o papa Francisco na Casa Santa Marta: Para conhecer Jesus, não basta estudá-lo: temos que segui-lo

Conhecemos Jesus Cristo mais ao segui-lo do que ao estudá-lo, recordou-nos o papa Francisco na homilia desta manhã, durante a missa celebrada na Casa Santa Marta. O Santo Padre explicou que Cristo nos pergunta todos os dias quem Ele é para nós; e nós podemos dar a resposta vivendo como seus discípulos.
Mais do que uma vida de estudioso, é uma vida de discípulo o que permite ao cristão conhecer realmente quem é Jesus para ele. Um caminho que segue as pegadas do Mestre e que entrelaça testemunhos claros e também traições, quedas e novos impulsos, indo além de uma atitude intelectual. Para explicá-lo, o papa Francisco tomou Pedro como exemplo. O Evangelho do dia o retrata como uma testemunha valente (à pergunta de Jesus aos apóstolos, "Quem dizeis que eu sou?", ele responde: "Tu és o Cristo"), mas, imediatamente depois, o mostra reticente diante do anúncio de Jesus, que acaba de avisar que deverá sofrer e morrer para depois ressuscitar. O papa ressaltou que, muitas vezes, "Jesus se dirige a nós e nos pergunta: 'E para ti, quem sou eu?', obtendo a mesma resposta que Pedro lhe deu e que nós aprendemos no catecismo". Mas não é suficiente. Francisco enfatizou que, "para responder a essa pergunta, que todos nós sentimos no coração, 'quem é Jesus para nós?', não é suficiente o que aprendemos, o que estudamos no catecismo. É importante estudá-lo e conhecê-lo, mas não é suficiente. Para conhecer Jesus, é necessário trilhar o caminho que Pedro trilhou: depois desta humilhação, Pedro seguiu em frente com Jesus, viu os milagres que Jesus fazia, viu o seu poder, pagou os impostos como Jesus tinha mandado, pescou um peixe, tirou dele uma moeda, viu muitos milagres. Mas, a um certo ponto, Pedro negou Jesus, traiu Jesus, e aprendeu aquela ciência tão difícil, ou, mais do que ciência, a sabedoria, das lágrimas e do pranto".
O Santo Padre continuou explicando que Pedro pediu perdão a Jesus, apesar de tudo. Depois da ressurreição, ele foi interrogado três vezes por Jesus no Mar de Tiberíades e, provavelmente ao reafirmar o amor total pelo Mestre, chorou e se envergonhou, recordando as suas três negações.
Francisco nos recordou que "esta primeira pergunta feita a Pedro, ‘quem sou eu para ti?’, só pode ser entendida ao longo do caminho, depois de um longo caminho, um caminho de graça e de pecado, um caminho de discípulo. Jesus não disse a Pedro e aos apóstolos: 'Conhece-me!'. Ele disse: 'Segue-me!'. E seguir Jesus nos faz conhecer Jesus. Seguir Jesus com as nossas virtudes, com os nossos pecados, mas seguir Jesus sempre. Não é um estudo de coisas o que é necessário, mas uma vida de discípulo".
O papa insistiu na necessidade de "um encontro cotidiano com o Senhor, todos os dias, com as nossas vitórias e com as nossas fraquezas". Mas, acrescentou ele, é também "um caminho que não podemos fazer sozinhos". É necessária a intervenção do Espírito Santo. Francisco afirmou que "conhecer Jesus é um dom do Pai; é Ele que nos leva a conhecer Jesus; é um trabalho do Espírito Santo, que é um grande trabalhador. Não é um sindicalista, é um grande trabalhador e trabalha sempre em nós. Ele faz esse trabalho de explicar o mistério de Jesus e de nos dar o sentido de Cristo. Olhemos para Jesus, para Pedro, para os apóstolos, e escutemos em nosso coração esta pergunta: 'Quem sou eu para ti?'. E, como discípulos, peçamos ao Pai que nos dê o conhecimento de Cristo no Espírito Santo; que nos explique este mistério".

Fonte: Zenit.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Evangelização online: o uso das redes sociais como ponto de encontro

Sabemos que o sucesso das redes sociais se deve a um fator decisivo: elas facilitaram as relações interpessoais. Foi no começo da primeira década do terceiro milênio que a massificação das tecnologias da comunicação e da informação se globalizou. Em pouco menos de dez anos, aconteceu uma verdadeira revolução, que não foi apenas tecnológica, mas também antropológica.
O homem de hoje pensa, vive e sente com a internet. O digital não é uma simples extensão da própria existência, mas uma parte integrante da vida, o que se reflete na “hiperconexão” de milhões de pessoas em todo lugar e a qualquer momento. Paradoxalmente, a finalidade de relação passou a ser um fator secundário.
Como é que a evangelização entra neste complexo mundo digital? E mais: como entender a evangelização num contexto existencial como o de hoje? Há quem aposte em “habitar a rede” e possibilitar, a partir dela, uma aproximação das pessoas que não conhecem Deus, não acreditam nele ou deixaram de acreditar. Se este objetivo levar a outro mais profundo (o encontro pessoal com Deus) e houver não apenas boas intenções, mas a formação e a criatividade necessárias, isso é ótimo.
Assim como milhares de missionários partiram um dia para anunciar a mensagem de Jesus em novas terras e em novos continentes, assim também os missionários da web desembarcam no continente digital para repropor a mesma mensagem. E a experiência e as lições daqueles evangelizadores podem servir para o presente.
Em primeiro lugar, os missionários transmitiam a palavra de Deus, não a deles mesmos. Eram intermediários entre Deus e os homens e, em consequência, conduziam as pessoas ao fim que era Deus, não a si próprios. Existe hoje a tentação de se colocar no centro da mensagem e acabar desviando a atenção do fim verdadeiro.
Os missionários eram enviados: o impulso vinha de Deus e, como dizia São Paulo, “Ai de mim se não pregar o Evangelho!”. Mas também é verdade que o envio imediato era feito por uma autoridade eclesiástica, que avalizava o trabalho apostólico. Isto continua sendo verdade hoje. A evangelização online exige a boa intenção, mas também a adequada preparação e, na medida do possível, o respaldo ao menos do próprio pároco ou de algum representante eclesiástico que acompanhe e oriente o nosso trabalho.
Os missionários de antigamente aprendiam a língua dos nativos. Os nativos digitais também têm a sua linguagem própria: mais visual, interativa, intuitiva, multimídia. São elementos que o missionário não só precisa conhecer, mas dominar, para falar ao homem contemporâneo de um jeito que ele entenda.
Ao chegar à nova terra, os missionários também sabiam identificar as coisas boas da cultura local. Devemos fazer o mesmo: não quebrar a cabeça pensando em milhares de táticas novas; podemos aproveitar o que já existe, purificando-o, se necessário, e elevando-o.
Finalmente, o sucesso pastoral de muitos missionários não vinha da quantidade de coisas que eles faziam, mas do testemunho de vida santa que eles davam. Se as atividades eram muitas, era porque vinham do conselho que Deus lhes dava na oração. E isso as pessoas notavam, sentindo-se interpeladas a conhecer o Deus com quem o missionário se comunicava. Isto permanece válido: falar primeiro com Deus e depois falar dele para os outros. Os homens de hoje não escutam os mestres, e sim as testemunhas. E, se escutam os mestres, é porque eles são testemunhas.
Em suma, trata-se do desafio de levar as almas ao contato direto com Deus e devolver às redes sociais o seu fator de sucesso. O “grande encontro” passa pelos pequenos encontros que os missionários são chamados a possibilitar na conexão com Deus fora do ambiente digital.

Fonte: Zenit.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Fofocas podem matar. Nada de fofocas

No Angelus do último domingo, 16 de fevereiro, Papa Francisco comentou a atitude de Jesus em relação à lei judaica, destacando o significado do pleno cumprimento da Lei e da justiça superior. Eis as palavras do Papa:


Queridos irmãos e irmãs,

O Evangelho deste domingo faz parte ainda do chamado “sermão da montanha”, a primeira grande pregação e Jesus. Hoje o tema é a atitude de Jesus com relação à Lei judaica. Ele afirma: “Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição” (Mt 5, 17). Jesus, então, não quer cancelar os mandamentos que o Senhor deu por meio de Moisés, mas quer levá-los à sua plenitude. E logo depois acrescenta que este “cumprimento” da Lei requer uma justiça superior, uma observância mais autêntica. Diz de fato aos seus discípulos: “Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 5,20).
Mas o que significa este “pleno cumprimento” da Lei? E esta justiça superior em que consiste? O próprio Jesus nos responde com alguns exemplos. Jesus era prático, falava sempre com os exemplos para se fazer entender. Começa pelo quinto mandamento do decálogo: “Vós ouvistes o que foi dito aos antigos: ‘Não matarás! Quem matar será condenado pelo tribunal’. Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encoleriza com seu irmão será réu em juízo” (vv. 21-22). Com isto, Jesus nos recorda que também as palavras podem matar! Quando se diz que uma pessoa tem língua de serpente, o que quer dizer? Que as suas palavras matam! Portanto, não só não se deve atentar contra a vida do próximo, mas também não lançar sobre ele o veneno da ira e atingi-lo com a calúnia. Nem falar mal dele. Chegamos às fofocas: as fofocas podem matar, porque matam a fama das pessoas! É tão bruto fofocar! No começo pode parecer uma coisa agradável, até divertida, como chupar uma bala. Mas no fim enche o coração de amargura e envenena também nós. Digo-vos a verdade, estou convencido de que se cada um de nós fizesse o propósito de evitar as fofocas, no fim se tornaria santo! É um belo caminho! Queremos nos tornar santos? Sim ou não? [Praça: Sim!] Queremos viver atrelados às fofocas como hábitos? Sim ou não? [Praça: Não!] Então estamos de acordo: nada de fofocas! Jesus propõe a quem O segue a perfeição do amor: um amor cuja única medida é não ter medida, ir além de todos os cálculos. O amor ao próximo é uma atitude tão fundamentada que Jesus chega a afirmar que a nossa relação com Deus não pode ser sincera se não queremos fazer as pazes com o próximo. E diz assim: “Se estás, portanto, para fazer a tua oferta diante do altar e te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão” (vv. 23-24). Por isso, somos chamados a reconciliar-nos com os nossos irmãos antes de manifestar a nossa devoção ao Senhor na oração.
De tudo isso, entende-se que Jesus não dá importância simplesmente à observância disciplinar e à conduta exterior. Ele vai à raiz da Lei, com foco, sobretudo, na intenção e, portanto, no coração do homem, de onde provêm as nossas ações boas ou más. Para ter comportamentos bons e honestos, não bastam as normas jurídicas, mas são necessárias motivações profundas, expressão de uma sabedoria oculta, a Sabedoria de Deus, que pode ser acolhida graças ao Espírito Santo. E nós, através da fé em Cristo, podemos abrir-nos à ação do Espírito, que nos torna capazes de viver o amor divino.
À luz deste ensinamento, cada preceito revela o seu pleno significado como exigência de amor, e todos se reúnem no maior mandamento: ama Deus com todo o coração e o próximo como a ti mesmo.

(Trad.: Canção Nova) - Fonte: Zenit.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A Escravidão hoje atinge 29 milhões de trabalhadores em todo o mundo

Em 20 de novembro, o Brasil recorda a memória de Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra na luta pela libertação. Desde 1978, o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial batizou a data como o Dia Nacional da Consciência Negra em substituição ao 13 de Maio, que é considerado como o Dia das Raças.



Para colaborar com a reflexão nesta data, a Pastoral Afro-brasileira da CNBB divulgou uma mensagem, na qual recorda os desafios e a luta contra a escravidão moderna, e em prol da cidadania dos afrodescendentes.
A seguir, a íntegra do texto:
20 de novembro: Dia da Consciência Negra
Aos poucos os eventos gaúchos atraíram a atenção da mídia nacional e de grupos negros de outros Estados, que também passaram a adotar o 20 de novembro. Finalmente, em 1978, o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial adotou a data, batizando-a de Dia Nacional da Consciência Negra. Mais recentemente os poderes públicos abraçaram a ideia, dando origem ao feriado de amanhã, celebrado em muitas cidades do País.
Em uma dissertação de mestrado apresentada no programa de pós-graduação em história da PUC de Porto Alegre, o jornalista negro Deivison Moacir Cezar de Campos sugere que os rapazes do Palmares foram subversivos. Porque fizeram um contraponto ao discurso oficial do regime militar, que exaltava as igualdades proporcionadas pela democracia racial e via no debate sobre o tema um fator de distúrbio. “Eles buscavam o reconhecimento das diferenças étnicas e das condições desiguais de acesso à cidadania e a integração socioeconômica”, diz a tese. E mais: “Colocaram-se contra o oficialismo ao defenderem a substituição de 13 de Maio, o Dia das Raças, pelo 20 de Novembro, Dia do Negro; ao proporem uma revisão da historiografia; ao afirmarem um herói não reconhecido.”
Hoje, muitas conquistas das comunidades negras estão presentes em nossa sociedade. Existem desafios que vamos enfrentando com participação de grupos organizados ou não. A Pastoral Afro-brasileira, presente em todo o Brasil, celebra mas também está empenhada em enfrentar os desafios presentes no mundo. A Escravidão hoje atinge 29 milhões de trabalhadores em todo o mundo. Um relatório recém-divulgado pela fundação Walk Free aponta que 29 milhões de pessoas no mundo ainda trabalham sob o regime de escravidão.
Para o cientista político Leonardo Sakamoto, que é coordenador da ONG Repórter Brasil e membro da Comissão Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo, a escravidão ocorre quando a dignidade ou a liberdade são aviltadas. Condição degradante é aquela que rompe o limite da dignidade. São negadas a essas pessoas condições mínimas mais fundamentais, colocando em risco a saúde e a vida.
A Mauritânia ocupa o primeiro lugar do ranking de escravidão global, que analisou 162 países e leva em consideração o casamento infantil e os níveis de tráfico humano. Haiti, Paquistão e Índia vêm em seguida. No Brasil, 125 anos após a abolição da escravatura, milhares de pessoas ainda são submetidas a trabalhos em situação degradante. No entanto, há avanço na erradicação da prática. A primeira política de contenção do trabalho escravo é de 1995 e, de lá para cá, 45 mil pessoas foram libertadas de locais onde havia exploração desumana da mão de obra. Tramita no Congresso Nacional uma Proposta de Emenda Constitucional para endurecer a lei. É a PEC do Trabalho Escravo e prevê o confisco de imóveis em que o trabalho escravo for encontrado e sua destinação para reforma agrária ou para o uso habitacional urbano.
Lucrativa, a escravidão moderna movimenta mais de US$ 32 bilhões, segundo a Organização Internacional do Trabalho. Estimativas da OIT também apontam que há 5,5 milhões de crianças escravas no mundo.
Como muito bem falou o Papa João Paulo II, aos afro-americanos, em 1992, em Santo Domingo: "A estima e o cultivo dos vossos valores Afro-americanos, enriquecerão infalivelmente a Igreja."
Em outras palavras, a novidade que a Igreja quer e merece é a inclusão em sua Ação Evangelizadora, das riquezas culturais e espirituais que emanam do Patrimônio africano e afro-descendente.
O processo de Cidadania do povo negro é uma dimensão essencial da vida e da Missão da Nossa Igreja Católica Apostólica Romana. A Igreja Católica no Brasil, fiel à missão de Jesus Cristo, está presente nesses importantes acontecimentos por meio de seus representantes e de suas orações. Exorta a todo o Povo de Deus a colocar-se a serviço da vida e da esperança, "acolher, com abertura de espírito as justas reivindicações de movimentos - indígenas, da consciência negra, das mulheres e outros - (...) e empenhar-se na defesa das diferenças culturais, com especial atenção às populações afro-brasileiras e indígenas" (CNBB, Doc. 65, nº 59).

Pastoral Afro-brasileira da CNBB

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Papa à Comunidade Shalom: Não tenham vergonha do Evangelho de Cristo

O Papa Francisco pediu hoje à Comunidade Católica Shalom que não tivesse vergonha de anunciar Jesus Cristo e seu Evangelho com alegria, ternura, misericórdia e audácia. O pedido foi feito na manhã desta sexta-feira (14), quando o pontífice recebeu em audiência privada o fundador e moderador da Comunidade, Moysés Louro de Azevedo Filho.
“Ele disse: ‘Não tenham vergonha do Evangelho de Cristo, não tenham vergonha de anunciar Jesus Cristo e o seu Evangelho com alegria, com ternura, com misericórdia, com audácia’. Pediu para conhecermos em profundidade e difundirmos a Evangelii Gaudium. Também pediu para continuarmos rezando por ele”, afirma Moysés.
O mandato faz eco às palavras do Papa Emérito Bento XVI em 2012, quando se dirigiu à Comunidade Shalom reunida em Roma, após a aprovação definitiva de seus estatutos, encorajando seus membros a serem “alegres instrumentos do amor e da misericórdia de Deus”.
“Com o coração agradecido pela acolhida do Santo Padre, relembrei-lhe um pouco da nossa história, de quando muito jovem pude ofertar minha vida e minha juventude aos pés do Papa João Paulo II, em favor da evangelização dos jovens mais distantes de Cristo e da Igreja. Aproveitei a ocasião para dizer ao Papa Francisco: ‘Santo Padre, eu estou aqui para renovar minha oferta de vida diante do senhor, e não só a minha, mas a de toda a Comunidade, de todos estes jovens, famílias, sacerdotes, celibatários que hoje fazem parte da Obra Shalom’. Ele se alegrou, agradeceu e reafirmou a sua confiança na Comunidade."
O encontro com Francisco, que durou cerca de 30 minutos, é considerado “histórico” pelo fundador. Moysés presenteou o Papa com um álbum que traz um pouco da história da Comunidade e seu compromisso de oração com ele mostrando a campanha que fizemos nas redes sociais 'Eu rezo pelo Papa'. Diz Moysés: "Aproveitei a ocasião e mostrei, no tablet, a página da internet Eu rezo pelo Papa, iniciativa pela qual o Santo Padre, com alegria, agradeceu, e pediu para que continuássemos rezando por ele."  Esta ação tem mobilizado milhares de pessoas de vários grupos, paróquias, comunidades e até de outras religiões.
Durante o encontro, Moysés pôde partilhar ainda mais sobre a vida e a missão da Comunidade e reafirmou o serviço incondicional à Igreja. “Disse-lhe que ele poderia contar conosco incondicionalmente em seu pontificado, que contasse com a nossa comunhão de oração, de vida e de missão”, concluiu.
Por fim, o fundador agradeceu a Francisco pelo grande dom que ele é para a Igreja e pelo “kairós de misericórdia" ("tempo de misericórdia") que tem sido o seu pontificado. Segundo Azevedo, o Pontífice afirmou prontamente que a intuição  que João Paulo II teve acerca da Divina Misericórdia - inclusive instituindo o Domingo da Misericórdia no segundo domingo da Páscoa - é uma inspiração determinante dentro do seu pontificado, pois é disso que os homens precisam: experimentar a misericórdia de Deus.

Fonte: Zenit.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Bélgica aprova a eutanásia infantil.

Bélgica tornou-se na tarde de ontem no primeiro país do mundo que acrescenta à sua legislação a eutanásia de menores sem requisito de idade. O Congresso dos Deputados aprovou definitivamente um projeto polêmico, que contou com 86 votos a favor, 44 contra e 12 abstenções. Com a nova lei, os menores com doenças incuráveis poderão aceder a essa prática, sempre que cumpram com uns requisitos rigorosos. O principal é demonstrar a capacidade de discernimento.
A passagem pelo Congresso dos Deputados fez algumas mínimas alterações ao projeto aprovado pelo Senado, que na Bélgica é a câmera com iniciativa legislativa. O sofrimento da criança só poderá ser físico - a eutanásia para adultos contempla também o psíquico – e os médicos deverão comprovar que, em qualquer caso, o paciente morreria em curto prazo .
A Holanda era, até agora, o único país que incluía crianças na prática da eutanásia, com um requisito de idade fixado entre 12 e 18 anos, dependendo do caso. Bélgica deu um passo a mais ao optar por avaliar a maturidade mental da criança em vez de estabelecer uma idade de referência.
O texto final estabelece que será o médico encarregado do caso que avaliará se o menor é capaz de tomar a decisão, mas terá que consultar previamente um psiquiatra infantil. Na atualidade, Bélgica já prevê o direito à eutanásia a partir dos 15 anos para jovens emancipados.
Inúmeros profissionais médicos reagiram violentamente a uma lei que segundo eles não responde a nenhuma demanda da sociedade nem do setor sanitário, mas sim às cabalas eleitorais de uns políticos que nesta mesma primavera concorrem às eleições gerais.
Assim, a iniciativa aprovada hoje pelo Parlamento belga recebeu as críticas do primeiro Congresso Internacional de Cidadãos Paliativos Pediátricos celebrado nesta semana na Índia e que incluiu na sua declaração final uma “chamada urgente ao Governo belga para que reconsidere a sua decisão”.
Os especialistas reunidos no Congresso Internacional defenderam que todos os menores em estado terminal devem ter acesso aos meios adequados para controlar a dor e os sintomas, bem como aos cuidados paliativos de alta qualidade. "Acreditamos que a eutanásia não é parte da terapia paliativa pediátrica e não é uma alternativa", disse o comunicado.
Também uns 40 pediatras belgas publicaram uma carta aberta para advertir que consideram “precipitado” a tramitação desta lei e mostrar que não existe uma demanda social nem médica para dar este passo. Uma carta semelhante, à qual se somaram até 160 pediatras, como informa a mídia local, foi dirigida ontem aos grupos políticos na véspera do voto para pedir-lhes que o atrasem até a próxima legislatura.
Enquanto isso, os líderes das grandes religiões da Bélgica (cristãos, muçulmanos e judeus) têm mostrado repetidamente a sua rejeição à lei. Neste sentido, no 6 de novembro emitiram uma declaração conjunta opondo-se à legalização da eutanásia para menores. "A eutanásia das pessoas mais vulneráveis ​​é desumana e destrói as bases da nossa sociedade", denunciavam. "É uma negação da dignidade destas pessoas e as abandona ao critério, ou seja, à arbitrariedade de quem decide", acrescentaram.
Na nota, divulgada pela agência Cathobel, os chefes religiosos destacavam também que estão “contra o sofrimento físico e moral, em particular das crianças", mas explicavam que "propor que os menores possam eleger a sua própria morte é uma maneira de distorcer sua capacidade de julgar e, portanto, a sua liberdade". "Expressamos nossa profunda preocupação com o risco de banalização crescente de uma realidade tão grave”, concluíam .
Os líderes religiosos da Bélgica afirmavam também em outra mensagem conjunta que “a eutanásia das pessoas mais vulneráveis é desumana e destrói as bases da nossa sociedade"; e acrescentavam que "é uma negação da dignidade dessas pessoas e as abandona à arbitrariedade de quem decide".
O número de eutanásias praticadas na Bélgica atingiu um recorde em 2012, com um total de 1.432 casos, um 25% a mais do que no ano anterior, de acordo com dados da Comissão Federal de Controle e de Avaliação da Eutanásia.
O rei Felipe deverá assinar a lei para que entre em vigor. Até agora, o rei, pai de quatro filhos, não se pronunciou publicamente sobre o assunto .
Na Europa, a eutanásia ativa (com assistência médica) está descriminalizada na Bélgica, Holanda, Luxemburgo e Suíça.

Fonte: Zenit.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Francisco faz o convite para que se viva a eucaristia de modo coerente

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Na última catequese, destaquei como a Eucaristia nos introduz na comunhão real com Jesus e o seu mistério. Agora podemos nos colocar algumas perguntas sobre a relação entre a Eucaristia que celebramos e a nossa vida, como Igreja e como cristãos individualmente. Como vivemos a Eucaristia? Quando vamos à Missa aos domingos, como a vivemos? É somente um momento de festa, é uma tradição consolidada, é uma ocasião para se encontrar ou para sentir-se bem, ou é algo a mais?
Há alguns sinais muito concretos para entender como vivemos tudo isso, como vivemos a Eucaristia; sinais que nos dizem se nós vivemos bem a Eucaristia ou não a vivemos tão bem. O primeiro indício é o nosso modo de olhar e considerar os outros. Na Eucaristia, Cristo realiza sempre novamente o dom de si que fez na Cruz. Toda a sua vida é um ato de total partilha de si por amor; por isso Ele amava estar com os discípulos e com as pessoas que tinha oportunidade de conhecer. Isto significava para Ele partilhar os desejos deles, os seus problemas, aquilo que agitava as suas almas e suas vidas. Agora nós, quando participamos da Santa Missa, encontramo-nos com homens e mulheres de todo tipo: jovens, idosos, crianças, pobres e ricos; originários do lugar ou de fora; acompanhados por familiares ou sozinhos… Mas a Eucaristia que celebro leva-me a senti-los todos, realmente, como irmãos e irmãs? Faz crescer em mim a capacidade de alegrar com quem se alegra, de chorar com quem chora? Impele-me a seguir rumo aos pobres, aos doentes, aos marginalizados? Ajuda-me a reconhecer neles a face de Jesus? Todos nós vamos à Missa porque amamos Jesus e queremos partilhar, na Eucaristia, a sua paixão e a sua ressurreição. Mas amamos, como quer Jesus, aqueles irmãos e irmãs mais necessitados? Por exemplo, em Roma, nestes dias vimos tantos problemas sociais ou pela chuva que fez tantos danos a bairros inteiros, ou pela falta de trabalho, consequência da crise econômica em todo o mundo. Pergunto-me, e cada um de nós se pergunte: eu que vou à Missa, como vivo isto? Preocupo-me de ajudar, de aproximar-me, de rezar por aqueles que têm este problema? Ou sou um pouco indiferente? Ou talvez me preocupo de fofocar: viu como está vestida aquela, ou como está vestido aquele? Às vezes se faz isso, depois da Missa, e não se deve fazer! Devemos nos preocupar com os nossos irmãos e irmãs que têm necessidade por causa de uma doença, de um problema. Hoje, fará bem a nós pensar nestes nossos irmãos e irmãs que têm este problema aqui em Roma: problemas pela tragédia provocada pela chuva e problemas sociais e de trabalho. Peçamos a Jesus, que recebemos na Eucaristia, que nos ajude a ajudá-los.
Um segundo indício, muito importante, é a graça de sentir-se perdoados e prontos a perdoar. Às vezes alguém pergunta: “Por que se deveria ir à igreja, visto que quem participa habitualmente da Santa Missa é pecador como os outros?”. Quantas vezes ouvimos isso! Na realidade, quem celebra a Eucaristia não o faz porque se acredita ou quer parecer melhor que os outros, mas propriamente porque se reconhece sempre necessitado de ser acolhido e regenerado pela misericórdia de Deus, feita carne em Jesus Cristo. Se algum de nós não se sente necessitado da misericórdia de Deus, não se sente pecador, é melhor que não vá à Missa! Nós vamos à Missa porque somos pecadores e queremos receber o perdão de Deus, participar da redenção de Jesus, do seu perdão. Aquele “Confesso” que dizemos no início não é “pro forma”, é um verdadeiro ato de penitência! Eu sou pecador e o confesso, assim começa a Missa! Não devemos nunca esquecer que a Última Ceia de Jesus aconteceu “na noite em que foi traído” (1 Cor 11, 23). Naquele pão e naquele vinho que oferecemos e em torno do qual nos reunimos se renova toda vez o dom do corpo e do sangue de Cristo para a remissão dos nossos pecados. Devemos ir à Missa humildemente, como pecadores e o Senhor nos reconcilia.
Um último indício precioso nos vem oferecido pela relação entre a celebração eucarística e a vida das nossas comunidades cristãs. É necessário sempre ter em mente que a Eucaristia não é algo que fazemos nós; não é uma comemoração nossa daquilo que Jesus disse e fez. Não. É propriamente uma ação de Cristo! É Cristo que age ali, no altar. É um dom de Cristo, que se torna presente e nos acolhe em torno de si, para nutrir-nos da sua Palavra e da sua vida. Isto significa que a missão e a identidade própria da Igreja surge dali, da Eucaristia, e ali sempre toma forma. Uma celebração pode ser também impecável do ponto de vista exterior, belíssima, mas se não nos conduz ao encontro com Jesus Cristo arrisca não levar alimento algum ao nosso coração e à nossa vida. Através da Eucaristia, em vez disso, Cristo quer entrar na nossa existência e permeá-la pela sua graça, de forma que em toda comunidade cristã haja coerência entre liturgia e vida.
O coração se enche de confiança e esperança pensando nas palavras de Jesus reportadas no Evangelho: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6, 54). Vivamos a Eucaristia com espírito de fé, de oração, de perdão, de penitência, de alegria comunitária, de preocupação pelos necessitados e pelas necessidades de tantos irmãos e irmãs, na certeza de que o Senhor cumprirá aquilo que nos prometeu: a vida eterna. Assim seja!

(Tradução Canção Nova Notícias / Jéssica Marçal)

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A oração para renovar a ligação com o Céu

É o primeiro imperativo: a oração não se deve dar por suposto. É uma arte que sempre precisa reaprender. É uma habilidade que se recebe tendo o olhar aberto sobre a história, fazendo de cada evento um motivo de louvor e súplica ao Senhor.
É um estado permanente da vontade, "conectada" com o céu. A oração não pode se esgotar no tempo de um ritual ou de um encontro comunitário.
Como afirma o Santo Padre Bento XVI, "mesmo aqueles que são muito avançados na vida espiritual sempre sentem a necessidade de entrar na escola de Jesus, para aprender a orar com autenticidade” (Audiência Geral, 4 de maio de 2011).
Em profunda harmonia espiritual com o seu antecessor, que entregou para toda a humanidade um “programa” para o Terceiro milênio: “As nossas comunidades cristãs devem tornar-se verdadeiras "escolas" de oração... uma oração intensa, que não desvia do compromisso na história: abrindo o coração ao amor de Deus, abre-o ao amor dos irmãos e nos torna capazes de construir a história segundo o desígnio de Deus” (Beato João Paulo II em Novo Millenio Ineunte, 33).
A oração, portanto, requer "olhos abertos", consciências vigilantes, vontade livre de toda preguiça ou deserção. Não nos cansemos de dizê-lo: a vida cristã precisa de autenticidade, de nova interioridade de fé, de reencontro íntimo com Deus: só a oração atende essas necessidades.
A nova evangelização nasce, cresce e se desenvolve através do testemunho de homens que sabem cultivar o desejo de Deus na oração e na íntima comunhão com a pessoa do Espírito Santo, que faz da nossa oração um “estilo de vida”, uma vida nova, boa, plena, feliz.
Esta é a razão pela qual o Papa João Paulo II sempre afirmava que “[a oração] é o segredo de um cristianismo verdadeiramente vital, que não tem motivos para temer o futuro, porque continuamente retorna para as fontes e se regenera nelas” (Novo Millennium ineunte, 32).
No documento preparatório do Sínodo dos Bispos "A nova evangelização para a transmissão da fé cristã" se destaca a necessidade do "retorno à oração", de modo que as palavras humanas deixem a primazia à Palavra de Deus.
Uma nova formação à oração, que apresente os evangelizadores mais como "orantes” do que como “oradores”. “A transmissão da fé não acontece só com as palavras, mas exige um relacionamento com Deus através da oração, que é a mesma fé em ato. Nesta educação para a oração... O sujeito educador é o mesmo Deus e o verdadeiro educador à oração é o Espírito Santo” (Lineamenta para o Sínodo dos Bispos sobre a nova evangelização, 15)

O Presidente da Renovação Carismática (RC) explica que a nova evangelização precisa mais de orantes do que de oradores



Fonte: Zenit.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Há um ano: a histórica renúncia de Bento XVI




O dia 11 de fevereiro de 2013 prometia ser uma segunda-feira particularmente tranquila. No consistório, conforme previsto, o papa Bento XVI decretou a inscrição de Santa Catarina de Siena Montoya e Upegui e de Maria Guadalupe Garcia Zavala no Livro dos Santos. Era um dia a tal ponto tranquilo que a Sala de Imprensa da Santa Sé estava quase vazia.
O que ninguém esperava eram as seguintes palavras de Bento XVI: “Convoquei este consistório não só para as três causas de canonização, mas também para comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja”.
E veio o anúncio: “Depois de examinar reiteradamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que, devido à idade avançada, não tenho mais forças para exercer adequadamente o ministério petrino”.
E prosseguiu: “Por isso, muito consciente da seriedade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado por meio dos cardeais em 19 de abril de 2005, de forma que, a partir do dia 28 de fevereiro de 2013, às 20 horas, ficará vacante a sé de Roma, a sé de São Pedro, e deverá ser convocado, por meio de quem tem a devida competência, o conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice".
“O papa esperou este consistório com a participação de grande quantidade de cardeais presentes”, disse o porta-voz vaticano, pe. Federico Lombardi, “e leu o seu pronunciamento em latim”.
“O papa continuará na plenitude das suas funções até 28 de janeiro, às 20 horas. A partir desse momento, entraremos em sé vacante”, explicou o porta-voz, acrescentando: “Não existem dúvidas sobre a renúncia, que foi feita do modo válido previsto pelo direito canônico”.
Gestos precursores da renúncia
No dia 28 de abril de 2009, o papa Bento XVI viajou a L’Aquila, na Itália, para orar pelas vítimas do terremoto que tinha atingido a região. Na basílica de Nossa Senhora de Collemaggio, onde está a relíquia do papa Celestino V, Bento XVI depositou o pálio que lhe fora entregue no dia da sua entronização.
Celestino V (1209-1296) foi eleito papa após uma longa sé vacante, o que se deveu à divisão do colégio cardinalício entre os candidatos apoiados pelas famílias Colonna e Orsini. Após cinco meses como pontífice, ele renunciou voluntariamente ao pontificado para retornar à sua vida de ermitão. Reunido o conclave, seu sucessor, Bonifácio VIII, foi eleito em um dia.
Quando Bento XVI voltou a essa região, por ocasião do “perdão de Celestino V”, ele declarou em sua homilia: “Passaram-se oitocentos anos, mas Celestino V permanece presente na história em razão dos célebres acontecimentos de sua época e do seu pontificado e, especialmente, da sua santidade”.
O papa Bento XVI quis ressaltar, ainda, “vários ensinamentos” da vida do papa Celestino, que são “válidos também para a nossa época”. Precisamos ver nele um “buscador de Deus”, que, “no silêncio exterior, mas em especial no interior, conseguiu perceber a voz de Deus, capaz de orientar a sua vida”. Além disso, “São Pedro-Celestino, mesmo levando uma vida de eremita, não se 'fechou em si mesmo', mas manteve a paixão por levar a boa notícia do Evangelho aos seus irmãos. E o segredo da sua fecundidade pastoral estava precisamente no fato de permanecer com o Senhor, na oração”.
Depois da perplexidade normal que um ato histórico desta envergadura suscita, veio o conclave e, com ele, o papa Francisco. Depois de um ano, tudo agora parece mais claro.
Monsenhor Ratzinger: “Meu irmão não se arrepende de ter renunciado”
O irmão do papa emérito se pronuncia no aniversário da histórica renúncia
Vaticano, 10 de fevereiro de 2014 (Zenit.org)
Redação
Georg Ratzinger, hoje com noventa anos, se lembra com preocupação do dia em que o seu irmão menor, Joseph, foi eleito Sumo Pontífice. "Devo dizer, com toda a sinceridade, que, naquele momento, eu me senti bastante derrotado". O que o entristecia era pensar que o irmão não teria mais tempo para ele a partir de então. No dia 19 de abril de 2005, não conseguiu telefonar para Joseph Ratzinger. Passaram-se dias depois da eleição do Sucessor de Pedro até que mons. Georg conseguisse falar com o irmão. "Agora eu tenho, graças a Deus, um segundo telefone, com um número que só ele conhece. Quanto toca esse telefone, eu sei que o meu irmão, o papa, está me ligando".
É conhecida a relação estreita entre os irmãos Ratzinger. Detalhes inéditos da vocação de Joseph Ratzinger foram revelados no livro “Meu irmão, o papa” (Mein Bruder, der Papst), entrevista concedida por mons. Georg Ratzinger ao jornalista e escritor alemão Michael Hesemann. Mons. Georg começa pelos anos da infância e, entre outras coisas, conta como nasceu e amadureceu no seio da família a decisão do jovem Joseph de servir à Igreja no sacerdócio, até chegar aos anos do pontificado.
Ambos os irmãos continuaram se encontrando. Georg visitava o irmão várias vezes por ano em Roma. As festas natalinas, a páscoa e o mês de agosto em Castel Gandolfo eram as ocasiões em que ambos podiam passar algum tempo juntos. Mons. Ratzinger ficava no Vaticano de 28 de dezembro até 10 de janeiro. Neste ano, porém, ele prolongou a estada para festejar o seu 90º aniversário em companhia do papa emérito, no dia 15 de janeiro.
Mons. Georg Ratzinger passa o resto do ano em casa, em Ratisbona, cidade em que se localiza o Instituto Papa Bento XVI, encarregado de publicar as obras completas do emérito bispo de Roma. Foi para esse lugar que se dirigiu um jornalista do periódico espanhol La Razón, a fim de conversar com Georg Ratzinger. Tanto no Instituto quanto na diocese, ele recebeu a informação de que, por causa da idade avançada, o irmão de Bento XVI "não está mais em condições de conceder entrevistas".
Mesmo assim, o jornalista Michael Hesseman sugere uma conversa por telefone. Mons. Georg aceita.
"Meu irmão está em bom estado de saúde. Ele tenta manter a serenidade, mesmo sem ter todo o tempo que gostaria para tocar o piano ou conversar por telefone, já que ainda recebe muitas visitas e mantém audiências". O irmão de Bento XVI diz que o papa emérito continua estudando teologia, mas não confirma a possibilidade de que ele esteja escrevendo as suas memórias: "Não posso confirmar. Além disso, já existem livros que relatam amplamente a vida do meu irmão, que já contêm a essência do seu trabalho".
Perguntado sobre o primeiro aniversário da renúncia e sobre as reflexões feitas durante esses meses, Georg Ratzinger afirma: "Meu irmão não se arrepende da decisão que tomou há um ano. Para ele, estão bem claras as tarefas e funções que ele quer realizar. A renúncia foi uma decisão clara que continua sendo válida hoje".
Mons. Georg Ratzinger nasceu em Pleiskirchen, na Alemanha, em 15 de janeiro de 1924. É conhecido pela atividade como músico e como diretor de coral: com apenas onze anos, o pequeno Georg já tocava o órgão da igreja. Em 1935, ele entrou no Kleine Seminar, um internato para meninos que querem ser sacerdotes, na cidade de Traunstein. Ratzinger recebeu ali as primeiras aulas de música, que continuaria no Seminário de Munique e de Freising, onde entrou junto com o irmão Joseph em janeiro de 1946. Cinco anos depois, em 1951, ambos foram ordenados, também juntos, pelo cardeal Michael von Faulhaber.

Fonte: Zenit.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Especialistas consideram que o próprio sistema educacional brasileiro forma analfabetos



A notícia de que o Brasil tem 13,9 milhões de adultos analfabetos, segundo o Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos, divulgado pela Unesco, é social e politicamente instigadora. O número é muito alto e revela um sério comprometimento da cidadania. Embora não haja lei que obrigue o adulto a estar na escola para superar o grande mal do analfabetismo, é preciso acender uma chama de grande sensibilidade social e política, com força de articulação de instituições governamentais, educacionais, de igrejas e tantas outras entidades, no enfrentamento dessa chaga terrível na sociedade brasileira.
O fato de o Brasil estar entre os dez países do mundo que concentram o maior número de analfabetos deve ferir nossa consciência cidadã. Todos precisam intuir ações que se configurem numa mobilização geral, capitaneada pelas responsabilidades primeiras governamentais, para garantir aos analfabetos um passo adiante na sua condição cidadã. Não se pode descansar diante do atual quadro que perpetua prejuízos. As ações de combate ao analfabetismo têm suas complexidades e exigências de investimentos. Por isso, é preciso disponibilizar recursos profissionais, instalações e métodos para que cidadãos de várias condições e segmentos deem sua contribuição para que, em mutirão, se possa mudar esse cenário comprometedor da cidadania.
Importante sublinhar que existe um agravante no que se refere ao analfabetismo existente no Brasil. Especialistas consideram que o próprio sistema educacional brasileiro forma analfabetos, pessoas com dificuldades de alcançar conquistas e viver a cidadania com liberdade. O analfabetismo das letras incide, para além delas mesmas, na capacidade de compreensão e interpretação da própria realidade. O resultado é uma deficiência na participação social e política, a incapacidade para ajudar a corrigir os rumos da sociedade, monitorar os políticos e fazer nascer a lucidez corajosa para as grandes reformas institucionais. Assim, ignorar esse grave problema é condenar a sociedade a estar enterrada na corrupção, na desigualdade, na injustiça e na convivência pacífica com o mal.
A alfabetização é um passo indispensável para a arte de ler, consequentemente interpretar, discernir e escolher o que deve pautar a vida de cada cidadão. É preciso dar a todos a condição necessária para participar, de maneira cidadã, dos processos de interpretação, entendimento e escolhas que mudam os rumos da sociedade. A contramão disso, o analfabetismo, é um sistema escravocrata que perpetua hegemonias e dominações, privilegiando grupos políticos e empresariais, em detrimento do bem comum e da justiça intocável que deve presidir a sociedade. Portanto, é preciso um mutirão, com velocidade própria, considerando metodologias adequadas, um envolvimento de todos, impelindo particularmente o poder público, para desenhar novos cenários. As igrejas de diferentes confissões, com sua capilaridade, seus espaços, seus membros, podem se aliar às instituições de ensino e, em cooperação com outros segmentos, desenhar um projeto de ação, simples, incidente e com força de mudar este cenário.
Importante é também olhar o conjunto da sociedade e identificar as outras formas de analfabetismo, que ajudam a explicar a atual carência dos processos formais de educação básica eficiente. Ajuda neste exercício escutar o Papa Francisco, quando fala de três males que estão corroendo a contemporaneidade: as misérias moral, material e espiritual. A miséria material é, sem dúvida, consequência das misérias espiritual e moral. A sociedade moderna está padecendo de um completo analfabetismo moral. Tudo é negociado, ameaçado, disputado e dividido. Infelizmente, valem os interesses que atendem demandas do que o Papa Francisco aponta como “idolatria do dinheiro”, levando a qualquer efeito, desde que o próprio interesse seja atendido, muitas vezes até com aparências de religiosidades e de comprometimento político. O analfabetismo moral está conduzindo a humanidade a um nível intolerável de prejuízos, muitos irreversíveis. Ele só será corrigido pela superação da miséria espiritual.
Esse analfabetismo, consequência da miséria espiritual, é o conjunto que reúne ganhos salariais exorbitantes, o consumo desarvorado e doentio, o desejo de poder que negocia tudo e os medos que fazem perder a serenidade na busca pelas correções necessárias. Para superar esses males e, consequentemente, desenvolver a imprescindível sensibilidade social, é preciso caminhar junto com os pobres e sofredores, buscar o caminho da espiritualidade como prática no seguimento de Jesus Cristo. Assim, serão encontradas as dinâmicas para promover atitudes de ruptura e novas escolhas, capazes de efetivamente combater o analfabetismo educacional e, particularmente, o analfabetismo moral. Todo cidadão deve se comprometer no fortalecimento das bases de uma sociedade mais solidária, travando uma grande luta contra todos esses tipos de analfabetismo.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Um mundo a ser transformado

Jesus anunciou a realidade do Reino de Deus, tão grande que foram necessárias comparações, as parábolas, para aproximar as pessoas de tal realidade e comprometê-las com seu crescimento. O Reino está presente no mundo e haverá de crescer cada dia mais, primeiro com a força da graça de Deus, mas também com nossa colaboração. A Igreja anuncia e faz presente este Reino de Deus, dando aos homens e mulheres que aderem ao Evangelho de Jesus a possibilidade de viver, desde já, as realidades da plenitude do tempo em que Deus será tudo em todos (Cf. 1 Cor 15,28). Até lá, “muita água deverá passar debaixo da ponte”, pelo que a tarefa assumida pelos cristãos se torna exigente e comprometedora.
Como estar presentes num mundo tão desafiador, com uma escandalosa inversão de valores, cujos efeitos de multiplicam e assustam tanto? Como mudar o rumo, quando vemos com clareza que se escorrega para crises cada vez mais profundas? Como se decidir de novo a sair do caos da violência e da desagregação social? Qual será a presença qualificada e efetiva dos cristãos no meio de tantos problemas? O Espírito Santo nos inspira e com docilidade desejamos seguir suas inspirações, sem omissões nem precipitações.
O Sermão da Montanha, cuja leitura acontece durante este período na Liturgia Dominical da Igreja, é chamado “Carta do Reino”, como a Constituição do Reino de Deus. Quem desejar entrar neste Reino e viver seus valores, pode começar com as Bem-aventuranças (Mt 5,1-12), para depois saborear as palavras que brotaram da boca do Senhor, treinando para que uma sadia avidez nos conduza a degustá-las e colocá-las em prática.
Duas realidades da natureza se prestam ao anúncio do Reino de Deus e à prática do Evangelho em todos os tempos, a saber, o Sal e a Luz (Mt 5,13-16). As parábolas são breves e incisivas, portadoras de sabedoria, como só do Senhor Jesus podem vir. Sal da Terra e Luz do mundo, assim deve ser o discípulo do Reino, esta é a vocação do cristão.
O sal comparece muitas vezes na Escritura e nas palavras de Jesus. Sal remete a gosto, sabor, que, por sua vez, conduz à sabedoria. O sal, na medida certa, faz com que os alimentos ganhem seu próprio sabor. Ele faz vir à tona o que existe de melhor nos alimentos. O sal, posto com exagero na comida, acaba fazendo mal. Não se trata tanto de senti-lo, mas permitir que ele faça aparecer o gosto das coisas. Conheço pessoas discretas em seu modo de viver, mas profundas em palavras e atitudes, carregadas de sabedoria, sem as quais a vida ficaria insossa. Muitas delas sabem fazer as observações certas na hora certa, escutam bastante antes de tirar conclusões, medem com prudência suas intervenções e fazem o mundo ser melhor. Fazem lembrar a recomendação de São Paulo: “Tratai com sabedoria os que não são da comunidade, aproveitando bem o momento. Que vossa conversa seja sempre agradável, com uma pitada de sal, de modo que saibais responder a cada um como convém” (Cl 4,5-6). Carecemos de mais gente “com sal”!
O excesso de tempero, passado à vida cotidiana, pode alertar-nos para o risco dos muitos fanatismos presentes em nosso tempo. Um protagonismo que pretenda fazer dos cristãos os proprietários do mundo é fadado ao fracasso. Somos chamados a ser servidores, homens e mulheres qualificados e ao mesmo tempo cheios de simplicidade.
Luz do Mundo! Jesus é a Luz do Mundo (Jo 8,12) e quem o segue não anda nas trevas. Quando fomos batizados, uma vela acesa foi entregue para significar uma missão confiada a cada cristão, chamado a iluminar as estradas da vida. Os que foram iluminados por Cristo na graça batismal são chamados a uma missão semelhante àquela do Senhor, para que a luz se espalhe. O bom exemplo edifica e arrasta as pessoas, atraindo-as irresistivelmente. O testemunho cristão atrai e transforma.
Mas também aqui se faz necessário observar que não fomos feitos para ofuscar quem quer que seja. Cristão não é feito para aparecer, a modo de desequilibrado vedetismo, mas chamado a conduzir, pelo seu comportamento, as pessoas ao próprio Deus. “Assim também brilhe a vossa luz diante das pessoas, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16). Testemunho bom é aquele que conduz à fonte! Duas tarefas desafiadoras a serem assumidas pelos cristãos.
A Palavra de Deus, no Profeta Isaías, pode abrir-nos uma das formas bem concretas para ajudarmos o mundo a ser melhor: “Se tirares do teu meio toda espécie de opressão, o dedo que acusa e a conversa maligna, se entregares ao faminto o que mais gostarias de comer, matando a fome de um humilhado, então a tua luz brilhará nas trevas, o teu escuro será igual ao meio-dia” (Is 58, 9-10). O escândalo cotidiano da opressão dos mais fracos tem exigido da Igreja, e Papa Francisco, em primeira linha, tem alertado a todos, uma nova atenção e criatividade da caridade.
O apelo se dirige a todos, pois há muita falta de gosto e de sentido para a existência, assim como tanta escuridão, bem perto de nós.  Referindo-se à situação econômica do mundo, diz o Papa: “Esta economia mata. Não é possível que a morte por enregelamento dum idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão. Não se pode tolerar mais o fato de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isto é desigualdade social. Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco. Em consequência desta situação, grandes massas da população veem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída. O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois lançar fora. Assim teve início a cultura do “descartável”, que, aliás, chega a ser promovida. Já não se trata simplesmente do fenômeno de exploração e opressão, mas duma realidade nova: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder já não está nela, mas fora. Os excluídos não são “explorados”, mas resíduos, “sobras”. Os excluídos continuam a esperar. A cultura do bem-estar anestesia-nos, a ponto de perdermos a serenidade se o mercado oferece algo que ainda não compramos, enquanto todas estas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem um mero espetáculo que não nos incomoda de forma alguma (Evangelii gaudium 53-54). É para começar já!      

 Dom Alberto Taveira, Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

«Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu» (Mt 5, 3)



«Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu» (Mt 5, 3)

Queridos jovens,

Permanece gravado na minha memória o encontro extraordinário que vivemos no Rio de Janeiro, na XXVIII Jornada Mundial da Juventude: uma grande festa da fé e da fraternidade. A boa gente brasileira acolheu-nos de braços escancarados, como a estátua de Cristo Redentor que domina, do alto do Corcovado, o magnífico cenário da praia de Copacabana. Nas margens do mar, Jesus fez ouvir de novo a sua chamada para que cada um de nós se torne seu discípulo missionário, O descubra como o tesouro mais precioso da própria vida e partilhe esta riqueza com os outros, próximos e distantes, até às extremas periferias geográficas e existenciais do nosso tempo.
A próxima etapa da peregrinação intercontinental dos jovens será em Cracóvia, em 2016. Para cadenciar o nosso caminho, gostaria nos próximos três anos de reflectir, juntamente convosco, sobre as Bem-aventuranças que lemos no Evangelho de São Mateus (5, 1-12). Começaremos este ano meditando sobre a primeira: «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu» (Mt 5, 3); para 2015, proponho: «Felizes os puros de coração, porque verão a Deus» (Mt 5, 8); e finalmente, em 2016, o tema será: «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» (Mt 5, 7).
1. A força revolucionária das Bem-aventuranças
É-nos sempre muito útil ler e meditar as Bem-aventuranças! Jesus proclamou-as no seu primeiro grande sermão, feito na margem do lago da Galileia. Havia uma multidão imensa e Ele, para ensinar os seus discípulos, subiu a um monte; por isso é chamado o «sermão da montanha». Na Bíblia, o monte é visto como lugar onde Deus Se revela; pregando sobre o monte, Jesus apresenta-Se como mestre divino, como novo Moisés. E que prega Ele? Jesus prega o caminho da vida; aquele caminho que Ele mesmo percorre, ou melhor, que é Ele mesmo, e propõe-no como caminho da verdadeira felicidade. Em toda a sua vida, desde o nascimento na gruta de Belém até à morte na cruz e à ressurreição, Jesus encarnou as Bem-aventuranças. Todas as promessas do Reino de Deus se cumpriram n’Ele.
Ao proclamar as Bem-aventuranças, Jesus convida-nos a segui-Lo, a percorrer com Ele o caminho do amor, o único que conduz à vida eterna. Não é uma estrada fácil, mas o Senhor assegura-nos a sua graça e nunca nos deixa sozinhos. Na nossa vida, há pobreza, aflições, humilhações, luta pela justiça, esforço da conversão quotidiana, combates para viver a vocação à santidade, perseguições e muitos outros desafios. Mas, se abrirmos a porta a Jesus, se deixarmos que Ele esteja dentro da nossa história, se partilharmos com Ele as alegrias e os sofrimentos, experimentaremos uma paz e uma alegria que só Deus, amor infinito, pode dar.
As Bem-aventuranças de Jesus são portadoras duma novidade revolucionária, dum modelo de felicidade oposto àquele que habitualmente é transmitido pelos mass media, pelo pensamento dominante. Para a mentalidade do mundo, é um escândalo que Deus tenha vindo para Se fazer um de nós, que tenha morrido numa cruz. Na lógica deste mundo, aqueles que Jesus proclama felizes são considerados «perdedores», fracos. Ao invés, exalta-se o sucesso a todo o custo, o bem-estar, a arrogância do poder, a afirmação própria em detrimento dos outros.
Queridos jovens, Jesus interpela-nos para que respondamos à sua proposta de vida, para que decidamos qual estrada queremos seguir a fim de chegar à verdadeira alegria. Trata-se dum grande desafio de fé. Jesus não teve medo de perguntar aos seus discípulos se verdadeiramente queriam segui-Lo ou preferiam ir por outros caminhos (cf. Jo 6, 67). E Simão, denominado Pedro, teve a coragem de responder: «A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna» (Jo 6, 68). Se souberdes, vós também, dizer «sim» a Jesus, a vossa vida jovem encher-se-á de significado, e assim será fecunda.
2. A coragem da felicidade
O termo grego usado no Evangelho é makarioi, «bem-aventurados». E «bem-aventurados» quer dizer felizes. Mas dizei-me: vós aspirais deveras à felicidade? Num tempo em que se é atraído por tantas aparências de felicidade, corre-se o risco de contentar-se com pouco, com uma ideia «pequena» da vida. Vós, pelo contrário, aspirai a coisas grandes! Ampliai os vossos corações! Como dizia o Beato Pierjorge Frassati, «viver sem uma fé, sem um património a defender, sem sustentar numa luta contínua a verdade, não é viver, mas ir vivendo. Não devemos jamais ir vivendo, mas viver» (Carta a I. Bonini, 27 de Fevereiro de 1925). Em 20 de Maio de 1990, no dia da sua beatificação, João Paulo II chamou-lhe «homem das Bem-aventuranças» (Homilia na Santa Missa:AAS 82 [1990], 1518).
Se verdadeiramente fizerdes emergir as aspirações mais profundas do vosso coração, dar-vos-eis conta de que, em vós, há um desejo inextinguível de felicidade, e isto permitir-vos-á desmascarar e rejeitar as numerosas ofertas «a baixo preço» que encontrais ao vosso redor. Quando procuramos o sucesso, o prazer, a riqueza de modo egoísta e idolatrando-os, podemos experimentar também momentos de inebriamento, uma falsa sensação de satisfação; mas, no fim de contas, tornamo-nos escravos, nunca estamos satisfeitos, sentimo-nos impelidos a buscar sempre mais. É muito triste ver uma juventude «saciada», mas fraca.
Escrevendo aos jovens, São João dizia: «Vós sois fortes, a palavra de Deus permanece em vós e vós vencestes o Maligno» (1 Jo2, 14). Os jovens que escolhem Cristo são fortes, nutrem-se da sua Palavra e não se «empanturram» com outras coisas. Tende a coragem de ir contra a corrente. Tende a coragem da verdadeira felicidade! Dizei não à cultura do provisório, da superficialidade e do descartável, que não vos considera capazes de assumir responsabilidades e enfrentar os grandes desafios da vida.
3. Felizes os pobres em espírito…
A primeira Bem-aventurança, tema da próxima Jornada Mundial da Juventude, declara felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu. Num tempo em que muitas pessoas penam por causa da crise económica, pode parecer inoportuno acostar pobreza e felicidade. Em que sentido podemos conceber a pobreza como uma bênção?
Em primeiro lugar, procuremos compreender o que significa «pobres em espírito». Quando o Filho de Deus Se fez homem, escolheu um caminho de pobreza, de despojamento. Como diz São Paulo, na Carta aos Filipenses: «Tende entre vós os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus: Ele, que é de condição divina, não considerou como uma usurpação ser igual a Deus; no entanto, esvaziou-Se a Si mesmo, tomando a condição de servo e tornando-Se semelhante aos homens» (2, 5-7). Jesus é Deus que Se despoja da sua glória. Vemos aqui a escolha da pobreza feita por Deus: sendo rico, fez-Se pobre para nos enriquecer com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9). É o mistério que contemplamos no presépio, vendo o Filho de Deus numa manjedoura; e mais tarde na cruz, onde o despojamento chega ao seu ápice.
O adjectivo grego ptochós (pobre) não tem um significado apenas material, mas quer dizer «mendigo». Há que o ligar com o conceito hebraico de anawim (os «pobres de Iahweh»), que evoca humildade, consciência dos próprios limites, da própria condição existencial de pobreza. Os anawim confiam no Senhor, sabem que dependem d’Ele.
Como justamente soube ver Santa Teresa do Menino Jesus, Cristo na sua Encarnação apresenta-Se como um mendigo, um necessitado em busca de amor. O Catecismo da Igreja Católica fala do homem como dum «mendigo de Deus» (n. 2559) e diz-nos que a oração é o encontro da sede de Deus com a nossa (n. 2560).
São Francisco de Assis compreendeu muito bem o segredo da Bem-aventurança dos pobres em espírito. De facto, quando Jesus lhe falou na pessoa do leproso e no Crucifixo, ele reconheceu a grandeza de Deus e a própria condição de humildade. Na sua oração, o Poverello passava horas e horas a perguntar ao Senhor: «Quem és Tu? Quem sou eu?» Despojou-se duma vida abastada e leviana, para desposar a «Senhora Pobreza», a fim de imitar Jesus e seguir o Evangelho à letra. Francisco viveu a imitação de Cristo pobre e o amor pelos pobres de modo indivisível, como as duas faces duma mesma moeda.
Posto isto, poder-me-íeis perguntar: Mas, em concreto, como é possível fazer com que esta pobreza em espírito se transforme em estilo de vida, incida concretamente na nossa existência? Respondo-vos em três pontos.
Antes de mais nada, procurai ser livres em relação às coisas. O Senhor chama-nos a um estilo de vida evangélico caracterizado pela sobriedade, chama-nos a não ceder à cultura do consumo. Trata-se de buscar a essencialidade, aprender a despojarmo-nos de tantas coisas supérfluas e inúteis que nos sufocam. Desprendamo-nos da ambição de possuir, do dinheiro idolatrado e depois esbanjado. No primeiro lugar, coloquemos Jesus. Ele pode libertar-nos das idolatrias que nos tornam escravos. Confiai em Deus, queridos jovens! Ele conhece-nos, ama-nos e nunca se esquece de nós. Como provê aos lírios do campo (cf. Mt 6, 28), também não deixará que nos falte nada! Mesmo para superar a crise económica, é preciso estar prontos a mudar o estilo de vida, a evitar tantos desperdícios. Como é necessária a coragem da felicidade, também é precisa a coragem da sobriedade.
Em segundo lugar, para viver esta Bem-aventurança todos necessitamos de conversão em relação aos pobres. Devemos cuidar deles, ser sensíveis às suas carências espirituais e materiais. A vós, jovens, confio de modo particular a tarefa de colocar a solidariedade no centro da cultura humana. Perante antigas e novas formas de pobreza – o desemprego, a emigração, muitas dependências dos mais variados tipos –, temos o dever de permanecer vigilantes e conscientes, vencendo a tentação da indiferença. Pensemos também naqueles que não se sentem amados, não olham com esperança o futuro, renunciam a comprometer-se na vida porque se sentem desanimados, desiludidos, temerosos. Devemos aprender a estar com os pobres. Não nos limitemos a pronunciar belas palavras sobre os pobres! Mas encontremo-los, fixemo-los olhos nos olhos, ouçamo-los. Para nós, os pobres são uma oportunidade concreta de encontrar o próprio Cristo, de tocar a sua carne sofredora.
Mas – e chegamos ao terceiro ponto – os pobres não são pessoas a quem podemos apenas dar qualquer coisa. Eles têm tanto para nos oferecer, para nos ensinar. Muito temos nós a aprender da sabedoria dos pobres! Pensai que um Santo do século XVIII, Bento José Labre – dormia pelas ruas de Roma e vivia das esmolas da gente –, tornara-se conselheiro espiritual de muitas pessoas, incluindo nobres e prelados. De certo modo, os pobres são uma espécie de mestres para nós. Ensinam-nos que uma pessoa não vale por aquilo que possui, pelo montante que tem na conta bancária. Um pobre, uma pessoa sem bens materiais, conserva sempre a sua dignidade. Os pobres podem ensinar-nos muito também sobre a humildade e a confiança em Deus. Na parábola do fariseu e do publicano (cf. Lc 18, 9-14), Jesus propõe este último como modelo, porque é humilde e se reconhece pecador. E a própria viúva, que lança duas moedinhas no tesouro do templo, é exemplo da generosidade de quem, mesmo tendo pouco ou nada, dá tudo (Lc 21, 1-4).
4. … porque deles é o Reino do Céu
Tema central no Evangelho de Jesus é o Reino de Deus. Jesus é o Reino de Deus em pessoa, é o Emanuel, Deus connosco. E é no coração do homem que se estabelece e cresce o Reino, o domínio de Deus. O Reino é, simultaneamente, dom e promessa. Já nos foi dado em Jesus, mas deve ainda realizar-se em plenitude. Por isso rezamos ao Pai cada dia: «Venha a nós o vosso Reino».
Há uma ligação profunda entre pobreza e evangelização, entre o tema da última Jornada Mundial da Juventude – «Ide e fazei discípulos entre todas as nações» (Mt 28, 19) – e o tema deste ano: «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu» (Mt 5, 3). O Senhor quer uma Igreja pobre, que evangelize os pobres. Jesus, quando enviou os Doze em missão, disse-lhes: «Não possuais ouro, nem prata, nem cobre, em vossos cintos; nem alforge para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado; pois o trabalhador merece o seu sustento» (Mt 10, 9-10). A pobreza evangélica é condição fundamental para que o Reino de Deus se estenda. As alegrias mais belas e espontâneas que vi ao longo da minha vida eram de pessoas pobres que tinham pouco a que se agarrar. A evangelização, no nosso tempo, só será possível por contágio de alegria.
Como vimos, a Bem-aventurança dos pobres em espírito orienta a nossa relação com Deus, com os bens materiais e com os pobres. À vista do exemplo e das palavras de Jesus, damo-nos conta da grande necessidade que temos de conversão, de fazer com que a lógica do ser mais prevaleça sobre a lógica do ter mais. Os Santos são quem mais nos pode ajudar a compreender o significado profundo das Bem-aventuranças. Neste sentido, a canonização de João Paulo II, no segundo domingo de Páscoa, é um acontecimento que enche o nosso coração de alegria. Ele será o grande patrono das Jornadas Mundiais da Juventude, de que foi o iniciador e impulsionador. E, na comunhão dos Santos, continuará a ser, para todos vós, um pai e um amigo.
No próximo mês de Abril, tem lugar também o trigésimo aniversário da entrega aos jovens da Cruz do Jubileu da Redenção. Foi precisamente a partir daquele acto simbólico de João Paulo II que principiou a grande peregrinação juvenil que, desde então, continua a atravessar os cinco continentes. Muitos recordam as palavras com que, no domingo de Páscoa do ano 1984, o Papa acompanhou o seu gesto: «Caríssimos jovens, no termo do Ano Santo, confio-vos o próprio sinal deste Ano Jubilar: a Cruz de Cristo! Levai-a ao mundo como sinal do amor do Senhor Jesus pela humanidade, e anunciai a todos que só em Cristo morto e ressuscitado há salvação e redenção».
Queridos jovens, o Magnificat, o cântico de Maria, pobre em espírito, é também o canto de quem vive as Bem-aventuranças. A alegria do Evangelho brota dum coração pobre, que sabe exultar e maravilhar-se com as obras de Deus, como o coração da Virgem, que todas as gerações chamam «bem-aventurada» (cf. Lc 1, 48). Que Ela, a mãe dos pobres e a estrela da nova evangelização, nos ajude a viver o Evangelho, a encarnar as Bem-aventuranças na nossa vida, a ter a coragem da felicidade.

Vaticano, 21 de Janeiro – Memória de Santa Inês, virgem e mártir - de 2014.

FRANCISCO.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Catequese do Papa Francisco na audiência da quarta-feira



Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje falarei a vocês da Eucaristia. A Eucaristia coloca-se no coração da “iniciação cristã”, junto ao Batismo e à Confirmação, e constitui a fonte da própria vida da Igreja. Deste Sacramento de amor, de fato, nasce cada autêntico caminho de fé, de comunhão e de testemunho.
Aquilo que vemos quando nos reunimos para celebrar a Eucaristia, a Missa, já nos faz intuir o que estamos para viver. No centro do espaço destinado à celebração encontra-se um altar, que é uma mesa, coberta por uma toalha e isto nos faz pensar em um banquete. Na mesa há uma cruz, a indicar que sobre aquele altar se oferece o sacrifício de Cristo: é Ele o alimento espiritual que ali se recebe, sob os sinais do pão e do vinho. Ao lado da mesa há o ambão, isso é, o lugar a partir do qual se proclama a Palavra de Deus: e isto indica que ali nós nos reunimos para escutar o Senhor que fala mediante as Sagradas Escrituras, e então o alimento que se recebe é também a sua Palavra.
Palavra e Pão na Missa tornam-se um só, como na Última Ceia, quando todas as palavras de Jesus, todos os sinais que havia feito, condensaram-se no gesto de partir o pão e de oferecer o cálice, antes do sacrifício da cruz, e naquelas palavras: “Tomai, comei, isto é o meu corpo…Tomai, bebei, isto é o seu sangue”.
O gesto de Jesus cumprido na Última Ceia é o extremo agradecimento ao Pai pelo seu amor, pela sua misericórdia. “Agradecimento” em grego se diz “Eucaristia”. E por isto o Sacramento se chama Eucaristia: é o supremo agradecimento ao Pai, que nos amou tanto a ponto de dar-nos o seu Filho por amor. Eis porque o termo Eucaristia resume todo aquele gesto, que é gesto de Deus e do homem junto, gesto de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Então a Celebração Eucarística é bem mais que um simples banquete: é propriamente o memorial da Páscoa de Jesus, o mistério central da salvação. “Memorial” não significa somente uma recordação, uma simples recordação, mas quer dizer que cada vez que celebramos este Sacramento participamos do mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo.
A Eucaristia é o ápice da ação da salvação de Deus: O Senhor Jesus, se fez pão partido por nós, derrama sobre nós toda a sua misericórdia e seu amor, e assim renova o nosso coração, a nossa existência e a maneira como nos relacionamos com Ele e com os irmãos.
É por isto que sempre, quando nos aproximamos deste sacramento, se diz de: “Receber a Comunhão”, de “fazer a Comunhão”: isto significa que o poder do Espírito Santo, a participação na mesa eucarística se conforma de modo profundo e único a Cristo, nos fazendo experimentar já a plena comunhão com o Pai que caracterizará o banquete celeste, onde com todos os Santos teremos a alegria de contemplar Deus face a face.
Queridos amigos, nunca conseguiremos agradecer ao Senhor pelo dom que nos fez com a Eucaristia! É um grande dom e por isto é tão importante ir à Missa aos domingos.
Ir à missa não somente para rezar, mas para receber a Comunhão, este pão que é o Corpo de Jesus Cristo que nos salva, nos perdoa, nos une ao Pai. É muito bom fazer isto! E todos os domingos, vamos à Missa porque é o próprio dia da ressurreição do Senhor. Por isto, o domingo é tão importante para nós.
E com a Eucaristia sentimos esta pertença à Igreja, ao Povo de Deus, ao Corpo de Deus, a Jesus Cristo. Nunca terminará em nós o seu valor e a sua riqueza. Por isto, pedimos que este Sacramento possa continuar a manter viva na Igreja a sua presença e a moldar as nossas comunidades na caridade e na comunhão, segundo o coração do Pai. E isto se faz durante toda a vida, mas tudo começa no dia da primeira comunhão.
É importante que as crianças se preparem bem para a primeira comunhão e que todas as crianças a façam, porque é o primeiro passo desta forte adesão a Cristo, depois do Batismo e da Crisma.

(Tradução Canção Nova Notícias/Tradução: Jéssica Marçal e Paula Dizaró

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Bispo da Diocese de Crato é inocentado de denúncias

A Diocese de Crato, no Ceará, emitiu nota na última semana sobre o relatório final da Polícia Civil, que concluiu que o bispo dom Fernando Panico é inocente da acusação de estelionato.
“Depois de seis meses de investigações, a Polícia Civil concluiu que o Bispo de Crato, dom Fernando Panico, é inocente das acusações de estelionato que lhe foram feitas. As investigações foram iniciadas atendendo ao pedido de sete inquilinos residentes em casas pertencentes ao patrimônio da Diocese de Crato”, destacou a nota.
De acordo com o Relatório Final do Inquérito nº 446-618/2013, de 29 de janeiro de 2014, “não ocorreu crime de estelionato por parte dos gestores da Diocese de Crato, contra os inquilinos ora representados”.
Abaixo a nota distribuída pela Assessoria de Imprensa da Diocese de Crato sobre a declaração de reconhecimento da inocência de Dom Fernando Panico:
Investigações concluem que Bispo de Crato é inocente das acusações
O Relatório Final do Inquérito nº 446-618/2013, de 29 de janeiro de 2014, da Polícia Civil, concluiu que o Bispo de Crato, Dom Fernando Panico, é inocente da acusação de estelionato. As investigações foram feitas atendendo pedido de sete inquilinos de casas pertencentes à Diocese de Crato.
Ouvidas diversas pessoas, inclusive os próprios inquilinos, e anexado ao inquérito diversos documentos, o Delegado Regional de Polícia, Dr. Flávio Santos da Silva, determinou o encerramento da investigação concluindo que não houve crime. Eis a parte final do relatório da autoridade policial: “Acreditamos concluídos os trabalhos da polícia judiciária, determino ao senhor escrivão que proceda ao envio dos autos ao poder judiciário desta Comarca SEM INDICIAMENTO, por entender que NÃO OCORREU CRIME DE ESTELIONATO, por parte dos gestores da DIOCESE DE CRATO, contra os inquilinos ora representados, tendo em vista estes não haverem experimentado nenhum prejuízo, conforme consta no bojo dos autos. Crato, 29 de janeiro de 2014. Dr. Flávio Santos da Silva – Delegado”.
Esclarecida a questão, a Diocese de Crato, lamenta que essa denúncia, explorada pelos meios de comunicação, de forma maldosa e sensacionalista, tenha se espalhado rapidamente Brasil afora, divulgada que foi na Internet, por alguns jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão com o único objetivo de atribuir falsamente a Dom Fernando Panico a responsabilidade de um crime inexistente.
Fica este episódio como lição, para que no futuro, a honra e imagem de pessoas de bem não venha a ser enlameada e maculada por atos e ações intempestivas, indevidas e irresponsáveis.
Ouvido sobre o veredito da Polícia Judiciária, Dom Fernando Panico declarou: “Esclarecido este episódio, e embora eu tenha passado por grandes sofrimentos e incompreensões, perdoo a todos os que me acusaram e não guardo rancores de ninguém”.
 
Fonte: Assessoria de Imprensa da Diocese de Crato.

Deus não se revela mediante o poder e a riqueza do mundo, mas mediante a fragilidade e a pobreza



“Conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por vós a fim de enriquecer-vos com a sua pobreza”. Estas são as palavras do apóstolo São Paulo que o Santo Padre propõe como referência para a reflexão nesta quaresma.
São palavras que "nos dizem qual é o estilo de Deus. Deus não se revela mediante o poder e a riqueza do mundo, mas mediante a fragilidade e a pobreza". Francisco lembra que Cristo se tornou pobre, se aproximou de cada um de nós, se despojou, se "esvaziou" para ser semelhante a nós. E a razão disso é "o amor divino, um amor que é graça, generosidade, desejo de proximidade, e que não hesita em se doar e sacrificar pelas criaturas que Ele ama". Porque "a caridade, o amor, consiste em partilhar em tudo a sorte do amado" e "o amor nos assemelha, cria igualdade, derruba os muros e as distâncias". Deste modo, o papa indica que, "ao se tornar pobre, Jesus não quer a pobreza em si mesma, e sim nos enriquecer com a sua pobreza". Por este motivo, "Deus não fez a salvação cair do alto sobre nós, como a esmola de quem dá uma parte do que lhe é supérfluo, por aparente piedade filantrópica". O pontífice recorda, nesta mensagem, que Jesus foi batizado para ficar no meio das pessoas e "carregar o peso dos nossos pecados".
E essa pobreza com que Jesus nos liberta e nos enriquece, observa o Santo Padre, é o seu "modo de nos amar, de estar perto de nós, como o bom samaritano". Mais ainda: "o que nos dá a verdadeira liberdade, a verdadeira salvação e a verdadeira felicidade é o seu amor cheio de compaixão, de ternura, que quer dividir tudo conosco". Neste ponto, Francisco destaca que "a pobreza de Cristo é a maior riqueza: a riqueza de Jesus é a sua confiança ilimitada em Deus Pai".
Depois de refletir sobre a pobreza de Jesus, Francisco convida a pensar em nosso próprio caminho. "Em toda época e lugar, Deus continua salvando os homens e o mundo mediante a pobreza de Cristo, que se faz pobre nos Sacramentos, na Palavra e na Igreja, que é um povo de pobres", afirma o pontífice. Ele recorda que "os cristãos são chamados a olhar para as misérias dos irmãos, tocá-las, cuidar delas e realizar obras concretas para aliviá-las". Francisco observa também que "a miséria é a pobreza sem confiança, sem solidariedade, sem esperança".
O papa sublinha três tipos de miséria: a miséria material, a miséria moral e a miséria espiritual.
A miséria material, que costumamos chamar de pobreza, "atinge os que vivem numa condição que não é digna da pessoa humana". Diante dessa miséria, "a Igreja oferece o seu serviço, a sua diaconia, para responder às necessidades e curar essas feridas que desfiguram o rosto da humanidade". Por isso, "os nossos esforços se orientam a encontrar o modo de acabar com as violações da dignidade humana no mundo, com as discriminações e com os abusos".
A miséria moral é aquela que nos "transforma em escravos do vício e do pecado". O papa fala das pessoas que "perderam o sentido da vida, estão privadas de perspectivas para o futuro e perderam a esperança" E faz referência ainda às "pessoas que se veem obrigadas a viver essa miséria por causa de condições sociais injustas, por falta de trabalho, o que as priva da dignidade de levar o pão para casa, por falta de igualdade no direito à educação e à saúde". Nesses casos, Francisco afirma que a miséria moral bem poderia ser chamada de "suicídio incipiente".
Finalmente, ele fala da miséria espiritual, "que nos golpeia quando nos afastamos de Deus e rejeitamos o seu amor". O Santo Padre avisa que, "se considerarmos que não precisamos de Deus, nos encaminharemos para a estrada do fracasso", porque "Deus é o único que salva e liberta verdadeiramente".
Recordando que o cristão é chamado a transmitir em todos os ambientes o anúncio libertador de que existe o perdão do mal cometido, Francisco afirma que "é bonito experimentar a alegria de estender esta boa nova, de compartilhar o tesouro que nos foi confiado, para consolar os corações aflitos e dar esperança a tantos irmãos e irmãs submersos no vazio".
Para encerrar, o pontífice nos lembra que a quaresma "é um tempo adequado para se despojar. E nos fará bem perguntar-nos de que podemos nos privar para ajudar e enriquecer os outros com a nossa pobreza". Ele enfatiza, por fim, que a "verdadeira pobreza dói", avisando: "Desconfio da esmola que não custa nem dói".

Fonte: Zenit.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Uma flor para todos os inocentes mortos pela nossa "mediocridade cristã"

"O maior pecado de hoje é que as pessoas perderam o sentido do pecado". Por trás do jogo de palavras que o papa Francisco retomou de Pio XII, esconde-se uma grande verdade: quando falta a presença de Deus e do seu Reino, até mesmo os pecados graves, como o adultério e o homicídio, se reduzem a "um problema a ser resolvido".

Este foi o cerne da homilia do papa na missa de hoje, celebrada na Casa Santa Marta. Ele começou falando novamente sobre o rei Davi e focando em particular na primeira leitura de hoje, que fala da forte paixão do rei por Betsabá, esposa de Urias, um dos seus generais. A paixão leva Davi a mandar o general para as linhas de frente de batalha, a fim de lhe causar a morte e assim obter a sua mulher livremente.
O rei, na verdade, perpetra o assassinato de um homem inocente, cometendo um pecado mortal adicional ao de adultério. No entanto, observa o papa Francisco, nem uma coisa nem a outra o afeta muito: "Davi está diante de um grande pecado, mas não sente que pecou", "não lhe ocorre pedir perdão. O que lhe vem à mente é: como é que eu posso resolver isso?".
O problema, disse o papa, não é tanto o fato de que o rei tinha pecado: "Para todos nós pode acontecer isso. Todos somos pecadores e somos tentados, e a tentação é o nosso pão de cada dia". Aliás, “se algum de nós dissesse: ‘mas eu nunca tive tentações’, significa ou que é um querubim ou que é um pouco bobo, não acham?”. É normal, na vida, lutar e cair, porque "o diabo não fica quieto: ele quer a vitória".
O problema "mais grave" surge a partir da passagem do profeta Samuel: "não é a tentação e o pecado contra o nono mandamento, mas o modo de agir de Davi", que "não fala de pecado", mas de "um problema que precisa de solução. Isto é um sinal!”: um sinal de que, “quando o Reino de Deus não está presente, quando o Reino de Deus diminui, perde-se o sentido do pecado”.
Por esta razão, pedimos, no pai-nosso, “Venha a nós o vosso Reino”. Pedimos que Deus faça crescer o seu Reino, porque, quando perdemos o sentido do pecado, também perdemos o sentido do Reino de Deus. Em seu lugar, disse o papa, emerge uma "visão antropológica superpotente", para a qual "eu posso tudo"; e esse "poder do homem" é sobreposto à "glória de Deus". Deveríamos nos lembrar sempre de que "a salvação não virá da nossa esperteza, da nossa astúcia, da nossa inteligência", mas "da graça de Deus e da prática de todos os dias desta graça na vida cristã".
“Eu”, revelou o papa, “confesso que, quando vejo essas injustiças, essa soberba humana, quando vejo o perigo de que isso aconteça comigo mesmo, o risco de perder o sentido do pecado, me faz bem pensar nos muitos Urias da história, nos Urias que ainda hoje sofrem a nossa mediocridade cristã, quando perdemos o sentido do pecado...".
Eles "são os mártires dos nossos pecados não reconhecidos". Rezar nos fará bem, "para que o Senhor nos dê sempre a graça de não perder o sentido do pecado". E também nos faria bem "levar uma flor espiritual até o túmulo desses Urias contemporâneos, que pagam a conta do banquete daqueles cristãos que se sentem seguros".

Fonte: Zenit.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Posse do Padre Manoel




Horários do primeiro domingo de fevereiro na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em Maringá.

08h00 da manhã missa da posse do Padre Manoel Silva Filho
07h00 da noite missa com bênção das velas.

Você é convidado e convidada a vir celebrar conosco.