Agentes financeiros obcecados pelo lucro fácil em detrimento do bem comum
A Santa Sé considera que a crise econômica se deve à obsessão pelo lucro fácil e assinala entre seus responsáveis os agentes do sistema financeiro que deveriam ter controlado a prestação de contas.
Assim expôs o observador permanente da Santa Sé no Escritório das Nações Unidas de Genebra, o arcebispo Silvano M. Tomasi, em sua intervenção na 10ª sessão especial do Conselho dos Direitos do Homem sobre o impacto da crise econômica e financeira mundial, publicada nesta terça-feira pela Sala de Imprensa do Vaticano.
O representante do Papa constatou que «a crise financeira mundial criou uma recessão global, provocando consequências sociais dramáticas, inclusive a perda de milhões de postos de trabalho e o sério risco de que não se alcancem os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio para muitos dos países em vias de desenvolvimento».
Deste modo, denunciou, «os direitos humanos de inumeráveis pessoas ficam comprometidos, inclusive o direito à alimentação, à água, à saúde e a um trabalho decente».
E, o que pode ser pior, disse o arcebispo, que fala com experiência de ter sido no passado núncio apostólico da Etiópia e Eritreia, «quando amplos segmentos de uma população nacional veem seus direitos sociais e econômicos desvanecidos, a perda de esperança põe em perigo a paz».
Por este motivo, assegurou, «a comunidade internacional tem o legítimo direito de perguntar por que esta situação aconteceu, de quem é a responsabilidade».
«A crise foi causada, em parte – indicou –, pelo problemático comportamento de alguns dos agentes do sistema financeiro e econômico, inclusive administradores de bancos e aqueles que deveriam ter sido mais diligentes em aplicar os sistemas de controle e prestação de contas.»
Porém, reconheceu, «as causas da crise, contudo, são mais profundas».
Citando as proféticas palavras de Pio XI, escritas na encíclica Quadragesimo Anno, em plena crise de 1929, o arcebispo que afirmou que «salta aos olhos de todos, em primeiro lugar, que em nossos tempos não só se acumulam riquezas, mas também se acumula uma descomunal e tirânica potência econômica nas mãos de poucos, que a maior parte das vezes não são donos, mas só custódios de uma riqueza em depósito, que eles administram de acordo com sua vontade e arbítrio».
Também observou «como a livre concorrência se destruiu, baseando-se no lucro como único critério».
«A crise atual tem dimensões econômicas, jurídicas e culturais – assinalou. A atividade financeira não pode reduzir-se a ter lucros fáceis; deve incluir a promoção do bem comum entre quem oferece empréstimos, entre quem recebe os empréstimos e entre quem trabalha.»
Citando fontes do Banco Mundial, o representante vaticano explicou que, em 2009, a atual crise global poderia levar outros 53 milhões de pessoas a viverem abaixo do limiar dos dois dólares americanos por dia.
Este número se acrescenta aos 130 milhões de pessoas que caíram na pobreza por causa do aumento dos preços de alimentos e energia.
«Estas tendências ameaçam seriamente o resultado da luta contra a pobreza proposta pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio para 2015», concluiu Dom Tomasi.
Fonte: Zenit.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
Pastoral Social
om este artigo, queremos esclarer o que é a Pastoral Social, sua finalidade, objetivos, estrutura e a forma de organizá-la. Entendemos por Pastoral Social, no singular, a solicitude de toda a Igreja para com as questões sociais. O termo Pastorais Sociais constituese em ações voltadas concretamente para os diferentes grupos ou diferentes facetas da exclusão social.
Já o Setor Pastoral Social, tem duplo caráter: por um lado, representa uma referência para toda a ação social da Igreja, em termos de assessoria, elaboração de subsídios e reflexão teórica. Por outro lado, é um espaço de articulação das Pastorais Sociais e Organismos que desenvolvem ações específicas no campo sócio-político.
O QUE É PASTORAL SOCIAL
A Pastoral Social tem como finalidade concretizar em ações sociais e específicas o cuidado da Igreja diante de situações reais de marginalização. Os textos bíblicos destacam em suas páginas alguns rostos que têm a predileção do amor de Deus. São rostos anônimos, os quais, em função do trabalho pastoral, vão recuperando o nome e a história na medida em que são assumidos com amor.
A Pastoral Social é essa solicitude da Igreja voltada especialmente para a condição sócio-econômica da população. Hoje como ontem, ela se preocupa com as questões relacionadas à saúde, à habitação, ao trabalho, à educação, enfim, às condições reais da existência, à qualidade de vida. “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
Resumindo, a dimensão sóciotransformadora da ação da Igreja é constituída de quatro aspectos complementares e indissociáveis: sensibilidade para com os fracos e indefesos, solidariedade frente a determinadas emergências, profetismo no combate à injustiça e espiritualidade libertadora.
OBJETIVO GERAL
As Pastorais Sociais integram, junto com outros Organismos e setores, a exigência do Serviço na ação evangelizadora da Igreja no Brasil. Assim, entende-se que o Objetivo Geral dessa dimensão é “contribuir, à luz da Palavra de Deus e das Diretrizes Gerais da CNBB, para a transformação dos corações e das estruturas da sociedade em que vivemos, em vista da construção de uma nova sociedade, o Reino de Deus”.
A Pastoral Social, por sua vez, tem como objetivo desenvolver atividades concretas que viabilizem essa transformação em situações específicas, tais como o mundo do trabalho, a realidade das ruas, o campo da mobilidade humana, os presídios, as situações de marginalização da mulher, dos trabalhadores rurais, dos pescadores, e assim por diante.
Evidente que a Pastoral Social não tem o monopólio da transformação social e da busca de alternativas. Outras pastorais e dimensões da Igreja também trabalham na mesma direção, inclusive outras Igrejas, cristãs ou não, preocupam-se pela transformação das estruturas injustas da sociedade.
ESTRUTURA
Atualmente a estrutura da CNBB organiza-se em 10 Comissões Episcopais de Pastoral. As Pastorais Sociais situam-se na Comissão para o Serviço da Caridade da Justiça e da Paz e tem no serviço a sua exigência evangelizadora predominante. Em nível nacional, esta Comissão reúne sob sua articulação catorze Pastorais e quatro Organismos.
As Pastorais são as seguintes: Pastoral Operária, Pastoral do Povo de Rua, Conselho Pastoral dos Pescadores, Pastoral dos Nômades, Pastoral da Mulher Marginalizada, Pastoral do Menor, Pastoral da Saúde, Serviço Pastoral dos Migrantes, Pastoral Afro-brasileira, Pastoral Carcerária, Comissão Pastoral da Terra, Pastoral da Sobriedade, Pastoral da Pessoa Idosa e Setor da Pastoral da Mobilidade Humana.
Os organismos são: Cáritas Brasileira, IBRADES (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Social), CERIS (Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais), Pastoral da Criança e CBJP (Comissão Brasileira de Justiça e Paz).
4.ª Semana Social Brasileira
Com o objetivo de articular as forças sociais do país, fazer um diagnóstico da sociedade brasileira, identificar seus principais desafios e buscar alternativas conjuntas e viáveis, a 4.ª SSB é um espaço na construção de um Projeto Nacional. Busca-se um Brasil e um mundo economicamente justo, politicamente democrático, socialmente eqüitativo e solidário, cultural e religiosamente plural e ambientalmente sustentável. Trata-se de um processo que se estende de 2004 a 2006, envolvendo entidades, movimentos sociais, dioceses e organiza ções em geral.
A SSB faz acontecer o Mutirão por um novo Brasil, com o tema:
Articulação das Forças Sociais participando da construção do Brasil que queremos. www.semanasocialbrasileira.org.br
PASSOS PARA ORGANIZAR UMA PASTORAL SOCIAL
Para cada face da exclusão existe uma pastoral social específica. E se não existe, é interessante criar um serviço de presença evangélica e de atuação pastoral, que, com o tempo, pode vir a se tornar uma nova pastoral social.
1. O ponto de partida de qualquer ação é uma tomada de consciência da realidade local, com atenção especial para os grupos que mais sofrem o peso da exclusão. Esta conscientização da realidade pode ser feita através de visitas pastorais, de pesquisas e levantamentos ou de um trabalho científico, com assessoria de organismos apropriados, como já acontece, em muitas comunidades, por ocasião da Campanha da Fraternidade.
2. Criação de uma equipe de base que acompanhe de perto essa situação específica ou categoria de pessoas marginalizadas. Essa equipe, como sugere o nome, é responsável pelo trabalho de base, de visita. Marca presença nos lugares onde são identificados tais rostos.
3. A partir dessa presença e acompanhamento, o terceiro passo é desenvolver atividades de apoio e solidariedade aos movimentos sociais e à luta por melhores condições de vida e trabalho, o que significa uma ação lenta e persistente de conscientização, organização e mobilização.
4. As diversas equipes de base das pastorais específicas devem promover encontros conjuntos da Pastoral Social, reunindo-se com certa freqüência, seja em nível comunitário e paroquial, seja em nível diocesano e regional. Tais encontros servem para trocar experiências, traçar metas comuns e planejar atividades gerais.
5. O quinto passo diz respeito à integração entre as pastorais. Neste caso é necessário escolher lideranças e agentes que possam encontrar-se nos diversos níveis para coordenar as ações conjuntas. Lembramos ainda a articulação com as Pastorais Sociais da CNBB.
PARA REFLETIR
1. Você entendeu o que é Pastoral Social? Explique.
2. Sua comunidade está desenvolvendo as Pastorais Sociais? Quais?
3. Sua comunidade se preocupa somente com seus problemas ou se interessa também pelos graves problemas do mundo? Como?
Já o Setor Pastoral Social, tem duplo caráter: por um lado, representa uma referência para toda a ação social da Igreja, em termos de assessoria, elaboração de subsídios e reflexão teórica. Por outro lado, é um espaço de articulação das Pastorais Sociais e Organismos que desenvolvem ações específicas no campo sócio-político.
O QUE É PASTORAL SOCIAL
A Pastoral Social tem como finalidade concretizar em ações sociais e específicas o cuidado da Igreja diante de situações reais de marginalização. Os textos bíblicos destacam em suas páginas alguns rostos que têm a predileção do amor de Deus. São rostos anônimos, os quais, em função do trabalho pastoral, vão recuperando o nome e a história na medida em que são assumidos com amor.
A Pastoral Social é essa solicitude da Igreja voltada especialmente para a condição sócio-econômica da população. Hoje como ontem, ela se preocupa com as questões relacionadas à saúde, à habitação, ao trabalho, à educação, enfim, às condições reais da existência, à qualidade de vida. “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
Resumindo, a dimensão sóciotransformadora da ação da Igreja é constituída de quatro aspectos complementares e indissociáveis: sensibilidade para com os fracos e indefesos, solidariedade frente a determinadas emergências, profetismo no combate à injustiça e espiritualidade libertadora.
OBJETIVO GERAL
As Pastorais Sociais integram, junto com outros Organismos e setores, a exigência do Serviço na ação evangelizadora da Igreja no Brasil. Assim, entende-se que o Objetivo Geral dessa dimensão é “contribuir, à luz da Palavra de Deus e das Diretrizes Gerais da CNBB, para a transformação dos corações e das estruturas da sociedade em que vivemos, em vista da construção de uma nova sociedade, o Reino de Deus”.
A Pastoral Social, por sua vez, tem como objetivo desenvolver atividades concretas que viabilizem essa transformação em situações específicas, tais como o mundo do trabalho, a realidade das ruas, o campo da mobilidade humana, os presídios, as situações de marginalização da mulher, dos trabalhadores rurais, dos pescadores, e assim por diante.
Evidente que a Pastoral Social não tem o monopólio da transformação social e da busca de alternativas. Outras pastorais e dimensões da Igreja também trabalham na mesma direção, inclusive outras Igrejas, cristãs ou não, preocupam-se pela transformação das estruturas injustas da sociedade.
ESTRUTURA
Atualmente a estrutura da CNBB organiza-se em 10 Comissões Episcopais de Pastoral. As Pastorais Sociais situam-se na Comissão para o Serviço da Caridade da Justiça e da Paz e tem no serviço a sua exigência evangelizadora predominante. Em nível nacional, esta Comissão reúne sob sua articulação catorze Pastorais e quatro Organismos.
As Pastorais são as seguintes: Pastoral Operária, Pastoral do Povo de Rua, Conselho Pastoral dos Pescadores, Pastoral dos Nômades, Pastoral da Mulher Marginalizada, Pastoral do Menor, Pastoral da Saúde, Serviço Pastoral dos Migrantes, Pastoral Afro-brasileira, Pastoral Carcerária, Comissão Pastoral da Terra, Pastoral da Sobriedade, Pastoral da Pessoa Idosa e Setor da Pastoral da Mobilidade Humana.
Os organismos são: Cáritas Brasileira, IBRADES (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Social), CERIS (Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais), Pastoral da Criança e CBJP (Comissão Brasileira de Justiça e Paz).
4.ª Semana Social Brasileira
Com o objetivo de articular as forças sociais do país, fazer um diagnóstico da sociedade brasileira, identificar seus principais desafios e buscar alternativas conjuntas e viáveis, a 4.ª SSB é um espaço na construção de um Projeto Nacional. Busca-se um Brasil e um mundo economicamente justo, politicamente democrático, socialmente eqüitativo e solidário, cultural e religiosamente plural e ambientalmente sustentável. Trata-se de um processo que se estende de 2004 a 2006, envolvendo entidades, movimentos sociais, dioceses e organiza ções em geral.
A SSB faz acontecer o Mutirão por um novo Brasil, com o tema:
Articulação das Forças Sociais participando da construção do Brasil que queremos. www.semanasocialbrasileira.org.br
PASSOS PARA ORGANIZAR UMA PASTORAL SOCIAL
Para cada face da exclusão existe uma pastoral social específica. E se não existe, é interessante criar um serviço de presença evangélica e de atuação pastoral, que, com o tempo, pode vir a se tornar uma nova pastoral social.
1. O ponto de partida de qualquer ação é uma tomada de consciência da realidade local, com atenção especial para os grupos que mais sofrem o peso da exclusão. Esta conscientização da realidade pode ser feita através de visitas pastorais, de pesquisas e levantamentos ou de um trabalho científico, com assessoria de organismos apropriados, como já acontece, em muitas comunidades, por ocasião da Campanha da Fraternidade.
2. Criação de uma equipe de base que acompanhe de perto essa situação específica ou categoria de pessoas marginalizadas. Essa equipe, como sugere o nome, é responsável pelo trabalho de base, de visita. Marca presença nos lugares onde são identificados tais rostos.
3. A partir dessa presença e acompanhamento, o terceiro passo é desenvolver atividades de apoio e solidariedade aos movimentos sociais e à luta por melhores condições de vida e trabalho, o que significa uma ação lenta e persistente de conscientização, organização e mobilização.
4. As diversas equipes de base das pastorais específicas devem promover encontros conjuntos da Pastoral Social, reunindo-se com certa freqüência, seja em nível comunitário e paroquial, seja em nível diocesano e regional. Tais encontros servem para trocar experiências, traçar metas comuns e planejar atividades gerais.
5. O quinto passo diz respeito à integração entre as pastorais. Neste caso é necessário escolher lideranças e agentes que possam encontrar-se nos diversos níveis para coordenar as ações conjuntas. Lembramos ainda a articulação com as Pastorais Sociais da CNBB.
PARA REFLETIR
1. Você entendeu o que é Pastoral Social? Explique.
2. Sua comunidade está desenvolvendo as Pastorais Sociais? Quais?
3. Sua comunidade se preocupa somente com seus problemas ou se interessa também pelos graves problemas do mundo? Como?
domingo, 22 de fevereiro de 2009
“Nunca vimos uma coisa assim”.
SÉTIMO DOMINGO COMUM
Mc 2, 1-12
“Nunca vimos uma coisa assim”.
O texto de hoje inicia uma série de cinco controvérsias entre Jesus e diferentes grupos dentro do judaísmo da sua época (fariseus, escribas, seguidores de João Batista, saduceus, herodianos), mostrando como o sistema religioso e político vigente era incapaz de reconhecer a novidade da chegada do Reino de Deus, e se opunha a Jesus. Essa série vai de 2, 1 até 3, 6 e vai terminar com a frase “faziam um plano para matar Jesus”. É como se Marcos quisesse mostrar-nos para onde levaria a fidelidade de Jesus no seguimento da vontade do Pai. Já a Cruz começa a mostrar a sua sombra desde o início. A primeira das controvérsias é gerada pela cura de um paralítico. Para imaginar a cena, devemos lembrar que se trata de uma casa da Palestina antiga - uma casa de um andar só, cujo teto em forma de terraço era feito de taipa - por isso a facilidade em descer a maca pelo teto. Mas, aqui também se esconde uma verdade sobre a vivência que Jesus quer - o paralítico dependia da solidariedade dos outros para que chegasse ao lugar da cura. Não é possível o verdadeiro seguimento de Jesus sem a solidariedade efetiva, especialmente com os mais sofridos e frágeis da sociedade. Mais uma vez, Marcos enfatiza que a fé precede o milagre, pois Jesus logo faz a cura “vendo a fé que eles tinham”. Jesus não se contenta com um milagre que somente sana o sintoma do mal. Ele diz: “os seus pecados são curados” - pois atrás de todos os males do mundo há o pecado como raiz - seja pecado individual ou, muitas vezes, social e comunitário. Como diz Paulo “a criação inteira geme como em dores do parto” (Rm 8, 22). Quantos sofrimentos hoje são causados pela ganância e corrupção enraizadas nas estruturas da nossa sociedade. Jesus ensina que não podemos nos contentar somente com ações isoladas que dirimem alguns casos individuais - por tão importantes que possam ser esses gestos de solidariedade. Também temos que extirpar do nosso meio as raízes dos males - não com ritos esdrúxulos, mas com ações organizadas, motivadas pela fé, para que construamos o mundo que Deus quer, onde “todos tenham a vida e a tenha em abundância” (Jo 10, 10). Mais uma vez é interessante comparar no texto as reações das pessoas diante da ação libertadora de Jesus. Os donos do poder, aqui representados pelos doutores da Lei, ficam escandalizados e enraivecidos com Jesus, pois a pregação e a ação dele ameaçam o seu poder sobre o povo. Mas, do outro lado, o povo simples, sofrendo a opressão da classe dominante político-religiosa, fica cheio de admiração e de alegria e louva a Deus, pois “nunca vimos coisa assim”. Sempre há quem se escandalize com a pregação ou ação libertadora, pois quer a continuidade de um sistema opressor, seja ele político, econômico, ou religioso, - ou muitas vezes uma combinação dos três, pois freqüentemente a religião é usada para justificar, em nome de Deus, a exploração sócio-econômica da maioria. A ação de Jesus é integral. Ele cura por fora e por dentro. Não podemos nos contentar com uma ação que não tem essa integração - não há cura “interior” a não ser que leve a um mundo material onde todos têm vida digna; mas uma ação que ataca os sintomas dos males também não surtirá efeito duradouro se não atingir a raiz dos males - o pecado, a opção pelo mal, nos seus aspectos individuais, sociais e comunitários.
O texto de hoje inicia uma série de cinco controvérsias entre Jesus e diferentes grupos dentro do judaísmo da sua época (fariseus, escribas, seguidores de João Batista, saduceus, herodianos), mostrando como o sistema religioso e político vigente era incapaz de reconhecer a novidade da chegada do Reino de Deus, e se opunha a Jesus. Essa série vai de 2, 1 até 3, 6 e vai terminar com a frase “faziam um plano para matar Jesus”. É como se Marcos quisesse mostrar-nos para onde levaria a fidelidade de Jesus no seguimento da vontade do Pai. Já a Cruz começa a mostrar a sua sombra desde o início. A primeira das controvérsias é gerada pela cura de um paralítico. Para imaginar a cena, devemos lembrar que se trata de uma casa da Palestina antiga - uma casa de um andar só, cujo teto em forma de terraço era feito de taipa - por isso a facilidade em descer a maca pelo teto. Mas, aqui também se esconde uma verdade sobre a vivência que Jesus quer - o paralítico dependia da solidariedade dos outros para que chegasse ao lugar da cura. Não é possível o verdadeiro seguimento de Jesus sem a solidariedade efetiva, especialmente com os mais sofridos e frágeis da sociedade. Mais uma vez, Marcos enfatiza que a fé precede o milagre, pois Jesus logo faz a cura “vendo a fé que eles tinham”. Jesus não se contenta com um milagre que somente sana o sintoma do mal. Ele diz: “os seus pecados são curados” - pois atrás de todos os males do mundo há o pecado como raiz - seja pecado individual ou, muitas vezes, social e comunitário. Como diz Paulo “a criação inteira geme como em dores do parto” (Rm 8, 22). Quantos sofrimentos hoje são causados pela ganância e corrupção enraizadas nas estruturas da nossa sociedade. Jesus ensina que não podemos nos contentar somente com ações isoladas que dirimem alguns casos individuais - por tão importantes que possam ser esses gestos de solidariedade. Também temos que extirpar do nosso meio as raízes dos males - não com ritos esdrúxulos, mas com ações organizadas, motivadas pela fé, para que construamos o mundo que Deus quer, onde “todos tenham a vida e a tenha em abundância” (Jo 10, 10). Mais uma vez é interessante comparar no texto as reações das pessoas diante da ação libertadora de Jesus. Os donos do poder, aqui representados pelos doutores da Lei, ficam escandalizados e enraivecidos com Jesus, pois a pregação e a ação dele ameaçam o seu poder sobre o povo. Mas, do outro lado, o povo simples, sofrendo a opressão da classe dominante político-religiosa, fica cheio de admiração e de alegria e louva a Deus, pois “nunca vimos coisa assim”. Sempre há quem se escandalize com a pregação ou ação libertadora, pois quer a continuidade de um sistema opressor, seja ele político, econômico, ou religioso, - ou muitas vezes uma combinação dos três, pois freqüentemente a religião é usada para justificar, em nome de Deus, a exploração sócio-econômica da maioria. A ação de Jesus é integral. Ele cura por fora e por dentro. Não podemos nos contentar com uma ação que não tem essa integração - não há cura “interior” a não ser que leve a um mundo material onde todos têm vida digna; mas uma ação que ataca os sintomas dos males também não surtirá efeito duradouro se não atingir a raiz dos males - o pecado, a opção pelo mal, nos seus aspectos individuais, sociais e comunitários.
Fonte: Pe. Tomaz Hughes, SVD
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Conversão de Claudia Koll
Um encontro entre a atriz e o Espírito Santo
Por Claudia Soberón
Claudia Koll, uma das atrizes italianas de maior êxito, descobriu junto a Cristo que sua vida profissional pode ter uma fecundidade nunca antes vista.
Um dos frutos de sua conversão ao cristianismo é seu envolvimento na nova academia de espetáculo Star Rose Academy, com sede em Roma, que pretende formar jovens artistas profissionalmente, apresentando valores profundos.
Claudia Koll, nascida nesta cidade em 17 de maio de 1965, após estudar artes cênicas com Susan Strasberg e Geraldine Baron no Drama Course, assim como com Yves Le Baron em «Le Coq School», desempenhou seu primeiro papel de cinema como protagonista em 1992, em um filme erótico de Tinto Brass.
Atriz de teatro, cinema e televisão, destacou-se ao lado de Antonio Bandeiras no filme «O jovem Mussolini».
Agora, depois de uma longa trajetória no mundo do espetáculo, ela se deu conta de que algo lhe faltava e mudou sua vida, assim como seu trabalho.
Iniciou então ações de voluntariado e de beneficência em várias partes da África e da Itália. Sua vida tomou um novo rumo, mas ela não deixou sua carreira de atriz. Hoje ela explica, nesta entrevista à Zenit, o que significa ser atriz desde esta nova ótica cristã.
«Significa não ter medo de ser você mesmo, de encontrar um modo pessoal de atuar, e não de acordo com os modelos fixos, mas fazer uma viagem ao interior e, quando se é autêntico na busca de si mesmo, necessariamente se busca também Deus», comenta.
Claudia Koll explica a reviravolta da sua vida após a conversão, na hora de escolher novos personagens.
«Foi um período no qual deixei de trabalhar porque não recebia roteiros interessantes, com personagens positivos que pudesse interpretar. Chegavam, no entanto, leituras, por exemplo, do cântico dos cânticos, um livro da Bíblia muito belo, maravilhoso. Para interpretá-lo, era necessário estudar, aprofundar, porque cada palavra é densa, está cheia de significado, mas também era necessário rezar.»
A partir daí, «tive de aproximar-me do texto não de maneira superficial, mas estudando-o e também rezando. E esta harmonia de estudo e oração me pôs em contato com a profundidade do Espírito Santo», confessa.
Com relação ao seu trabalho como professora em Roma de uma Academia para jovens promessas baseada em valores, reconhece que seu objetivo é ensinar à luz de sua experiência pessoal.
«No passado, fiz cursos de arte cênica clássica italiana e americana, que são de algum modo um ensino de acordo com método americano de ‘viver a personagem’.»
Agora, seu método de ensinamento se vê enriquecido pela visão cristã, pois «o Senhor me libertou de tantas ataduras».
Ela acrescenta que o Espírito Santo se converteu agora em seu roteiro na interpretação de um personagem.
Com sua conversão, explica, «vi que o Senhor estava me ensinando e me dizia que me acompanhava com seu Espírito, não só no que supunha a possibilidade de ser testemunha do encontro com Ele, mas também em meu trabalho, porque o Espírito Santo está sempre conosco, e então é necessário aprender a comunicar-nos com Ele, deixar-nos guiar por Ele. Esta é a maior riqueza que o Senhor me deu em meu trabalho».
Um dos frutos de sua conversão ao cristianismo é seu envolvimento na nova academia de espetáculo Star Rose Academy, com sede em Roma, que pretende formar jovens artistas profissionalmente, apresentando valores profundos.
Claudia Koll, nascida nesta cidade em 17 de maio de 1965, após estudar artes cênicas com Susan Strasberg e Geraldine Baron no Drama Course, assim como com Yves Le Baron em «Le Coq School», desempenhou seu primeiro papel de cinema como protagonista em 1992, em um filme erótico de Tinto Brass.
Atriz de teatro, cinema e televisão, destacou-se ao lado de Antonio Bandeiras no filme «O jovem Mussolini».
Agora, depois de uma longa trajetória no mundo do espetáculo, ela se deu conta de que algo lhe faltava e mudou sua vida, assim como seu trabalho.
Iniciou então ações de voluntariado e de beneficência em várias partes da África e da Itália. Sua vida tomou um novo rumo, mas ela não deixou sua carreira de atriz. Hoje ela explica, nesta entrevista à Zenit, o que significa ser atriz desde esta nova ótica cristã.
«Significa não ter medo de ser você mesmo, de encontrar um modo pessoal de atuar, e não de acordo com os modelos fixos, mas fazer uma viagem ao interior e, quando se é autêntico na busca de si mesmo, necessariamente se busca também Deus», comenta.
Claudia Koll explica a reviravolta da sua vida após a conversão, na hora de escolher novos personagens.
«Foi um período no qual deixei de trabalhar porque não recebia roteiros interessantes, com personagens positivos que pudesse interpretar. Chegavam, no entanto, leituras, por exemplo, do cântico dos cânticos, um livro da Bíblia muito belo, maravilhoso. Para interpretá-lo, era necessário estudar, aprofundar, porque cada palavra é densa, está cheia de significado, mas também era necessário rezar.»
A partir daí, «tive de aproximar-me do texto não de maneira superficial, mas estudando-o e também rezando. E esta harmonia de estudo e oração me pôs em contato com a profundidade do Espírito Santo», confessa.
Com relação ao seu trabalho como professora em Roma de uma Academia para jovens promessas baseada em valores, reconhece que seu objetivo é ensinar à luz de sua experiência pessoal.
«No passado, fiz cursos de arte cênica clássica italiana e americana, que são de algum modo um ensino de acordo com método americano de ‘viver a personagem’.»
Agora, seu método de ensinamento se vê enriquecido pela visão cristã, pois «o Senhor me libertou de tantas ataduras».
Ela acrescenta que o Espírito Santo se converteu agora em seu roteiro na interpretação de um personagem.
Com sua conversão, explica, «vi que o Senhor estava me ensinando e me dizia que me acompanhava com seu Espírito, não só no que supunha a possibilidade de ser testemunha do encontro com Ele, mas também em meu trabalho, porque o Espírito Santo está sempre conosco, e então é necessário aprender a comunicar-nos com Ele, deixar-nos guiar por Ele. Esta é a maior riqueza que o Senhor me deu em meu trabalho».
Fonte: Zenit.
Pastoral social: conversão aos pobres
Bispo auxiliar de São Paulo destaca pontos do novo Plano de Pastoral da arquidiocese
O Plano de Pastoral recém-lançado pela arquidiocese de São Paulo chama a uma conversão pastoral à vida da cidade e seus pobres, afirma o bispo auxiliar Dom Pedro Luiz Stringhini.
Dom Pedro Stringhini, que é o responsável pelas pastorais sociais na arquidiocese de São Paulo, explicou ao jornal arquidiocesano «O São Paulo» que o apostolado social da Igreja visa a que a ação eclesial «tenha incidência na realidade dos pobres da cidade».
«A questão social é muito ampla e os problemas sociais assumem demandas de grande proporção num município de onze milhões de habitantes, inserido numa área metropolitana com cerca de dezoito milhões», disse.
Segundo o bispo, o 10° Plano de Pastoral (2009-2012) toma como referência situações de pobreza e exclusão destacadas no Documento de Aparecida.
«Migrantes e imigrantes, moradores de rua, doentes e enfermos, dependentes químicos, encarcerados, crianças, adolescentes e jovens, populações indígenas e desempregados», afirmou.
Dom Stringhini disse que a Igreja quer continuar a marcar sua presença «solidária e evangelizadora» junto dessas pessoas, e assim ajudá-las a conhecer «o Evangelho de Jesus Cristo e a pertencer a uma comunidade eclesial, onde encontrarão apoio material, humano, espiritual».
O bispo explica que o Plano de Pastoral convida a uma «conversão pastoral» à questão social, isto é, à «vida da cidade e seus pobres».
Isso implica «um envolvimento maior das comunidades e dos que dela participam, a começar pelos agentes de pastoral e ministros ordenados, com a questão social», disse.
«Que cada comunidade cristã, movida pela caridade de Cristo, tenha ações organizadas de caridade para com os pobres», pede o bispo.
Dom Stringhini destaca que a Igreja «não atua sozinha para melhorar a cidade.
«É preciso ter em mente duas necessidades: a de conhecer a cidade por meio de dados recentes, atualizados e comprovados, e a de realizar parcerias, seja com órgãos públicos seja com outras organizações da sociedade civil», afirmou.
Dom Pedro Stringhini, que é o responsável pelas pastorais sociais na arquidiocese de São Paulo, explicou ao jornal arquidiocesano «O São Paulo» que o apostolado social da Igreja visa a que a ação eclesial «tenha incidência na realidade dos pobres da cidade».
«A questão social é muito ampla e os problemas sociais assumem demandas de grande proporção num município de onze milhões de habitantes, inserido numa área metropolitana com cerca de dezoito milhões», disse.
Segundo o bispo, o 10° Plano de Pastoral (2009-2012) toma como referência situações de pobreza e exclusão destacadas no Documento de Aparecida.
«Migrantes e imigrantes, moradores de rua, doentes e enfermos, dependentes químicos, encarcerados, crianças, adolescentes e jovens, populações indígenas e desempregados», afirmou.
Dom Stringhini disse que a Igreja quer continuar a marcar sua presença «solidária e evangelizadora» junto dessas pessoas, e assim ajudá-las a conhecer «o Evangelho de Jesus Cristo e a pertencer a uma comunidade eclesial, onde encontrarão apoio material, humano, espiritual».
O bispo explica que o Plano de Pastoral convida a uma «conversão pastoral» à questão social, isto é, à «vida da cidade e seus pobres».
Isso implica «um envolvimento maior das comunidades e dos que dela participam, a começar pelos agentes de pastoral e ministros ordenados, com a questão social», disse.
«Que cada comunidade cristã, movida pela caridade de Cristo, tenha ações organizadas de caridade para com os pobres», pede o bispo.
Dom Stringhini destaca que a Igreja «não atua sozinha para melhorar a cidade.
«É preciso ter em mente duas necessidades: a de conhecer a cidade por meio de dados recentes, atualizados e comprovados, e a de realizar parcerias, seja com órgãos públicos seja com outras organizações da sociedade civil», afirmou.
Fonte: Zenit.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Fraternidade e Segurança Pública
Secretário geral da CNBB fala sobre Campanha da Fraternidade no Brasil
A Campanha da Fraternidade da Igreja no Brasil, realizada na Quaresma, discute nesta edição o tema «Fraternidade e Segurança Pública».
O secretário geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), Dom Dimas Lara Barbosa, concedeu entrevista à Assessoria de Imprensa da CNBB para falar sobre a Campanha.
–Quais são os objetivos da CF 2009?
–Dom Dimas Lara: A CF tem como objetivo mais profundo levar à vivência da Quaresma, tempo forte de conversão, em que por meio da oração, do jejum, da caridade, da escuta da Palavra, da vida comunitária, nos preparamos para viver de maneira mais concreta a própria Páscoa. A Campanha deste ano mostra a preocupação da Igreja com o problema da violência e da insegurança que assola a sociedade de maneira geral, nos grandes centros, no interior e no campo. Nosso objetivo é suscitar um debate sobre a questão da Segurança Pública, [conhecer] as causas da violência e a cultura do medo que reina em muitos lugares. Queremos promover uma cultura da paz em todos os âmbitos. –O texto-base da CF 2009 fala em conflito e violência. Qual a diferença entre esses dois atos? Como lidar com cada tipo de situação?
–Dom Dimas Lara: Pode haver um conflito de ideias ou de decisões, por exemplo, no momento de uma assembleia escolher a prioridade da diocese ou da paróquia. Os conflitos podem surgir, inclusive, dentro da própria casa. A questão é a maneira como se vai resolver o conflito, se através do diálogo, buscando uma síntese, ou da força, da violência, de modo que as opiniões de uma pessoa prevaleçam diante da realidade do outro. Se por conflitos entendemos divergências, é evidente que, ao se trabalhar juntos, eles vão surgir. O conflito não precisa necessariamente levar à violência. Queremos trabalhar o conflito através do diálogo. Para mediar os conflitos mais sérios, podemos criar, no nível de Igreja, um ministério e, no nível dos poderes públicos, uma atividade institucional. Atualmente o principal mediador de conflitos é o juiz, o sistema judiciário que, diante de um conflito de interesses, verifica, à luz da legislação, quem é que tem razão. Existem propostas de leis para se ampliar essa mediação de conflitos de modo que não apenas advogados, mas também psicólogos, teólogos, possam atuar como mediadores de conflitos, por exemplo, entre casais.–E a violência?
–Dom Dimas Lara: Se a violência existe, ela precisa ser denunciada. A sociedade tem o direito de defender, sobretudo aqueles que são mais vulneráveis. Sabemos que existe a violência doméstica gravíssima, sobretudo contra a mulher e a criança. Existe a violência dos grupos do crime organizado; há a violência tanto praticada quanto sofrida por policiais; existe o racismo, violência simbólica. Isso sem contar os abusos explícitos no que diz respeito aos direitos humanos: tortura nas prisões, trabalho escravo. Há casos em que é possível fazer com que essas violências cessem através de uma mediação, de um trabalho de reconciliação e de perdão. Há excelentes trabalhos como o da Pastoral Familiar, Pastoral Carcerária, Pastoral do Menor, que ajudam pessoas que, muitas vezes, estão vivenciando uma verdadeira desestruturação psicológica e familiar. Existem outros casos, no entanto, em que é preciso a denúncia profética para que a força da autoridade pública se faça valer. Aí o judiciário e a polícia têm mais eficiência. Não somos contra uma ação da polícia, mas ela não precisa ser feita de modo a combater a violência com mais violência. Quando a violência existe, a postura tem de ser de defesa, sobretudo, dos inocentes e mais vulneráveis. –Como a Igreja vai agir junto às comunidades para trabalhar um tema tão complexo como Segurança Pública?
–Dom Dimas Lara: Acima de tudo a Campanha da Fraternidade quer suscitar o debate para que cada comunidade levante as situações de mais insegurança e violência presentes nela, questione sobre suas causas e procure se organizar para combatê-las pela raiz. Nesse sentido, a paz que queremos construir como fruto da justiça há de ser resultado de um mutirão, com a sociedade organizada atuando em parceria com as organizações da Igreja e o Poder Público para buscar soluções.
O texto-base da CF, no entanto, apresenta, como sugestões, várias pistas de ação. Algumas, evidentemente, valem para todos, como procurar conhecer a Defensoria Pública e fazer parcerias com ela para que, por exemplo, os pobres tenham um advogado que os defenda em casos de necessidade. As comunidades podem participar das conferências municipais, estaduais e nacional de Segurança Pública, organizadas pelo Ministério da Justiça que permite, ainda, a realização das chamadas Conferências Livres. Elas podem ser organizadas por qualquer comunidade, associação de moradores, condomínios. As conclusões destas Conferências Livres podem ser enviadas diretamente para o Ministério da Justiça, sem a necessidade de passar pela Secretaria Estadual e Municipal de Segurança Pública. –Como despertar nas comunidades a responsabilidade pela Segurança Pública e pela promoção da cultura de paz?
–Dom Dimas Lara: Através da própria dinâmica da CF, que apresenta diversos subsídios. O texto-base é apenas o texto fundamental, a partir do qual foram elaborados outros como celebrações penitenciais, via-sacra, círculos bíblicos, encontros para as famílias, para a juventude, para as escolas. Além disso, o tema da CF é apresentado no Congresso Nacional e o texto-base enviado aos deputados, ministros e outras autoridades. O tema é discutido também nas escolas e universidades. A CF atinge desde as populações ribeirinhas, no Amazonas, até os condomínios das nossas grandes cidades. Nenhum outro instrumento da Igreja Católica no Brasil tem uma capilaridade como essa. –A Campanha da Fraternidade tem um gesto concreto que é a Coleta da Solidariedade. Qual sua finalidade?
–Dom Dimas Lara: O gesto concreto é uma atividade peculiar, enquanto se trata de uma doação em dinheiro feita na coleta do domingo de Ramos. Com isso é constituído o Fundo Nacional de Solidariedade que financia projetos das mais diversas comunidades. Centenas de projetos, pequenos, médios e grandes, são financiados a partir desta colaboração. Essa é outra forma de colaborar com a Campanha da Fraternidade.
O secretário geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), Dom Dimas Lara Barbosa, concedeu entrevista à Assessoria de Imprensa da CNBB para falar sobre a Campanha.
–Quais são os objetivos da CF 2009?
–Dom Dimas Lara: A CF tem como objetivo mais profundo levar à vivência da Quaresma, tempo forte de conversão, em que por meio da oração, do jejum, da caridade, da escuta da Palavra, da vida comunitária, nos preparamos para viver de maneira mais concreta a própria Páscoa. A Campanha deste ano mostra a preocupação da Igreja com o problema da violência e da insegurança que assola a sociedade de maneira geral, nos grandes centros, no interior e no campo. Nosso objetivo é suscitar um debate sobre a questão da Segurança Pública, [conhecer] as causas da violência e a cultura do medo que reina em muitos lugares. Queremos promover uma cultura da paz em todos os âmbitos. –O texto-base da CF 2009 fala em conflito e violência. Qual a diferença entre esses dois atos? Como lidar com cada tipo de situação?
–Dom Dimas Lara: Pode haver um conflito de ideias ou de decisões, por exemplo, no momento de uma assembleia escolher a prioridade da diocese ou da paróquia. Os conflitos podem surgir, inclusive, dentro da própria casa. A questão é a maneira como se vai resolver o conflito, se através do diálogo, buscando uma síntese, ou da força, da violência, de modo que as opiniões de uma pessoa prevaleçam diante da realidade do outro. Se por conflitos entendemos divergências, é evidente que, ao se trabalhar juntos, eles vão surgir. O conflito não precisa necessariamente levar à violência. Queremos trabalhar o conflito através do diálogo. Para mediar os conflitos mais sérios, podemos criar, no nível de Igreja, um ministério e, no nível dos poderes públicos, uma atividade institucional. Atualmente o principal mediador de conflitos é o juiz, o sistema judiciário que, diante de um conflito de interesses, verifica, à luz da legislação, quem é que tem razão. Existem propostas de leis para se ampliar essa mediação de conflitos de modo que não apenas advogados, mas também psicólogos, teólogos, possam atuar como mediadores de conflitos, por exemplo, entre casais.–E a violência?
–Dom Dimas Lara: Se a violência existe, ela precisa ser denunciada. A sociedade tem o direito de defender, sobretudo aqueles que são mais vulneráveis. Sabemos que existe a violência doméstica gravíssima, sobretudo contra a mulher e a criança. Existe a violência dos grupos do crime organizado; há a violência tanto praticada quanto sofrida por policiais; existe o racismo, violência simbólica. Isso sem contar os abusos explícitos no que diz respeito aos direitos humanos: tortura nas prisões, trabalho escravo. Há casos em que é possível fazer com que essas violências cessem através de uma mediação, de um trabalho de reconciliação e de perdão. Há excelentes trabalhos como o da Pastoral Familiar, Pastoral Carcerária, Pastoral do Menor, que ajudam pessoas que, muitas vezes, estão vivenciando uma verdadeira desestruturação psicológica e familiar. Existem outros casos, no entanto, em que é preciso a denúncia profética para que a força da autoridade pública se faça valer. Aí o judiciário e a polícia têm mais eficiência. Não somos contra uma ação da polícia, mas ela não precisa ser feita de modo a combater a violência com mais violência. Quando a violência existe, a postura tem de ser de defesa, sobretudo, dos inocentes e mais vulneráveis. –Como a Igreja vai agir junto às comunidades para trabalhar um tema tão complexo como Segurança Pública?
–Dom Dimas Lara: Acima de tudo a Campanha da Fraternidade quer suscitar o debate para que cada comunidade levante as situações de mais insegurança e violência presentes nela, questione sobre suas causas e procure se organizar para combatê-las pela raiz. Nesse sentido, a paz que queremos construir como fruto da justiça há de ser resultado de um mutirão, com a sociedade organizada atuando em parceria com as organizações da Igreja e o Poder Público para buscar soluções.
O texto-base da CF, no entanto, apresenta, como sugestões, várias pistas de ação. Algumas, evidentemente, valem para todos, como procurar conhecer a Defensoria Pública e fazer parcerias com ela para que, por exemplo, os pobres tenham um advogado que os defenda em casos de necessidade. As comunidades podem participar das conferências municipais, estaduais e nacional de Segurança Pública, organizadas pelo Ministério da Justiça que permite, ainda, a realização das chamadas Conferências Livres. Elas podem ser organizadas por qualquer comunidade, associação de moradores, condomínios. As conclusões destas Conferências Livres podem ser enviadas diretamente para o Ministério da Justiça, sem a necessidade de passar pela Secretaria Estadual e Municipal de Segurança Pública. –Como despertar nas comunidades a responsabilidade pela Segurança Pública e pela promoção da cultura de paz?
–Dom Dimas Lara: Através da própria dinâmica da CF, que apresenta diversos subsídios. O texto-base é apenas o texto fundamental, a partir do qual foram elaborados outros como celebrações penitenciais, via-sacra, círculos bíblicos, encontros para as famílias, para a juventude, para as escolas. Além disso, o tema da CF é apresentado no Congresso Nacional e o texto-base enviado aos deputados, ministros e outras autoridades. O tema é discutido também nas escolas e universidades. A CF atinge desde as populações ribeirinhas, no Amazonas, até os condomínios das nossas grandes cidades. Nenhum outro instrumento da Igreja Católica no Brasil tem uma capilaridade como essa. –A Campanha da Fraternidade tem um gesto concreto que é a Coleta da Solidariedade. Qual sua finalidade?
–Dom Dimas Lara: O gesto concreto é uma atividade peculiar, enquanto se trata de uma doação em dinheiro feita na coleta do domingo de Ramos. Com isso é constituído o Fundo Nacional de Solidariedade que financia projetos das mais diversas comunidades. Centenas de projetos, pequenos, médios e grandes, são financiados a partir desta colaboração. Essa é outra forma de colaborar com a Campanha da Fraternidade.
(CNBB)
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Bispos solidários com sofrimento dos indígenas latino-americanos
Expressam os desafios que a Igreja tem hoje para sua atenção pastoral
Os bispos da América Latina e do Caribe denunciaram a situação de sofrimento em que vivem muitos indígenas e lhes manifestaram seu compromisso solidário, enunciando os desafios que a Igreja tem para oferecer-lhes uma melhor atenção pastoral.
Os prelados denunciaram os abusos do meio ambiente que se dão na América e que têm um sério impacto na vida dos indígenas.
«É um crime continuar explorando de forma indiscriminada o meio ambiente, que é fonte de vida da humanidade», diz em um dos seus parágrafos a mensagem emitida ao término do Encontro Latino-Americano de Pastoral Indígena, que, convocado pelo Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), realizou-se de 9 a 12 de fevereiro em Lima.
A convocatória para o encontro foi realizada por Dom Rodolfo Valenzuela, bispo de Verapaz (Guatemala) e responsável da seção Povos Originários, do CELAM, e reuniu bispos e secretários executivos das comissões de Pastoral de Povos Originários dos episcopados do México, Guatemala, Nicarágua, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Paraguai e Argentina.
As deliberações giraram em torno do tema «Palavra de Deus e Inculturação», com os seguintes conteúdos: sínodo da Palavra; Palavra de Deus e inculturação; animação bíblica da pastoral indígena; os povos indígenas no documento de Aparecida.
Um dos momentos significativos do encontro foi quando se compartilharam as experiências bíblicas no mudo indígena e cada um dos países representados.
Ao concluir as deliberações, os reunidos emitiram uma mensagem na qual resumem as conclusões dos quatro dias.
«Em um ambiente de oração, fraternidade, liberdade e grande esperança – afirma a mensagem –, constatamos que há avanços significativos no caminhar da pastoral indígena iluminada pela Palavra de Deus em toda a América Latina; no entanto, vemos que é preciso enfatizar alguns importantes aspectos desta pastoral.»
Estes aspectos são expostos nos 10 seguintes pontos:
«1. Anunciar e testemunhar explicitamente a pessoa de Jesus Cristo por meio da Sagrada Escritura, como forma privilegiada de encontro com o Senhor.
2. Fortalecer a encarnação da fé cristã na vida dos povos que têm uma longa tradição histórica de fé e espiritualidade. A fé se encarna em comunidades vivas que têm sua própria cultura.
3. Enfatizar a importância da aprendizagem dos idiomas próprios dos povos originários.
4. Promover a tradução católica da Bíblia aos diversos idiomas dos povos originários, como um direito deles a experimentar o amor do Pai que nos manifesta sua Palavra, no próprio idioma.
5. Reconhecer que o processo da inculturação do Evangelho é uma experiência comunitária. São os próprios povos que têm de fazer o discernimento à luz da Palavra de Deus. São eles os principais agentes da inculturação.
6. Assumir, em sintonia com o documento de Aparecida, a exigência de uma conversão pastoral, tanto pessoal como institucional. Isso significa ‘descolonizar as mentes... (DA 96), compartilhar suas lutas por uma vida digna, viver em proximidade de coração com os povos, sentir-se bem com eles, vencer os temores, valorizar as culturas, adaptar-se ao seu ritmo de vida, alimentos, festas, música...’.
7. Descobrir os carismas frente aos ministérios e fazer um reconhecimento explícito dos que já existem nas comunidades originárias.
8. Oferecer plena confiança aos indígenas, agentes de pastoral: sacerdotes, religiosas, animadores das comunidades e catequistas, para que se sintam apoiados e tenham o lugar que lhes corresponde, como protagonistas do processo de inculturação do Evangelho.
9. Promover um acompanhamento mais próximo da Palavra às comunidades e aos seus agentes. Que a Bíblia esteja mais presente em reuniões, encontros, celebrações e momentos significativos da vida.
10. Solicitar à Seção de Povos Originários do CELAM a organização de workshops para traduções da Bíblia e da Liturgia aos idiomas indígenas, com critérios bíblicos, litúrgicos, antropológicos, canônicos e pastorais que devem ser levados em consideração.»
A mensagem termina com uma invocação a «Maria de Guadalupe, Mãe e Companheira dos povos indígenas e originários no caminhar com o Evangelho».
Fonte: Zenit.
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
Dom Helder Camara homenageado em Recife
No centenário de nascimento do ex-arcebispo de Olinda e Recife
O presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), Dom Geraldo Lyrio Rocha, preside no próximo sábado, dia 7, em Recife, à missa solene em homenagem ao centenário de nascimento de Dom Helder Camara, ex-arcebispo de Olinda e Recife, falecido em 1999.
De acordo com a CNBB, a missa será celebrada em frente à igreja das Fronteiras, às 16h, e terá a participação de dezenas e bispos e padres. A expectativa é que cerca de duas mil pessoas de várias partes do Nordeste e de todo Brasil participem das comemorações.
Antes do início da celebração, os Correios entregarão a autoridades e representantes de movimentos criados por Dom Helder um selo que homenageia o seu centenário.
Ainda no sábado, as igrejas de Olinda e Recife tocarão seus sinos às 6h, 12h e 18h, para homenagear Dom Helder. Logo após a missa, será inaugurada no pátio das fronteiras uma escultura do bispo.
Os eventos do centenário são organizados pelo Regional Nordeste 2 (Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Pernambuco) da CNBB, Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), arquidiocese de Olinda e Recife, Instituto Dom Helder Câmara (IDHEC), Governo do estado e Prefeitura do Recife, além de outras entidades.
O presidente da Cáritas Brasileira, Dom Demétrio Valentini, destaca em artigo difundido pela CNBB nessa quarta-feira que a entidade assistencial «se sente particularmente ligada à pessoa de Dom Helder», já que ele foi o seu fundador, no ano de 1956.
A Cáritas se antecipa e promove uma homenagem especial ao seu primeiro secretário geral e presidente no dia 6 à noite.
«Quando a liturgia tem uma data especial a celebrar, ela começa no dia anterior, com as “primeiras vésperas”. A Cáritas se incumbe de entoar os primeiros louvores, sinalizando que a celebração é de “primeira classe”», afirma o bispo.
Bispo auxiliar do Rio de Janeiro, depois arcebispo de Olinda e Recife, um dos fundadores da CNBB e secretário-geral do organismo por 12 anos, Dom Helder foi voz marcante no Brasil em favor dos direitos humanos, da promoção da justiça e da opção preferencial pelos pobres.
Fonte: Zenit.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
PADRE LOMBARDI: "HOLOCAUSTO FAZ REFLETIR SOBRE O PODER DO MAL"
Fotos de Judaus Mortos
O Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Padre Federico Lombardi, respondeu ontem à chanceler alemã, Angela Merkel, afirmando que a Igreja não tolera a negação do Holocausto e que a readmissão de Dom Richard Williamson foi um ‘gesto de misericórdia paterna’. Horas antes, Merkel pedira ao Vaticano que expressasse sua real posição sobre o ‘negacionismo’, a conduta de negar o massacre de judeus no período do ‘Holocausto’. “A condenação às declarações ‘negacionistas’ do Holocausto, por parte do papa, ‘não podia ser mais clara’, e é evidente que se referiam seja à opinião de Dom Richard Williamson como a posições análogas” – afirmou Padre Lombardi, em um comunicado. Dom Williamson, que afirmou que as câmaras de gás não existiram e que os judeus não foram vítimas dos nazistas, é um dos quatro bispos integrantes da Fraternidade Sacerdotal São Pio X que tiveram a excomunhão revogada por Bento XVI no mês passado.“O pensamento do papa sobre o tema do Holocausto foi expresso com muita clareza na Sinagoga de Colônia, em 19 de agosto de 2005, no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, em 28 de maio de 2006, na audiência pública de 31 de maio de 2006 no Vaticano e na audiência de 28 de janeiro passado, com palavras inequívocas” – disse Padre Lombardi, recordando apenas algumas delas: “Enquanto renovo com afeto minha plena e indiscutível solidariedade para com nossos irmãos judeus, auspicio que a memória da Shoah induza a humanidade a refletir sobre a imprevisível potência do mal quando conquista o coração do homem” - destacou. “A Shoah deve ser para todos uma advertência contra o esquecimento, contra a negação e contra o reducionismo” - acrescentou o papa, na ocasião.
Fonte: Rádio Vaticano.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Decisão do papa sobre bispo que negou Holocausto é considerada ruptura
Um importante membro da comunidade judaica alemã disse na segunda-feira (dia 2) que o papa Bento 16, nascido na Alemanha e líder de mais de um bilhão de católicos romanos no mundo inteiro, estava semeando divisões e cooperando com grupos de extrema direita ao reabilitar bispos ultraconservadores, um dos quais negou o holocausto.Stephan Kramer, secretário-geral do Conselho Central de Judeus na Alemanha, disse em entrevista que, devido a sua nacionalidade, o papa Bento 16 tinha uma responsabilidade especial de evitar criar cisões entre grupos religiosos com base nos comentários do bispo controverso, Richard Williamson, do Reino Unido."A decisão do papa é particularmente perturbadora porque ele também é um papa alemão", disse Kramer. "Sim, ele fez uma declaração em solidariedade aos judeus, mas, francamente, a declaração foi feita quase 13 dias após a entrevista de Williamson. Por quê? A questão é como o papa quer proceder a partir deste ponto nas relações com a comunidade judaica."Bento 16 é um teólogo conservador e proeminente filósofo que se tornou papa em 2005. Sua decisão, no mês passado, de reabilitar os bispos conservadores chocou a comunidade judaica assim como as alas liberais da Igreja Católica do país, que conta com 26 milhões de fiéis. Williamson disse à televisão sueca no mês passado: "Acredito que não houve câmaras de gás", acrescentando que não mais do que 300.000 judeus haviam morrido nos campos de concentração nazistas, em vez de 6 milhões. Promotores públicos abriram uma investigação -porque a negação do Holocausto é crime na Alemanha. O Conselho de Judeus na Alemanha imediatamente rompeu relações com o Vaticano, terminando, pelo momento, um diálogo que precisou de décadas para ser fomentado.Kramer disse que a decisão do papa de reabilitar os bispos, particularmente Williamson, era "bastante chocante" e que daria credenciais às opiniões de algumas pessoas de extrema direita e de alguns católicos conservadores que alegam que o Holocausto não existiu ou que sua escala tem sido exagerada.Kramer disse que pretendia, junto com membros da Conferência de Bispos Católicos, o mais alto corpo da igreja aqui, pedir uma reunião com Bento "para esclarecer" não apenas a decisão sobre os bispos renegados, mas também o que ela significa para as relações entre católicos e judeus."Alguns grupos católicos talvez quisessem um rompimento de diálogo judaico-católico", disse Kramer. "Indo juntos ao Vaticano, nós e nossos amigos católicos provaremos o oposto."A medida de Bento 16 tinha como meta unificar a Igreja Católica, que tem uma cisão teológica desde o Segundo Concílio Vaticano, de 1962-65.Conclamado pelo papa João 23, o Vaticano II, como é conhecido o conselho, foi um passo extraordinário na doutrina católica, que até então tinha estado enraizada no tradicionalismo, na exclusividade e em uma opinião particularmente preconceituosa do judaísmo.O conselho dividiu a Igreja Católica entre teólogos fundamentalistas -que queriam manter a missa e os rituais em latim, como também sua distância de outras religiões- e uma ala mais moderna e liberal, que queria uma igreja questionadora, disposta a se tornar mais ecumênica em sua abordagem. Isso deixou de lado as questões de controle de natalidade e da teologia da libertação, que estavam começando a crescer na América Latina, na época sob duros regimes autoritários.No final, em uma grande mudança, o Vaticano II renunciou sua postura tradicional de que todos os judeus, inclusive os vivos, eram responsáveis pela crucificação de Jesus Cristo.Kramer disse que os esforços de Bento para reunificar a Igreja Católica, dividida em torno das questões de aceitação de padres homossexuais e da ordenação das mulheres, deixando de lado questões de contracepção e aborto, levaria a ainda mais divisões."Ele vai perder os católicos seculares", disse Kramer, que, como um dos mais proeminentes líderes judaicos Alemanha, cultivou fortes laços com grupos católicos.Os judeus na Alemanha já receberam apoio de católicos mais seculares e bispos proeminentes que criticaram o papa.A Conferência de Bispos Católicos alemã rejeitou a declaração de Williamson. Gerhard Ludwig Muller -bispo de Regensburg, que também é a cidade natal do papa- disse que Williamson não teria permissão de entrar na catedral da cidade ou em qualquer outra propriedade da igreja.No último sábado, em oposição crescente à decisão do papa, o bispo Gebhard Fust, de Rottenburg-Stuttgart, no Sul da Alemanha, emitiu uma declaração dizendo que a reabilitação dos bispos por Bento era "totalmente inaceitável".
Tradução: Deborah Weinberg (Fonte UOL)
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
Bento XVI: Jesus tinha um segredo
Palavras antes do Ângelus de hoje
Publicamos as palavras que Bento XVI dirigiu neste domingos ao rezar a oração mariana do Ângelus junto a milhares de peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.
* * *
Caros irmãos e irmãs!
Este ano, nas celebrações dominicais, a liturgia propõe para a nossa meditação o Evangelho de São Marcos, do qual uma singular característica é o assim chamado «segredo messiânico», o fato de Jesus não querer que por enquanto se saiba, fora do grupo restrito dos discípulos, que Ele é o Cristo, o Filho de Deus. Eis, então, que sempre volta a exortar, seja os apóstolos, seja os doentes, que cuidem para não revelar a ninguém sua identidade. Por exemplo, o trecho evangélico deste domingo (Mc 1, 21-28) narra um homem possuído pelo demônio, que de repente começa a gritar: «Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste nos arruinar? Sei quem és: o santo de Deus!». E Jesus o intima: «Cala-te! Sai dele!». E rapidamente, nota o evangelista, o espírito maligno, com gritos agonizantes, sai daquele homem. Jesus não só expulsa os demônios das pessoas, libertando-as das piores escravidões, mas impede aos próprios demônios de revelarem sua identidade. E insiste sobre este «segredo» porque está em jogo o sucesso de sua missão, da qual depende nossa salvação. Sabe, de fato, que para libertar a humanidade do domínio do pecado, Ele deverá ser sacrificado sobre a cruz como verdadeiro cordeiro pascal. O diabo, por sua vez, busca dissuadir-lhe para derrotá-lo sob a lógica humana de um Messias poderoso e cheio de sucesso. A cruz de Cristo será a ruína do demônio, e é para isso que Jesus não deixa de ensinar aos seus discípulos que, para entrar na sua glória, Ele deve padecer muito, ser rejeitado, condenado e crucificado (cf. Lc 24, 26), pois o sofrimento faz parte de sua missão.
Jesus sofre e morre na cruz por amor. Desse modo, Ele deu sentido ao nosso sofrimento, um sentido que muitos homens e mulheres de todas as épocas entenderam e tornaram seu, experimentando serenidade profunda também no amargor de duras provas físicas e morais. E justamente «a força da vida no sofrimento» é o tema que os bispos italianos escolheram para a conhecida Mensagem por ocasião da atual Jornada pela Vida. Uno-me de coração às suas palavras, nas quais se vê o amor dos pastores pelo povo, e à coragem de anunciar a verdade, a coragem de dizer com clareza, por exemplo, que a eutanásia é uma falsa solução para o drama do sofrimento, uma solução indigna do homem. A verdadeira resposta não pode ser a da morte, por mais que seja «doce», e sim o testemunho do amor que ajuda a enfrentar a dor e a agonia de forma humana.
Tenhamos certeza de uma coisa: nenhuma lágrima, nem de quem sofre, nem de quem lhe está próximo, se perde diante de Deus.
A Virgem Maria guardou em seu coração de mãe o segredo de seu Filho; compartilhou com ele a hora dolorosa da paixão e da crucifixão, apoiada na esperança da ressurreição. A Ela confiamos as pessoas que estão em sofrimento e quem se esforça todos os dias por seu sustento, servindo a vida em todas as suas fases: genitores, agentes da saúde, sacerdotes, religiosos, pesquisadores, voluntários e muitos outros. Rezamos por todos eles.
[Tradução: José Caetano. Revisão: Aline Banchieri
Fonte: Zenit.
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