quinta-feira, 30 de junho de 2016

Homilia completa do Papa: “A oração é a via de saída dos fechamentos da comunidade”

O Papa Francisco abençoou nesta quarta-feira, na Basílica de São Pedro, os pálios, antes da missa solene celebrada por ocasião da festividade dos santos apóstolos Pedro e Paulo.
O Pálio é uma estola circular de lã branca com cinco cruzes bordadas – símbolo do cordeiro que o bom pastor deve carregar – e serão entregues aos arcebispos metropolitanos que foram nomeados nesse ano passado.
Em sua homilia Francisco recordou que “a oração permite a passagem do fechamento para a abertura, do medo para a valentia, da tristeza para a alegria”; e, referindo-se à presenta da delegação ortodoxa de Constantinopla disse: “E podemos acrescentar: da divisão à unidade”.
Leia a homilia completa abaixo:
***
Nesta liturgia, a Palavra de Deus contém um binômio central: fechamento/abertura. E, relacionado com esta imagem, está também o símbolo das chaves, que Jesus promete a Simão Pedro para que ele possa, sem dúvida, abrir às pessoas a entrada no Reino dos Céus, e não fechá-la como faziam alguns escribas e fariseus hipócritas que Jesus censura (cf. Mt23, 13).
A leitura dos Atos dos Apóstolos (12, 1-11) apresenta-nos três fechamentos: o de Pedro na prisão; o da comunidade reunida em oração; e – no contexto próximo da nossa perícope – o da casa de Maria, mãe de João chamado Marcos, a cuja porta foi bater Pedro depois de ter sido libertado.
E vemos que a principal via de saída dos fechamentos é a oração: via de saída para a comunidade, que corre o risco de se fechar em si mesma por causa da perseguição e do medo; via de saída para Pedro que, já no início da missão que o Senhor lhe confiara, é lançado na prisão por Herodes e corre o risco de ser condenado à morte. E enquanto Pedro estava na prisão, «a Igreja orava a Deus, instantemente, por ele» (At 12, 5). E o Senhor responde à oração com o envio do seu anjo para o libertar, «arrancando-o das mãos de Herodes» (cf. v. 11). A oração, como humilde entrega a Deus e à sua santa vontade, é sempre a via de saída dos nossos fechamentos pessoais e comunitários. É a grande via de saída dos fechamentos.
O próprio Paulo, ao escrever a Timóteo, fala da sua experiência de libertação, de saída do perigo de ser ele também condenado à morte; mas o Senhor esteve ao seu lado e deu-lhe força para poder levar a bom termo a sua obra de evangelização dos gentios (cf. 2 Tm 4, 17). Entretanto Paulo fala duma «abertura» muito maior, para um horizonte infinitamente mais amplo: o da vida eterna, que o espera depois de ter concluído a «corrida» terrena. Assim é belo ver a vida do Apóstolo toda «em saída» por causa do Evangelho: toda projetada para a frente, primeiro, para levar Cristo àqueles que não O conhecem e, depois, para se lançar, por assim dizer, nos seus braços e ser levado por Ele «a salvo para o seu Reino celeste» (v. 18).
Mas voltemos a Pedro… A narração evangélica (Mt 16, 13-19) da sua confissão de fé e consequente missão a ele confiada por Jesus mostra-nos que a vida do pescador galileu Simão – como a vida de cada um de nós – se abre, desabrocha plenamente quando acolhe, de Deus Pai, a graça da fé. E Simão põe-se a caminhar – um caminho longo e duro – que o levará a sair de si mesmo, das suas seguranças humanas, sobretudo do seu orgulho misturado com uma certa coragem e altruísmo generoso. Decisiva neste seu percurso de libertação é a oração de Jesus: «Eu roguei por ti [Simão], para que a tua fé não desapareça» (Lc22, 32). E igualmente decisivo é o olhar cheio de compaixão do Senhor depois que Pedro O negou três vezes: um olhar que toca o coração e liberta as lágrimas do arrependimento (cf. Lc 22, 61-62). Então Simão Pedro foi liberto da prisão do seu eu orgulhoso, do seu eu medroso, e superou a tentação de se fechar à chamada de Jesus para O seguir no caminho da cruz.
Como já aludi, no contexto próximo da passagem lida dos Atos dos Apóstolos, há um detalhe que pode fazer-nos bem considerar (cf. 12, 12-17). Quando Pedro, miraculosamente liberto, se vê fora da prisão de Herodes, vai ter à casa da mãe de João chamado Marcos. Bate à porta e, de dentro, vem atender uma empregada chamada Rode, que, tendo reconhecido a voz de Pedro, em vez de abrir a porta, incrédula e conjuntamente cheia de alegria corre a informar a patroa. A narração, que pode parecer cômica – e pode ter dado início ao chamado «complexo de Rode» –, deixa intuir o clima de medo em que estava a comunidade cristã, fechada em casa e fechada também às surpresas de Deus. Pedro bate à porta. – «Vai ver quem é!» Há alegria, há medo… «Abrimos ou não?» Entretanto ele corre perigo, porque a polícia pode prendê-lo. Mas o medo paralisa-nos, sempre nos paralisa; fecha-nos, fecha-nos às surpresas de Deus. Este detalhe fala-nos duma tentação que sempre existe na Igreja: a tentação de fechar-se em si mesma, à vista dos perigos. Mas mesmo aqui há uma brecha por onde pode passar a ação de Deus: Lucas diz que, naquela casa, «numerosos fiéis estavam reunidos a orar» (v. 12). A oração permite que a graça abra uma via de saída: do fechamento à abertura, do medo à coragem, da tristeza à alegria. E podemos acrescentar: da divisão à unidade. Sim, dígamo-lo hoje com confiança, juntamente com os nossos irmãos da Delegação enviada pelo amado Patriarca Ecumênico Bartolomeu para participar na festa dos Santos Padroeiros de Roma. Uma festa de comunhão para toda a Igreja, como põe em evidência também a presença dos Arcebispos Metropolitas que vieram para a bênção dos Pálios, que lhes serão impostos pelos meus Representantes nas respetivas Sedes.
Os Santos Pedro e Paulo intercedam por nós para podermos realizar com alegria este caminho, experimentar a ação libertadora de Deus e a todos dar testemunho dela.
Fonte: Zenit.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

XIV Domingo do Tempo Comum

Textos: Is 66, 10-14c; Gal 6, 14-18; Lc 10, 1-12.17-20
Ideia principal: Retrato do missionário cristão.
Síntese da mensagem: Cristo no evangelho de hoje dá umas pistas concretas a estes 72 discípulos para a sua missão evangelizadora. São pistas que parecem calcadas das bem-aventuranças: humildade, espírito de pobreza, atitude de paz, aceitação das perseguições. Estas mesmas pistas valem para todos os missionários de ontem, de hoje e de sempre.
Pontos da ideia principal:
Em primeiro lugaro que deve levar o missionário cristão? O essencial. Cristo não se conforma com os doze apóstolos. Agora elege e envia outros setenta e dois, de dois em dois, para preparar-lhe o caminho. E hoje Cristo continua chamando muitos cristãos, sucessores desses 72- sacerdotes, missionários, religiosos, pais, educadores, cristãos comprometidos, testemunhas de Cristo no meio do mundo, leigos que participam nos vários conselhos e equipes paroquiais ou diocesanos. Quer que colaboremos na obra da evangelização da sociedade, pois a messe é grande e a secularização se estende por todos os lugares, semeando a cultura e a globalização da indiferença e do descarto. Levar o que? O essencial. Os apóstolos não tinham cofres para economizar nem cartão de crédito para pôr e tirar dinheiro. Levar o que então? Uns joelhos para rezar e pedir ao dono da messe que mande mais operários para a sua messe. Uns pés ágeis para percorrer todas as periferias dos povos e das cidades. Uma boca para anunciar a mensagem com decisão, entusiasmo, convicção, respeito e amor, sem medo nem covardias. Um coração pleno de fervor e amor por Jesus e pelo seu Reino. O resto- dinheiro, comida, sandálias… compete à conta da Providência divina. Cristo quer os seus missionários pobres, de vida sóbria, manter-nos livres de interesses e de posses e assim estar mais disponíveis para a tarefa fundamental: anunciar o seu Reino. Este é o sentido dos votos religiosos de pobreza, castidade e obediência dos religiosos. Os missionários de Cristo devem se sentir peregrinos, não instalados comodamente em posições conquistadas. O que levou São Francisco Xavier quando foi às Índias? O que levaram os primeiros missionários que foram à Nova Espanha nas caravelas de Colón? O que levou São Francisco de Assis? O que trouxeram a estas terras de Santa Cruz (Brasil) as freiras e os religiosos que vieram da Espanha, da Itália, da Alemanha, de Portugal?
Em segundo lugaro que deve anunciar o missionário cristão? Primeiro, desejar a paz. E depois anunciar esta mensagem: “está próximo o Reino de Deus”. Os conquistadores quando chegam a um lugar não levam a paz, mas a ânsia de conquista, inclusive com a espada, se for necessário. Os mensageiros do evangelho, pelo contrário, levam a paz. Por isso carecem de meios violentos. A paz significa satisfação das aspirações mais profundas dos homens. Cristo, graças ao seu mistério pascal, fez-nos partícipes da sua paz: paz com Deus, a paz com as consciências e a paz entre as pessoas. Deus quer que todos os seus filhos vivam na paz, na alegria e no amor. Deus está cheio de ternura e nos convida à exultação, ao gozo, pois a palavra Shalom não significa só ausência de conflitos, mas também abundancia, consolo, carícia e prosperidade (1 leitura). Paulo deseja sempre “graça” e “paz” no início das suas cartas. As duas vão juntas. A “graça” é o amor gratuito de Deus, que se nos deu por meio de Jesus Cristo e nos traz a “paz”. Primeiro a paz com Deus e, em seguida, a paz no nosso interior, na nossa consciência, e a paz com todos os homens, que, sendo filhos de Deus, têm direito ao nosso amor. E o Reino que devemos anunciar é o reino de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo: reino de verdade e de vida, reino de santidade e de graça, reino de justiça, de amor e de paz, de proximidade e de ternura.      
Finalmentecomo deve reagir o missionário cristão diante dos contratempos? É verdade que nalgumas partes seremos bem recebidos: pessoas que nos escutarão de bom grado, que abrirão o coração à mensagem, que nos hospedarão nas suas casas, que nos ajudarão, que nos apoiarão e animarão. Muitas vezes também teremos êxitos e triunfaremos dos poderes do mal. Mas também haverá lobos: materialismo sem alma, indiferença, relativismo, hedonismo que cultua o corpo, secularismo sem espírito, agnosticismo, ateísmo sem Deus. Portas que se fecham na nossa cara. Haverá dias que sentiremos o desânimo, o cansaço, a chatice. Gente que nos criticará. Cultura e idioma novos e tão diferentes dos nossos. Fracassos. Cristo nos marcará com os seus estigmas, como fez com Paulo de Tarso (2 leitura). Cristo não nos promete que sempre seremos acolhidos e que será fácil o nosso testemunho de vida cristã. O que fazer? Tanto a uns como a outros temos que anunciar essa mensagem: “de todos modos, sabei que está próximo o Reino de Deus”. E sempre com mansidão e misericórdia, não com violência. Se nos rejeitarem, não teríamos que tentar fazer justiça com as nossas próprias mãos, condenando à direita ou à esquerda, como queriam fazer esses apóstolos pedindo que caísse fogo do céu como castigo sobre os que não os receberam (domingo passado). Semear, semear, semear. Que o Espírito Santo faça o resto.    
Para refletir: Estou preparado para ser missionário de Cristo? O que levo na mochila do meu coração: outro e prata, ou o amor a Cristo e a ânsia de estender o seu Reino por todas partes? Desanimo-me rápido diante das dificuldades da evangelização? Ou pelo contrário, cresço e confio na força do Espírito Santo, como os primeiros apóstolos, que pregavam com ousadia e valentia?
Para rezar: rezemos com a oração dos Claretianos:
Fazei, Senhor, que os Missionários
Filhos do Imaculado Coração de Maria
Sejamos homens que ardamos em caridade
 E que abrasemos por onde passarmos.
Que desejemos eficazmente e procuremos por todos os meios possíveis
Acender no mundo inteiro o fogo do divino amor.
Que nada nem ninguém nos intimide.
Que saibamos estar gozosos nas privações,
Enfrentar os trabalhos, abraçar os sacrifícios,
Comprazer-nos nas calúnias que nos levantem,
Alegrar-nos nos tormentos e dores que sofrermos
E gloriar-nos na cruz de Jesus Cristo.
Que não pensemos senão em como seguir
E imitar mais de perto a Jesus Cristo
Em orar, trabalhar e sofrer
E procurar sempre e unicamente a maior glória de Deus
E a salvação das almas.
Amém. 
Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
 Fonte: Zenit.

terça-feira, 28 de junho de 2016

Luteranos italianos: “Acolhemos as palavras do Papa com alegria e fraternidade”

O decano Heiner Bludau saúda com apreço as declarações de Francisco, segundo a qual “as intenções de Lutero não eram erradas”

“Alegria e fraternidade são os sentimentos com que acolhemos as palavras do Papa, que confirmam o valor do diálogo ecumênico entre a Igreja Luterana e a Igreja Católica Romana. Esperamos que este diálogo cresça sempre mais a nível mundial e aqui na Itália”, declarou Heiner Bludau, decano da Comunidade Luterana italiana.
As palavras do decano referem-se ao que o Papa falou durante a coletiva de imprensa de ontem, durante a viagem de regresso da Armênia. Ao jornalista que lhe perguntava se, na véspera do 500º aniversário da Reforma Protestante, não fosse hora de retirar a excomunhão de Lutero, o Pontífice respondeu: “Creio que as intenções de Lutero não eram erradas, era um reformador, talvez alguns métodos não estavam bem, mas naquele tempo […] a Igreja não era precisamente um modelo a se imitar: havia corrupção, mundanismo, apego ao dinheiro e ao poder”.
Bludau, em seguida, recordou a visita do Santo Padre à Christuskirche luterana de Roma, que teve lugar em novembro passado, na qual repetiu o gesto de abertura já realizado pelos seus antecessores”, testemunhando “o valor da nossa relação ecumênica, da qual diálogo e oração são duas dimensões essenciais”.
Em conclusão, o decano expressou o desejo de que “esta relação seja posteriormente aprofundada em 2017 em vista do Jubileu da Reforma, a ser vivido juntos como uma verdadeira e própria festa de Cristo, na convicção de que os elementos em comum entre as nossas Igrejas sejam decididamente mais importantes do que as diferenças ainda existentes”.
Fonte: Zenit.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Papa Francisco: “Acredito que as intenções de Lutero não tenham sido erradas”

Voltando da Armênia o Papa Francisco, como de costume, deu uma coletiva de imprensa no avião. De forma espontânea o Pontífice abarcou diversos temas que, possivelmente, nessa noite estarão dando a volta ao mundo segundo as interpretações de cada mídia. Em resumo eis algumas passagens do Pontífice:
***
Ideias principais do papa sobre Brexit, uso da palavra ‘genocídio’, dois papas no vaticano e concílio Pan-ortodoxo
“O passo que a Ue deve dar para reencontrar a força das suas raízes é um passo de criatividade e também de sadia “desunião”, ou seja, dar mais independência e mais liberdade aos Países da União, pensar em outra forma de união. É preciso ser criativos na oferta de trabalho, na economia […] Há algo errado naquela União maciça, mas não joguemos fora a criança junto com a água suja e procuremos recriar. Criatividade e fecundidade são as duas palavras chaves para a União Europeia”.
O governo Turco ofendeu-se mais uma vez com a palavra que o Papa usou. Entre a explicação de Francisco ele disse que “Nunca falei a palavra ‘genocídio’ com tom ofensivo, mas objetivo”.
A respeito dos “dois papas” no Vaticano, disse: “Só há um Papa, o outro é emérito. Talvez no futuro possam ter dois ou três, mas são eméritos”.
Sobre o concílio Pan-Ortodoxo “As coisas que justificaram a falta de participação de algumas Igrejas (ao concílio Pan-Ortodoxo) são sinceras, sãos coisas que podem ser resolvidas […] No próximo terão mais”.
Sobre Lutero e a Reforma Protestantes
“Acredito que as intenções de Lutero não tenham sido erradas, era um reformador, talvez alguns métodos não foram corretos, mas naquele tempo, se lemos a história do Pastor – um alemão luterano que se converteu e se fez católico – vemos que a Igreja não era precisamente um modelo a imitar: havia corrupção, mundanismo, apego à riqueza e ao poder. E por isso ele protestou, era inteligente e deu um passo adiante justificando porquê o fazia. Hoje protestantes e católicos estamos de acordo na doutrina da justificação: neste ponto tão importante não havia errado. Ele fez um remédio para a Igreja, depois esse remédio se consolidou em um estado de coisas, em uma disciplina, em um modo de fazer, de crer, e depois estava Zwinglio, Calvino e detrás deles haviam os princípios, “cuius regio eius religio”. Temos que colocar-nos na história daquele tempo, não é fácil entender. Depois as coisas seguiram adiante, aquele documento sobre a justificação é um dos mais ricos. Existem divisões, mas dependem também das Igrejas. Em Buenos Aires haviam duas igrejas luteranas e pensavam de forma diferente, também na Igreja luterana não existe unidade. A diversidade é o que talvez nos fez tanto mal a todos e hoje procuramos o caminho para encontrar-nos depois de 500 anos. Eu acho que o primeiro que devemos fazer é rezar juntos. Depois devemos trabalhar pelos pobres, os refugiados, tantas pessoas sofrendo, e, por fim, que os teólogos estudem juntos procurando… Este é um caminho longo. Certa vez disse brincando: eu sei quando será o dia da unidade plena, o dia depois da vinda do Senhor. Não sabemos quando o Espírito Santo fará esta graça. Mas, enquanto isso, devemos trabalhar juntos pela paz”.
Sobre os gays e cultura cristã
“Eu repito o Catecismo: estas pessoas não devem ser discriminadas, devem ser respeitadas e acompanhadas pastoralmente. Pode-se condenar, não por motivos ideológicos, mas por motivos de comportamento político, certas manifestações muito ofensivas para os demais. Mas estas coisas não têm nada a ver, o problema é uma pessoa que tem aquela condição, que tem boa vontade e que procura a Deus. Quem somos nós para julgar? Devemos acompanhar bem, segundo o que diz o Catecismo. Depois existem tradições em alguns Países e culturas que têm uma mentalidade diferente sobre este problema. Eu creio que Igreja, ou melhor, os cristãos, porque a Igreja é santa, não só devem pedir desculpa como disse aquele cardeal “marxista” (refere-se ao Cardeal Marx, nde)… mas devem pedir desculpa também aos pobres, às mulheres e às crianças abusadas, devem pedir desculpa por ter abençoado tantas armas, por não terem acompanhado tantas famílias. Eu me lembro, de criança, daquela cultura católica fechada de Buenos Aires: não se podia entrar em casa de divorciados. Estou falando de oitenta anos atrás. A cultura mudou e graças a Deus, como cristãos, devemos pedir tantas desculpas, não só sobre isso: perdão Senhor, é uma palavra que esquecemos. O sacerdote “patrão” e não o sacerdote pai, o sacerdote que bate e não o sacerdote que abraça e perdoa… mas existem tantos santos sacerdotes capelães nos hospitais e nas prisões, mas estes não são vistos, porque a santidade tem pudor. Pelo contrário a falta de pudor é indiscreta e se mostra. Tantas organizações, com pessoas boas e pessoas não tão boas. Nós cristãos temos também muitas Teresas de Calcutá… Não devemos escandalizar-nos, esta é a vida da Igreja. Todos nós somos santos porque temos o Espírito Santo, mas somos todos pecadores, eu em primeiro lugar”.
Diaconisas e falsas notícias
Sobre a questão das diaconisas o Papa afirmou ter ficado bravo quando abriu os jornais e viu escrito “A Igreja abre às diaconisas”. “Me senti um pouco bravo – afirmou – porque isso não é dizer a verdade das coisas” […] Um ano e meio atrás fiz uma comissão de mulheres teólogas que trabalharam com o cardeal Rylko, e fizeram um bom trabalho […] “Para mim a função da mulher não é tão importante quanto o seu pensamento, que pensa de forma diferente do homem e não é possível tomar uma boa decisão sem consultar mulheres, como eu fazia em Buenos Aires”.
Fonte: Zenit.

domingo, 26 de junho de 2016

Papa: “só a caridade é capaz de sanar a memória e curar as feridas do passado”



O Papa Francisco concluiu a segunda jornada da sua viagem à Armênia com um encontro ecumênico e oração e pela paz na praça da República da capital, Ereván. No encontro em que o Santo Padre pediu que se retome o caminho de reconciliação entre o povo armênio e o povo turco, e que a paz brote também no Nagorno Karabaj, região de conflito com Azerbaidjão.
Abaixo o discurso completo do Santo Padre:
***
Venerado e caríssimo Irmão, Patriarca Supremo e Catholicos de Todos os Arménios,
Senhor Presidente,
Queridos irmãos e irmãs!
A bênção e a paz de Deus estejam com todos vós!
Desejei ardentemente visitar esta amada terra, o vosso país, o primeiro que abraçou a fé cristã. É uma graça para mim poder encontrar-me nestas alturas, onde, sob a vista do Monte Ararat, o próprio silêncio parece falar-nos; onde os khatchkar – as cruzes de pedra – narram uma história única, permeada de fé rochosa e de sofrimento imenso; uma história rica de magníficas testemunhas do Evangelho, de quem vós sois os herdeiros. Vim peregrino de Roma para vos encontrar e exprimir um sentimento que me vem do fundo do coração: é o afeto do vosso irmão, é o abraço fraterno da Igreja Católica inteira, que vos ama e está solidária convosco.
Nos anos passados, graças a Deus, foram-se intensificando as visitas e os encontros entre as nossas Igrejas, sempre muito cordiais e frequentemente memoráveis; quis a Providência que, precisamente no dia em que aqui se recordam os santos Apóstolos de Cristo, estejamos de novo juntos para reforçar a comunhão apostólica entre nós. Estou muito grato a Deus pela «real e íntima unidade» entre as nossas Igrejas [cf. João Paulo II,Homilia na Celebração Ecuménica, Ierevan, 26 de setembro de 2001:Insegnamenti, XXIV/2 (2001), 466) e agradeço-vos pela vossa fidelidade ao Evangelho, muitas vezes heroica, que é um dom inestimável para todos os cristãos. Ao encontrarmo-nos, não temos uma troca de ideias, mas uma troca de dons (cf. Idem, Carta enc. Ut unum sint, 28): recolhemos aquilo que o Espírito semeou em nós, como um dom para cada um (cf. Francisco, Exort. ap.Evangelii gaudium, 246). Partilhamos com grande alegria os numerosos passos dum caminho comum já muito adiantado, e olhamos verdadeiramente com confiança para o dia em que, com a ajuda de Deus, estaremos unidos junto do altar do sacrifício de Cristo, na plenitude da comunhão eucarística. Rumo a esta meta tão desejada «somos peregrinos, e peregrinamos juntos (…) abrindo o coração ao companheiro de estrada sem medos, nem desconfianças» (ibid., 244).
Neste trajeto, precedem-nos e acompanham-nos muitas testemunhas, nomeadamente tantos mártires que selaram com o sangue a fé comum em Cristo: são as nossas estrelas no céu, que brilham sobre nós e indicam o caminho que nos falta percorrer na terra, rumo à plena comunhão. Dentre os grandes Padres, gostaria de referir o santo Catholicos Nerses Shnorhali. Nutria um amor grande e extraordinário pelo seu povo e as suas tradições e, ao mesmo tempo, sentia-se inclinado para as outras Igrejas, incansável na busca da unidade, desejoso de atuar a vontade de Cristo: que os crentes «sejam um só» (Jo 17, 21). Realmente a unidade não é uma espécie de vantagem estratégica que se deve procurar por interesse mútuo, mas aquilo que Jesus nos pede, sendo nossa obrigação cumpri-lo com boa vontade e todas as nossas forças para se realizar a nossa missão: oferecer ao mundo, com coerência, o Evangelho.
Para realizar a unidade necessária, não basta, segundo São Nerses, a boa vontade de alguém na Igreja: é indispensável a oração de todos. É bom estar aqui reunidos para rezarmos uns pelos outros, uns com os outros. E o que vim pedir-vos nesta tarde é, antes de tudo, o dom da oração. Pela minha parte, asseguro-vos que, ao oferecer o Pão e o Cálice no altar, não deixo de apresentar ao Senhor a Igreja da Arménia e o vosso querido povo.
São Nerses sentia a necessidade de aumentar o amor mútuo, porque só a caridade é capaz de sanar a memória e curar as feridas do passado: só o amor cancela os preconceitos e permite reconhecer que a abertura ao irmão purifica e melhora as convicções próprias. Para este santo Catholicos, no caminho rumo à unidade, é essencial imitar o estilo do amor de Cristo, que, «sendo rico» (2 Cor 8, 9), «humilhou-Se a Si próprio» (Flp 2, 8). Seguindo o seu exemplo, somos chamados a ter a coragem de deixar as convicções rígidas e os interesses próprios, em nome do amor que se humilha e entrega, em nome do amor humilde: este é o óleo abençoado da vida cristã, o unguento espiritual precioso que cura, fortalece e santifica. «Às faltas, suprimos com uma caridade unânime», escrevia São Nerses (Cartas do senhor Nerses Shnorhali, Catholicos dos Arménios, Veneza 1873, 316), e mesmo – dava a entender – com uma particular doçura de amor, que abranda a dureza dos corações dos cristãos, também eles não raro fechados sobre si mesmos e os seus próprios interesses. Não são os cálculos nem as vantagens mas o amor humilde e generoso que atrai a misericórdia do Pai, a bênção de Cristo e a abundância do Espírito Santo. Rezando e «amando-nos intensamente uns aos outros do fundo do coração» (cf. 1 Ped 1, 22), com humildade e abertura de espírito, disponhamo-nos a receber o dom divino da unidade. Continuemos, decididos, o nosso caminho, ou melhor, corramos para a plena comunhão entre nós!
«Dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo que Eu vo-la dou» (Jo 14, 27). Ouvimos estas palavras do Evangelho, que nos predispõem a implorar de Deus aquela paz que o mundo sente tanta dificuldade em encontrar. Como são grandes, hoje, os obstáculos no caminho da paz, e trágicas as consequências das guerras! Penso nas populações forçadas a abandonar tudo, especialmente no Médio Oriente onde muitos dos nossos irmãos e irmãs sofrem violências e perseguição por causa do ódio e de conflitos sempre fomentados pelo flagelo da proliferação e do comércio de armas, pela tentação de recorrer à força e pela falta de respeito pela pessoa humana, especialmente os vulneráveis, os pobres e aqueles que pedem apenas uma vida digna.
Não consigo deixar de pensar nas provações terríveis que o vosso povo experimentou: completou-se há pouco um século do «Grande Mal» que se abateu sobre vós. Este «enorme e louco extermínio» (Francisco, Saudação no início da Santa Missa para os fiéis de rito arménio, 12 de abril de 2015), este trágico mistério de iniquidade que o vosso povo provou na própria carne, permanece impresso na memória e queima no coração. Quero reiterar que os vossos sofrimentos são nossos: «são os sofrimentos dos membros do Corpo místico de Cristo» (João Paulo II, Carta Apostólica por ocasião do 1700° aniversário do Batismo do povo arménio, 4: Insegnamenti, XXIV/1 (2001), 275); recordá-los é não só oportuno, mas também forçoso: são uma advertência em todo o tempo, para que o mundo não volte jamais a cair na espiral de tais horrores.
Ao mesmo tempo desejo lembrar, com admiração, como a fé cristã, «também nos momentos mais trágicos da história arménia, foi a mola propulsora que assinalou o início do renascimento do povo provado» (ibid., 276). A fé é a vossa verdadeira força, que permite abrir-se à via misteriosa e salvífica da Páscoa: as feridas ainda abertas, causadas pelo ódio feroz e insensato, podem de algum modo assemelhar-se às de Cristo ressuscitado, as feridas que Lhe foram infligidas e que traz ainda impressas na sua carne. Mostrou-as, gloriosas, aos discípulos na tarde de Páscoa (cf. Jo 20, 20): aquelas chagas terrivelmente dolorosas recebidas na cruz, transfiguradas pelo amor, tornaram-se fontes de perdão e paz. Assim, mesmo a dor maior, transformada pela força salvífica da Cruz de que os Arménios são arautos e testemunhas, pode tornar-se uma semente da paz para o futuro.
Realmente a memória, permeada pelo amor, torna-se capaz de encaminhar-se por sendas novas e surpreendentes, onde as tramas de ódio se transformam em projetos de reconciliação, onde se pode esperar num futuro melhor para todos, onde são «felizes os obreiros da paz» (Mt 5, 9). Fará bem a todos comprometer-se por colocar as bases dum futuro que não se deixe absorver pela força ilusória da vingança; um futuro, onde nunca nos cansemos de criar as condições para a paz: um trabalho digno para todos, a solicitude pelos mais necessitados e a luta sem tréguas contra a corrupção que deve ser extirpada.
Queridos jovens, este futuro pertence-vos, mas valorizando a grande sabedoria dos vossos idosos. Aspirai a tornar-vos construtores de paz: não notários do status quo, mas ativos promotores duma cultura do encontro e da reconciliação. Deus abençoe o vosso futuro e «conceda que se retome o caminho de reconciliação entre o povo armênio e o povo turco, e possa a paz surgir também no Nagorno Karabakh» (Mensagem aos Arménios, 12 de abril de 2015).
Nesta perspetiva, gostaria enfim de evocar outra grande testemunha e artífice da paz de Cristo, São Gregório de Narek, que proclamei Doutor da Igreja. E poderia ser chamado também «Doutor da paz». Assim escrevia ele naquele Livro extraordinário, que me apraz pensar como a «constituição espiritual do povo armênio»: «Recordai-Vos [Senhor] daqueles que, na estirpe humana, são nossos inimigos, mas para seu bem: cumpri neles perdão e misericórdia. (…) Não extermineis aqueles que me mordem: transformai-os! Extirpai a conduta terrena viciosa, e enraizai a boa em mim e neles» (Livro das Lamentações, 83, 1-2). Narek, «fazendo-se participante profundamente consciente de cada necessidade» (ibid., 3, 2), quis mesmo identificar-se com os vulneráveis e os pecadores de todo o tempo e lugar, para interceder em favor de todos (cf. ibid., 31, 3; 32, 1; 47, 2): fez-se «o “oferece-oração” de todo o mundo» (ibid., 28, 2). Esta sua solidariedade universal com a humanidade é uma grande mensagem cristã de paz, um grito ardente que implora misericórdia para todos. Os armênios, presentes em muitos países e que daqui desejo abraçar fraternalmente, sejam mensageiros deste anseio de comunhão. O mundo inteiro precisa deste vosso anúncio, precisa desta vossa presença, precisa do vosso testemunho mais puro. A paz esteja convosco!
Fonte: Zenit.

sábado, 25 de junho de 2016

Papa: “Para a Armênia, a fé em Cristo foi um elemento constitutivo da sua identidade, um dom de enorme valor defendido à custa da própria vida”

Francisco já está na Armênia, em sua 14ª Viagem Apostólica. Na Catedral Apostólica, da capital do país, Yerevan, o pontífice proferiu umas palavras:
“Atravessei, comovido, o limiar deste lugar sagrado, testemunha da história do seu povo, centro irradiador de espiritualidade; considero uma graça de Deus poder me aproximar do santo altar, de onde refulgiu a luz de Cristo na Armênia. Agradeço o grato convite para visitá-los e à Sua Santidade – disse Francisco referindo ao Patriarca Karekin – por ter-me acolhido em sua casa. Este sinal de amor expressa, mais que as palavras, o profundo significado de amizade e caridade fraterna”.
O Papa recordou que “a luz da fé confere à Armênia a sua identidade peculiar de mensageira de Cristo entre as Nações”, que a acompanhou e amparou, sobretudo nos momentos de maior provação:
“Inclino-me diante da misericórdia do Senhor, que quis que a Armênia se tornasse a primeira nação, desde o ano 301, a acolher o cristianismo como sua religião, em uma época em que ainda enfuriavam as perseguições. Para a Armênia, a fé em Cristo foi um elemento constitutivo da sua identidade, um dom de enorme valor defendido à custa da própria vida”.
“Que o Espírito Santo nos ajude a realizar a unidade desejada por nosso Senhor, que pediu para que todos os seus discípulos sejam uma só coisa e o mundo creia. Apraz-me lembrar aqui o impulso decisivo dado à intensificação das relações e ao fortalecimento do diálogo entre as nossas duas Igrejas nos últimos tempos por Vasken I e Karekin I, e por São João Paulo II e Bento XVI”.
A seguir, Francisco afirmou que o nosso mundo – marcado por divisões e conflitos, bem como por graves formas de pobreza material e espiritual, incluindo a exploração das pessoas, crianças e idosos, – espera dos cristãos um testemunho de estima mútua e colaboração fraterna, que faça resplandecer diante de cada consciência o poder e a verdade da Ressurreição de Cristo. E acrescentou:
“O esforço paciente e renovado rumo à plena unidade, a intensificação das iniciativas comuns e a colaboração entre todos os discípulos do Senhor, tendo em vista o bem comum, representam uma luz e um apelo para viver, na caridade e na compreensão mútua, as nossas diferenças. O espírito ecumênico adquire valor exemplar e constitui um forte convite a compor as divergências através do diálogo e da valorização do que nos une”.
O Bispo de Roma concluiu seu pronunciamento ressaltando que “quando a nossa atividade é inspirada e movida pela força do amor de Cristo, crescem o conhecimento e a estima recíprocas, criam-se melhores condições para um caminho ecumênico frutuoso e, ao mesmo tempo, mostra a toda a sociedade um caminho concreto, que pode ser percorrido para harmonizar os conflitos que dilaceram a vida civil e causam divisões”. (Com informações Rádio Vaticano)
Abaixo discurso completo do Papa:
***
Venerado Irmão, Patriarca Supremo e Católicos de Todos os Armênios,
Queridos irmãos e irmãs em Cristo!
Atravessei, comovido, o limiar deste lugar sagrado, testemunha da história do vosso povo, centro irradiador da sua espiritualidade; e considero um dom precioso de Deus poder-me aproximar do santo altar donde refulgiu a luz de Cristo na Armênia. Saúdo o Católicos de Todos os Armênios, Sua Santidade Karekin II, a quem agradeço cordialmente o grato convite para visitar a Santa Etchmiadzin, os Arcebispos e Bispos da Igreja Apostólica Armênia, reconhecido pela recepção cordial e jubilosa que todos vós me proporcionastes. Obrigado, Santidade, por me ter acolhido na sua casa; este sinal de amor exprime, de maneira muito mais eloquente que as palavras, o que significam a amizade e a caridade fraterna.
Nesta ocasião solene, dou graças ao Senhor pela luz da fé acesa na vossa terra, fé que conferiu à Armênia a sua identidade peculiar e a tornou mensageira de Cristo entre as nações. Cristo é a vossa glória, a vossa luz, o sol que vos iluminou e deu uma nova vida, que vos acompanhou e amparou, especialmente nos momentos de maior provação. Curvo-me diante da misericórdia do Senhor, que quis que a Arménia se tornasse a primeira nação, desde o ano de 301, a acolher o cristianismo como sua religião, numa época em que grassavam ainda as perseguições no Império Romano.
Para a Armênia, a fé em Cristo não foi uma espécie de vestido que se põe ou tira segundo as circunstâncias e conveniências, mas um elemento constitutivo da sua própria identidade, um dom de enorme valor que se há de acolher com alegria e guardar com empenho e fortaleza, à custa da própria vida. Como escreveu São João Paulo II, «com o “Batismo” da comunidade armênia, (…) nasce uma identidade nova do povo, que se tornará parte constitutiva e inseparável do próprio ser armênio. Desde então já não foi mais possível pensar que, entre os componentes dessa identidade, não esteja a fé em Cristo como elemento essencial» (Carta Apostólica no 1700º aniversário do Batismo do Povo Armênio, 2 de fevereiro de 2001, 2). Queira o Senhor abençoar-vos por este luminoso testemunho de fé, que demonstra de maneira exemplar, com o sinal eloquente e sagrado do martírio, a poderosa eficácia e fecundidade do Batismo recebido há mais de mil e setecentos anos, que se manteve um elemento constante da história do vosso povo.
Agradeço ao Senhor também pelo caminho que a Igreja Católica e a Igreja Apostólica Armênia realizaram, através dum diálogo sincero e fraterno, para chegar à plena partilha da Mesa Eucarística. Que o Espírito Santo nos ajude a realizar a unidade pela qual rezou nosso Senhor, pedindo que todos os seus discípulos sejam um só e o mundo creia. Apraz-me lembrar aqui o impulso decisivo dado à intensificação das relações e ao fortalecimento do diálogo entre as nossas duas Igrejas nos últimos tempos por Suas Santidades Vasken I e Karekin I, por São João Paulo II e por Bento XVI. Dentre as etapas particularmente significativas deste empenho ecumênico, lembro a comemoração das Testemunhas da fé do século XX, no contexto do Grande Jubileu do ano 2000; a entrega a Vossa Santidade da relíquia do Pai da Armênia cristã, São Gregório o Iluminador, para a nova catedral de Ierevan; a Declaração conjunta de Sua Santidade João Paulo II e de Vossa Santidade, assinada aqui mesmo na Santa Etchmiadzin; e as visitas que Vossa Santidade fez ao Vaticano por ocasião de importantes acontecimentos e comemorações.
O mundo está, infelizmente, marcado por divisões e conflitos, bem como por graves formas de pobreza material e espiritual, incluindo a exploração das pessoas, mesmo de crianças e idosos, e espera dos cristãos um testemunho de estima mútua e colaboração fraterna, que faça resplandecer diante de cada consciência o poder e a verdade da Ressurreição de Cristo. O esforço paciente e renovado rumo à unidade plena, a intensificação das iniciativas comuns e a colaboração entre todos os discípulos do Senhor tendo em vista o bem comum são como que uma luz refulgente na noite escura e um apelo a viver, na caridade e compreensão mútua, as próprias diferenças. O espírito ecuménico adquire valor exemplar mesmo fora das fronteiras visíveis da comunidade eclesial, constituindo para todos uma forte chamada a compor as divergências através do diálogo e valorização de tudo aquilo que une. Além disso impede a instrumentalização e manipulação da fé, porque obriga a redescobrir as suas raízes genuínas, a comunicar, defender e difundir a verdade no respeito pela dignidade de cada ser humano e segundo modalidades em que transpareça a presença daquele amor e daquela salvação que se quer espalhar. Deste modo, oferece-se ao mundo – extremamente necessitado – um testemunho convincente de que Cristo está vivo e ativo, capaz de abrir caminhos de reconciliação sempre novos entre as nações, as civilizações e as religiões. Atesta-se e torna-se credível que Deus é amor e misericórdia.
Queridos irmãos, quando a nossa atividade é inspirada e movida pela força do amor de Cristo, crescem o conhecimento e a estima recíprocas, criam-se melhores condições para um caminho ecumênico frutuoso e, ao mesmo tempo, mostra-se a todas as pessoas de boa vontade e à sociedade inteira um caminho concreto que se pode percorrer para harmonizar os conflitos que dilaceram a vida civil e cavam divisões difíceis de curar. Deus Todo-Poderoso, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, por intercessão de Maria Santíssima, de São Gregório o Iluminador, «coluna de luz da Santa Igreja dos Armênios», e de São Gregório de Narek, Doutor da Igreja, abençoe a vós todos e à Nação Armênia inteira e a guarde sempre na fé que recebeu dos pais e testemunhou gloriosamente no decurso dos séculos.
Fonte: Zenit.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

“A paz é uma condição para a segurança alimentar”, disse diretor da FAO

“Fundamentalmente  eu fiz ao Papa uma ‘prestação de contas’ dos trabalhos conjuntos que a FAO tem feito com a Santa Sé. Basicamente dois grandes tópicos: a relação entre paz e migração, e a segurança alimentar”, disse à Rádio Vaticano o Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), José Graziano da Silva, que hoje pela manhã foi recebido pelo Papa Francisco.
Segundo Graziano a situação dos países pobres “Só começa a melhorar quando se consegue a paz. De modo que a paz é uma condição para a segurança alimentar mas também a segurança alimentar é uma condição para manter a paz”.
O diretor da FAO apresentou ao Papa umas propostas sobre o tema da migração no Mediterrâneo. “Eu fui propor ao Papa uma iniciativa junto com outras agências da ONU, de construir um tipo de borda no litoral do Mediterrâneo, de pontos de apoio para estes jovens que querem migrar”, explicou à Rádio Vaticano.
Referindo-se à América Latina, Graziano disse que “O Papa manifestou uma preocupação especial com a crise que enfrenta a América Latina. Não é só o Brasil. O Brasil talvez seja a cara mais visível desta crise. Mas, em geral, um retrocesso na América Latina. O esgotamento do ciclo das commodities primarias da exportação levou a uma crise generalizada na região”.
“Isso – na visão da FAO e do Papa – em grande parte, também se deve a uma visão dos governos que vão ganhando as eleições na América Latina de que não é mais necessário manter estes programas”.
Fonte: Zenit.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Papa Francisco diz que Bento XVI é “Um Mestre de fé”

Um homem “de paz”, um homem de Deus, um homem “que realmente crê” e “realmente reza”, que “encarna a santidade” e que é “mestre” da “teologia de joelho”.
Esses são alguns dos traços da imensa figura de Joseph Ratzinger, o Papa Emérito Bento XVI, destacados não por um teólogo, nem um vaticanista, nem um escritor ou um fiel observador do magistério ratzingeriano, mas traçados pelo seu sucessor Francisco que assinou o prefácio do livro “Insegnare e imparare l’amore di Dio” (Ensinar e aprender o amor de Deus).
Editado só em italiano ainda, pela editora Cantagalli é o primeiro de uma antologia de textos do Papa bávaro sobre sacerdócio que recolhe 43 homilias desde 1954.
Fonte: Zenit.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Armênia, primeiro país da história que se reconheceu cristão, se prepara para receber o Papa

Trata-se da 14ª viagem viagem internacional do Papa e o país de número 22 que visita

A Armênia se prepara para receber no próximo fim de semana, do 24 ao 26 de junho, a visita do Papa Francisco. Este país se considera o “primeiro país cristão” já que no ano 301, graças a São Gregório, o Iluminador, foi o primeiro a tornar o cristianismo religião oficial. Nesta sexta-feira começa, portanto, a 14ª viagem internacional do pontificado de Francisco, e o país de número 22 que visita.
Esta viagem também é considerada a primeira etapa da ‘viagem ao Cáucaso’, cuja segunda parte será do dia 30 de setembro ao 2 de outubro, na Georgia e Azerbaijão. Umas das razões pelas quais a visita aos três países não se pode realizar numa só etapa – explicou o pe. Federico Lombardi, diretor da sala de imprensa da Santa Sé – é porque nestes dias o patriarca de Georgia tinha um compromisso já marcado: estar em Creta no Concílio Pan-ortodoxo.
Na apresentação da viagem aos meios de comunicação, acontecida na manhã de hoje na Sala de Imprensa da Santa Sé, o porta-voz do Vaticano esclareceu que o Santo Padre quer “visitar a comunidade católica” deste país e manifestar “a todo o povo armênio a sua proximidade, amizade e apoio”.
Para ambientar esta viagem dentro um marco é interessante destacar o encontro do Papa Francisco no ano passado no Vaticano por ocasião do centenário do genocídio armênio e da missa na qual nomeou doutor da Igreja a São Gregório de Narek. Também é importante estudar as declarações conjuntas que já existem desde Paulo VI.
Armênia conta com uma população de 2.914.000 habitantes, dos quais 280 são católicos, ou seja, 9,6% da população. Há uma circunscrição eclesiástica e 20 paróquias. Atualmente há 3 bispos, 27 sacerdotes, 2 religiosos e 20  religiosas. Os seminaristas são 69. A Igreja conta com 1 centro de educação católica. Com relação aos centros de caridade e sociais de propriedade da Igreja ou que são dirigidos por eclesiásticos ou religiosos, na Armênia há um hospital, 20 ambulatórios, 5 lares para anciãos, inválidos ou deficientes e 3 instituições de outro tipo.
Fonte: Zenit.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Papa Francisco: “É feio julgar. O juízo é só de Deus, somente d’Ele”

‘Todos nós queremos que no Dia do Juízo, o Senhor nos olhe com benevolência, que se esqueça das coisas feias que fizemos na vida’, disse o Papa Francisco na homilia de hoje, pronunciada na capela da casa Santa Marta, no Vaticano.
Por isso, ‘se você julga continuamente os outros – advertiu – será julgado com a mesma medida’. “O Senhor – prosseguiu – nos pede para nos olharmos no espelho”:
“Olha no espelho… mas não para se maquiar, para que não se vejam suas rugas. Não, não, não é este o conselho… Olha no espelho para ver você mesmo, como é. ‘Por que olha o cisco que está no olho do seu irmão e não percebe a trave que está no seu? Como você pode dizer a seu irmão ‘Deixa eu tirar o cisco do seu olho, enquanto não presta atenção na trave que está no seu olho?’. E como nos define o Senhor, quando fazemos isso? Com uma só palavra: ‘Hipócrita’. Tira primeira a trave do seu olho, e só então, poderá ver direito e tirar o cisco do olho do seu irmão”.
O Senhor, disse o Papa, podemos notar que “fica um pouco com raiva aqui”, nos chama de hipócritas quando nos colocamos no lugar de Deus”. Isto, acrescentou, é o que a serpente persuadiu a fazer Adão e Eva: “Se vocês comerem isso, vocês serão como Ele”. Eles, disse o Papa, “queriam tomar o lugar de Deus”:
“Por isso é feio julgar. O juízo é só de Deus, somente d’Ele! A nós o amor, a compreensão, rezar pelos outros quando vemos coisas que não são boas, mas também falar com eles: ‘Mas, olha, eu vejo isso, talvez …’ Mas jamais julgar. Nunca. E isso é hipocrisia, se nós julgamos”.
Quando julgamos, continuou, “nós nos colocamos no lugar de Deus”, mas “o nosso julgamento é um julgamento pobre”, nunca “pode ser um verdadeiro julgamento”. “E por que – pergunta-se o Papa – o nosso não pode ser como o de Deus? Por que Deus é Todo-Poderoso e nós não?” Não, é a resposta de Francisco, “porque em nosso julgamento falta a misericórdia. E quando Deus julga, julga com misericórdia”:
“Pensemos hoje no que o Senhor nos diz: não julgar, para não ser julgado; a medida, o modo, a medida com a qual julgamos será a mesma que usarão para conosco; e, em terceiro lugar, vamos nos olhar no espelho antes de julgar. ‘Mas aquele faz isso… isto faz o outro…’ ‘Mas, espere um pouco… ‘, eu me olho no espelho e depois penso. Pelo contrário, eu vou ser um hipócrita, porque eu me coloco no lugar de Deus e, também, o meu julgamento é um julgamento pobre; carece-lhe algo tão importante que tem o julgamento de Deus, falta a misericórdia. Que o Senhor nos faça entender bem essas coisas”.
Fonte: Zenit.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Papa Francisco: “O mundo precisa muito de Cristo, de sua salvação, de seu amor misericordioso”

“O Evangelho deste domingo nos convida mais uma vez a nos colocar face a face com Jesus” – disse o Papa Francisco antes da oração do Angelus neste domingo, na praça de São Pedro -. “Um dos raros momentos tranquilos, em que se encontra sozinho com os seus discípulos, Ele lhes pergunta: «Que sou eu, no dizer das multidões?» E eles respondem: ‘João Batista; outros dizem Elias; outros, porém, um dos antigos profetas que ressuscitou’.”
“As pessoas estimavam Jesus e o consideravam um grande profeta, mas ainda não estavam conscientes de sua identidade verdadeira, ou seja, que Ele fosse o Messias, o Filho de Deus enviado pelo Pai para a salvação de todos”, frisou o Pontífice.
“Jesus, então, fala diretamente aos Apóstolos, porque é isso que lhe interessa mais, e pergunta: ‘E vocês, quem dizem que eu sou?’ Imediatamente, em nome de todos, Pedro respondeu: ‘O Cristo de Deus’, ou seja, o Messias, o Consagrado de Deus, enviado por Ele para salvar o seu povo, segundo a Aliança e a promessa.”
“Jesus percebe que os Doze, em particular Pedro, receberam do Pai o dom da fé; e por isso começa a falar com eles abertamente, assim diz o Evangelho, abertamente sobre o que acontecerá em Jerusalém: ‘O Filho do Homem, disse, deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e escribas, ser morto e ressuscitar no terceiro dia’”.
“Aquelas perguntas são repropostas hoje a cada um de nós”, disse o Papa.
“Quem é Jesus para as pessoas do nosso tempo? Mas a outra é mais importante: Quem é Jesus para cada um de nós? Somos chamados a fazer da resposta de Pedro a nossa resposta, professando com alegria que Jesus é o Filho de Deus, a Palavra eterna do Pai que se fez homem para redimir a humanidade, derramando sobre ela a misericórdia divina em abundância. O mundo precisa muito de Cristo, de sua salvação, de seu amor misericordioso. Muitas pessoas sentem um vazio em torno de si e dentro de si; talvez, algumas vezes, nós também; outras vivem inquietas e na insegurança por causa da precariedade e dos conflitos. Todos precisamos de respostas adequadas às nossas profundas perguntas concretas.”
“Em Cristo, somente Nele”, sublinhou Francisco, “é possível encontrar a paz verdadeira e o cumprimento de toda aspiração humana. Jesus conhece muito bem o coração do ser humano. Por isso, Ele pode curá-lo, doar-lhe vida e consolo”.
Depois de concluir o diálogo com os Apóstolos, Jesus se dirige a todos dizendo: ‘Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me’.
“Não se trata de uma cruz ornamental, ou uma cruz ideológica, mas é a cruz da vida, é a cruz do próprio dever, a cruz do sacrificar-se pelos outros com amor, pelos pais, pelos filhos, pela família, pelos amigos, e também pelos inimigos, a cruz da disponibilidade de ser solidários com os pobres, de se comprometer com a justiça e a paz. Ao assumir estes comportamentos, estas cruzes, sempre se perde alguma coisa. Nunca devemos nos esquecer que ‘quem perderá a sua vida por Cristo, a salvará’. É um perder, para ganhar.”
O Papa convidou a recordar “os nossos irmãos que ainda hoje colocam em prática estas palavras de Jesus, oferecendo o seu tempo, o seu trabalho, o seu esforço e até mesmo a própria vida para não renegar a sua fé em Cristo”.
“Jesus, mediante o seu Santo Espírito, nos dá a força para ir adiante no caminho da fé e do testemunho: realizar aquilo em que acreditamos; não dizer uma coisa e fazer outra. Neste caminho sempre está conosco e nos precede Nossa Senhora. Deixemos que ela pegue a nossa mão, quando atravessamos os momentos mais sombrios e difíceis”, concluiu o Papa.
 (Com informações Rádio Vaticano)

domingo, 19 de junho de 2016

Esquerdistas espanhóis querem censurar e prender um cardeal


A plataforma CitizenGo lança campanha internacional de coleta de assinatura em defesa do prelado espanhol
No dia 13 de maio, o Cardeal Cañizares, arcebispo de Valencia (Espanha), pronunciou uma homilia na qual disse o seguinte:
“Aí temos legislações contrárias à família, bem como a ação de forças políticas e sociais, às quais se somam movimentos e ações doimpério gay, de ideologias como o feminismo radical ou a mais insidiosa de todas, a ideologia de gênero. Essa situação é tão grave e tem consequências tão graves para o futuro da sociedade, que hoje, sem dúvida, é possível considerar a estabilidade do matrimônio e da família – bem como seu apoio e reconhecimento público – como o primeiro problema social e de atenção aos mais débeis e às periferias existenciais.”
Posteriormente, no dia 29, citando Bento XVI, fez um apelo para que as pessoas não se submetessem a uma ideologia anti-humana, “a última rebelião do homem contra Deus”:
“(…) a ideologia mais insidiosa e destrutiva da história, a ideologia de gênero, que os poderes globalistas querem impor por meio de legislações iníquas, que não devem ser obedecidas.
Pediu que os legisladores que trabalham para avançar essas causas sejam evitados, mas ao mesmo tempo reconheceu “a legítima autonomia da esfera temporal”:
Não podemos nos submeter a uma mentalidade inspirada no laicismo, tampouco na ideologia de gênero (…) Ambas as ideologias levam gradualmente, de forma mais ou menos consciente porém certeira, à restrição da liberdade religiosa.
Por causa dessas palavras, os esquerdistas deram início a uma campanha de perseguição ao cardeal. A reputação e a integridade física do cardeal estão em risco. Se a esquerdaradical conseguir o que deseja, a saber, censurar o líder religioso, o episódio poderá se repetir em outros países.
Assine a campanha para enviar uma mensagem ao prefeito de Valencia e aos líderes dos diversos grupos políticos que estão atacando o cardeal.
Aqueles que tanto falam em tolerância e respeito agora querem criminalizar as palavras do cardeal.  É importante ressaltar que a ideologia de gênero não possui nenhuma confirmação científica. As divisões conceituais de orientação sexual, gênero, etc., que muitas vezes circulam pelas redes sociais, são meros artifícios retóricos que não têm nenhum correspondente na realidade. Além disso, os pressupostos da ideologia de gênero têm origem em uma corrente filosófica autocontraditória, que nega existência das essências ao mesmo tempo que reivindica para si uma determinada essência.
Se o cardeal for condenado pela corte local, poderá ser punido com até três anos de prisão, simplesmente por ter apontado corretamente a falsidade de uma ideologia que é apresentada como teoria e denunciado a incoerência de seus proponentes!
Ao assinar a campanha, você enviará um e-mail diretamente ao prefeito de Valencia, Joan Ribó, e aos porta-vozes dos diversos grupos políticos que estão atacando o cardeal.
(Fonte: CitizenGo) - Fonte: Zenit.

sábado, 18 de junho de 2016

Papa Francisco: “A porta de entrada da Igreja é o batismo e não a ordenação sacerdotal ou episcopal”


Discurso do Papa Francisco aos 85 participantes na Assembleia do Pontifício Conselho para os Leigos, no Vaticano
“O Pontifício Conselho para os Leigos nasceu por expressa vontade do Concílio Vaticano II” recordou o Santo Padre Francisco, hoje, em seu discurso aos 85 participantes na Assembleia do Pontifício Conselho para os Leigos, no Vaticano. Trata-se “de um dos melhores frutos do Concílio Vaticano II”.
“Podemos dizer – disse Francisco – que o mandamento que recebestes do Concílio foi precisamente o de “motivar” os fieis leigos a envolver-se sempre mais e melhor na missão evangelizadora da Igreja, não por “delegação” da hierarquia, mas porque o seu apostolado “é participação à missão salvífica da Igreja, à qual são todos membros do Senhor por meio do batismo e da crisma”.
Nesse contexto, a porta de entrada da Igreja é o batismo. “E esta é a porta de entrada! À Igreja se entra pelo Batismo, não pela ordenação sacerdotal ou episcopal, se entra pelo Batismo! E todos entramos por meio da mesma porta. É o Batismo que faz de cada fiel leigo um discípulo missionário do Senhor, sal da terra, luz do mundo, fermento que transforma a realidade a partir de dentro”, afirmou.
Agradecendo por estes anos, em concreto, o Santo Padre mencionou o surgimento dos movimentos, dos novos ministério laicos, bem como o crescente papel da mulher na Igreja ou as Jornadas Mundiais da Juventude.
Referindo-se à atual junção do Dicastério, o Papa disse que “À luz deste caminho percorrido, é tempo de olhar novamente com esperança para o futuro. Falta muito ainda por percorrer aumentando os horizontes e reunindo os novos desafios que a realidade nos apresenta. Daqui nasce o projeto de reforma da Cúria, especialmente da junção do vosso Dicastério com o Pontifício Conselho para a Família em conexão com a Academia pela Vida”.
Portanto, o pontífice convidou todos a “acolher esta reforma, que vos corresponde, como sinal de valorização e de estima pelo trabalho que vocês realizam e como sinal de renovada confiança na vocação e missão dos leigos na Igreja de hoje”.
Por conseguinte, Francisco explicou que o “novo Dicastério que vai nascer terá como “timão” para continuar na sua navegação, por um lado a Christifideles laici e por outro aEvangelii gaudium e a Amoris laetitia, tendo como campos privilegiados de trabalho a família e a defesa da vida”.
Finalmente, o Santo Padre sublinhou que “necessitamos de leigos bem formados”, “que não tenham medo a errar, que sigam adiante”. Necessitamos leigos – disse – com visão de futuro, não fechados nas misérias da vida.
Fonte: Zenit.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

O Papa Francisco ofereceu chaves de leitura para a sua exortação apostólica Amoris Laetitia

No Congresso Eclesial da Diocese de Roma o Santo Padre dá as chaves de leitura para a compreensão de sua exortação apostólica Amoris Laetitia

O Papa Francisco ofereceu uma profunda reflexão e chaves de leitura para a sua exortação apostólica Amoris Laetitia, recentemente publicada. O Santo Padre aproveitou a abertura do Congresso Eclesial da Diocese de Roma, na Basílica de São João de Latrão, que este ano aborda precisamente tal documento pontifício para recuperar algumas “ideias/tensões –chaves, surgidas durante o caminho sinodal” que podem ajudar a compreender melhor o espírito que se reflete na exortação.
E para fazê-lo utilizou três imagens bíblicas das quais tirou três conclusões: a vida de cada pessoa, a vida de cada família deve ser tratada com muito respeito e cuidado, especialmente quando refletimos sobre essas coisas; ter cuidado para não fazer uma pastoral de guetos e para guetos; dar espaço aos anciãos para que voltem a sonhar.
“Tire as sandálias, pois o chão que está pisando é uma terra santa.” Esta foi a primeira imagem usada pelo Papa em seu discurso. A este respeito destacou que o terreno que tinha que atravessar, os temas a serem enfrentados no Sínodo, “precisavam de uma atitude determinada”. Tínhamos na frente uma – esclareceu – os rostos concretos de muitas famílias. “Este dar rosto aos temas exigia e exige um clima de respeito capaz de ajudar-nos e escutar aquilo que Deus nos está dizendo dentro das nossas situações”, explicou o Papa.
Um respeito “carregado de preocupações e perguntas honestas que olhavam para o cuidado das vidas que somos chamados a pastorear”. O dar rosto aos temas, assegurou o Santo Padre, ajuda a “não ter pressa para obter conclusões bem formuladas, mas muitas vezes sem vida” e ajuda “para não falar em abstracto”. Porque muitas vezes nos tornamos ‘pelagianos’, disse.
Também afirmou que as famílias “não são um problema, mas uma oportunidade que Deus nos coloca à frente”. Oportunidade que “nos desafia a suscitar uma criatividade missionária capaz de abraçar todas as situações concretas” e não só nas nossas paróquias, mas saindo a busca-las. Outro desafio ao que fez referência é o do “não dar nada nem ninguém por perdido, mas buscar, renovar a esperança de saber que Deus continua atuando dentro das nossas famílias”, “não abandonar ninguém porque não está à altura do que lhe foi pedido”. Refletir sobre a vida das nossas famílias – insistiu Francisco – assim como são e assim como estão, nos pede para tirar as sandálias para descobrir a presença de Deus.
A segunda imagem é a do fariseu quando ora dizendo: “Meu Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, ladrões, injustos e adúlteros; nem sequer como esse publicano”. A este respeito, o Pontífice advertiu que uma das tentações às quais estamos expostos continuamente é ter uma “lógica separatista”, especialmente os que vivem em uma situação diferente. O Papa garantiu que não podemos analisar, refletir e rezar sobre a realidade “como se estivéssemos em lados ou caminhos diferentes, como se estivéssemos fora da história”. Todos – sublinhou – necessitamos de conversão.
Também indicou que o acento colocado na misericórdia “nos coloca diante da realidade de forma realista, mas não com um realismo qualquer, mas com o realismo de Deus”. As análises são importantes e necessárias, mas “nada se pode comparar com o realismo evangélico, que não para diante das descrições das situações, das problemáticas – menos ainda diante do pecado – mas vai sempre além e consegue ver detrás de cada rosto, de cada história, de cada situação, uma oportunidade, uma possibilidade”. O Papa garantiu que isso não significa não ser claros na doutrina, mas “evitar cair em julgamentos e atitudes que não assumem a complexidade da vida”.
O realismo evangélico – disse – suja as mãos porque sabe que “grão e ervas daninhas” crescem juntos, e o melhor grão, nesta vida, estará sempre misturado com um pouco de ervas daninhas.
Recordou um capitel medieval em uma Igreja na França no começo do caminho a Santiago, no qual está Judas que se enforca e do outro lado Jesus que o carrega. E voltando à imagem bíblica do fariseu destacou o perigo do Graças te dou porque sou da Ação Católica, da Cáritas, etc. e não como os destes bairros que são delinquentes… “isso não ajuda à pastoral”, disse o Papa.
Finalmente, a terceira imagem evocada pelo Papa é “seus anciãos terão sonhos proféticos” do livro de Joel. Com esta imagem o Santo Padre quis sublinhar a importância que os Padre sinodais deram ao valor do testemunho como lugar em que se pode encontrar o sonho de Deus e a vida dos homens.
Os sonhos dos anciãos vão junto com “as visões dos jovens”. Por isso, o Pontífice disse que é bonito encontrar matrimônios, casais, que sendo maiores continuam se procurando, se olhando, se querendo e se escolhendo. “É muito bonito encontrar ‘avós’ que mostram nos seus rostos enrugados pelo tempo a alegria que nasce do ter feito uma escolha de amor e pelo amor”, sublinhou. E a contradição daquele que casa e pensa: ‘não me preocupo, em dois ou três anos volto à casa da minha mãe”.
Nesta linha advertiu que como sociedade “privamos da sua voz os anciãos, e isso é um pecado social de agora. Privamos eles do seu espaço”. E descartando-os, “descartamos a possibilidade de tomar contato com o segredo que lhes permitiu seguir em frente”. Esta falta de modelos – observou Francisco – não permite às jovens gerações ter visões.
“Nós precisamos dos sonhos dos avós”, disse. E acrescentou que não por acaso quando Jesus é levado ao templo foi recebido por dois avós que contaram o seu sonho. “Este é o momento dos avós… que sonhem e os jovens aprendam a profetizar estes sonhos”.
Em conclusão, o Santo Padre convidou a desenvolver uma pastoral familiar capaz de receber, acompanhar, discernir e integrar. Uma pastoral – disse – quer permita e faça possível o andaime adequado para que a vida confiada a nós encontre o apoio de quem tem necessidade para desenvolver-se segundo o sonho de Deus.
Fonte: Zenit.